Crónicas do Meu Outro Eu | Uma prenda de casamento bem erótica (parte 1)

Fiz um sorriso rasgado. Nessa manhã tinha saído muito cedo e não o acordara, pois ele estivera a trabalhar até de madrugada. Era o dia de aniversário do nosso casamento.

Crónicas do Meu Outro Eu | Uma prenda de casamento bem erótica (parte 1)

O telefone do escritório tocou e, maquinalmente, atendi a chamada.
– Boa tarde! Fala Ana Paula, do Departamento de Relações Públicas!
– Olá…
Reconheci de imediato a voz do Jorge do outro lado da linha.
– Olá! Então tudo bem?
– Sim! Olha, a que horas sais?
– Às cinco, porquê?
– Porque vamos comemorar o dia!
Fiz um sorriso rasgado. Nessa manhã tinha saído muito cedo e não o acordara, pois ele estivera a trabalhar até de madrugada. Era o dia de aniversário do nosso casamento e, como ele não me ligara durante a manhã, tinha assumido que se esquecera da data, como faz uma parte significativa dos homens. Mas afinal…
– Hummm… pensei que não te lembravas!
– Achas? Ia lá esquecer-me da data em que te devorei pela primeira vez na qualidade de minha esposa!
Abafei uma gargalhada, mas não de forma totalmente eficaz. O meu colega de gabinete levantou os olhos e mirou-me. Tinha um grande à-vontade com ele e deitei-lhe a língua de fora.
– Então e qual o plano das comemorações?
– Bom, isso vai ser surpresa! Mas tens umas instruções para cumprires, ok?
Senti um arrepio percorrer-me o corpo. De vez em quando o Jorge fazia-me umas surpresas altamente excitantes e comecei a tentar imaginar o que iria acontecer…
– Que instruções tenho de cumprir?
O meu parceiro de gabinete levantou de novo o olhar e recostou-se na cadeira. Estava decidido a acompanhar a conversa que lhe parecia ser muito interessante.
– Nada de especial. Quando saíres passas por casa. Tens em cima da cama a roupa que vais vestir. Só podes vestir o que estiver em cima da cama, nada mais…
– Bom, não te posso fazer muitas perguntas porque tenho aqui o Gonçalo de ouvido atento a ver se percebe o que se passa!
Gonçalo riu-se e o Jorge, que o conhecia das vezes em que me ia buscar ao trabalho, respondeu:
– Manda-lhe um abraço meu!
– O Jorge está a mandar-te um abraço!
– Obrigado igualmente! Essa vossa conversa está a ser curiosa. Vais ter de me explicar depois o que se passa!
Voltei a deitar-lhe a língua de fora e concentrei-me nas instruções do Jorge.
– Depois, vais de carro até à morada que te vou dar. É um restaurante japonês simpático. Vamos jantar lá!
– Hummm… estou a gostar. E depois?
– Depois? Mas achas que há mais? Vamos jantar e comemorar o nosso aniversário… não chega?
Instintivamente, tive a sensação de que ele me estava a esconder alguma coisa.
– Se é só um jantar, porque é que tenho de ir vestida exclusivamente com a roupa que me deixaste no quarto?
Gonçalo colocou os cotovelos em cima da secretária e apoiou o rosto nas mãos, mirando-me com um ar divertido e curioso.
– Para já só tens de fazer isto que te estou a pedir. Encontramo-nos no restaurante às oito, pode ser?
– Pode… embora eu ache que me estás a esconder alguma coisa!
– Isso são fantasias tuas! Vemo-nos às oito então. Bom resto de dia de trabalho!
– Ok! Beijo!
– Beijo!
Desliguei o telefone e olhei para o Gonçalo.
– Vamos ter festa hoje à noite, pelo que ouvi!
– Faço anos de casada!
– Ena! Muitos parabéns! Posso dar um beijo à felizarda.
Sem esperar que eu respondesse, levantou-se e veio ter comigo. Inclinou-se e beijou-me no rosto. O seu olhar resvalou para o meu decote. Ele adorava flirtar-me e eu adorava que ele me flirtasse. Já nos conhecíamos há vários anos e havia um clima de cumplicidade entre os dois. Nunca tinha acontecido nada, mas eu gostava de lhe fazer pequenas provocações e ele adorava ser provocado por mim.
Quando saí da empresa, os meus níveis de curiosidade estavam lá bem em cima. Guiei o meu Fiat Punto preto pelo caos da cidade e, mal entrei em casa, dirigi-me ao quarto. Em cima da cama estava a roupa indicada pelo Jorge. Todas as peças eram de cor preta: uma mini saia justa e uma blusa com botões à frente. Ao lado, umas meias com umas ligas, um soutien semitransparente e um casaco comprido, para além de uma caixa com uns sapatos de salto alto. Faltava ali uma peça – pensei – e procurei-a por baixo da roupa colocada em cima da colcha. Não havia nenhuma cueca e, como era óbvio, não tinha sido por esquecimento! O Jorge tinha sido bem claro ao telefone: “Só podes vestir o que está em cima da cama, nada mais…”.
Despi-me e fui tomar um duche. Deixei-me ficar debaixo da água quente tentando imaginar o que me esperava nessa noite. Sabia que o Jorge tinha uma enorme capacidade de me surpreender e a ausência da cuequinha tinha desencadeado um leve formigueiro entre as minhas coxas.
Saí do duche e enrolei-me na toalha macia. Dirigi-me de novo para o quarto. Sequei-me e vesti a roupa. Olhei-me ao espelho e a imagem que me foi apresentada agradou-me bastante. As meias tinham um padrão suave que me realçava as pernas, e os sapatos de salto alto potenciavam a carga sensual que a mini saia provocava. Teria de ter cuidado ao sentar-me, pois sem nada por baixo da curta saia, qualquer movimento mais impulsivo poderia revelar mais do que seria suposto.
Agarrei no casaco comprido e vesti-o. Apertei-o e voltei a mirar-me no espelho. A peça servia como muro protetor de olhares alheios e desvanecia as emanações provocadoras do conjunto agora escondido. O som do smartphone indicando a chegada de uma nova mensagem, despertou-me deste momento narcisista. O Jorge acabava de me mandar a morada do restaurante, situado na periferia de Lisboa.
Cheguei ao local cinco minutos antes da hora marcada. Elee já lá estava, junto à porta, e sorriu-me. Beijámo-nos e aproveitei para uma breve visita da minha língua à sua boca. Estava a sentir-me excitada com tudo aquilo e na expetativa do que poderia acontecer, pois não acreditava que fosse “apenas” um jantar.
Entrámos e fui conduzida para uma zona da sala mais ou menos reservada. Situava-se num dos cantos e, como tinha um pilar por perto, ficava encoberta de grande parte das outras mesas. Se ninguém se sentasse na mesa mais próxima, estaríamos à vontade… e eu deixaria de ter tantas preocupações com a minha mini saia sem nada por baixo.
– Dá-me o teu casaco! – pediu ele.
Desapertei-o e despi-o. Os olhos dele brilharam ao ver-me com a roupa selecionada.
– Fica-te bem o conjunto!… Potencia a tua sensualidade!
– Obrigado! Tenho de concordar que tiveste bom gosto!
Preparei-me para me sentar, mas ele interrompeu o meu gesto.
– Não!… não te sentes aí, senta-te deste lado!
Olhei-o, sem perceber o motivo do pedido. Mas ele sorriu-me e estendeu a mão. Agarrei-a e fui sentar-me onde ele pedira. Definitivamente, havia qualquer coisa no ar.
– Tens fome? – perguntou enquanto se sentava à minha frente.
– Tenho!
– Ótimo! Já encomendei o jantar. Sushi parece-te bem?
– Claro que sim! Excelente escolha!
Os olhos dele fixaram os meus.
– Estás deslumbrante… só há um pequeno detalhe… tens de desapertar mais dois botões da blusa. Quero ver esse decote a revelar o teu peito… e podias desapertar já, pois o empregado deve estar a chegar com a nossa comida.
Senti a mão dele por baixo da mesa acariciar-me o joelho, provocando como que uma descarga elétrica na perna.
– Queres que eu provoque o empregado?
– Sim…
A blusa já tinha dois botões desapertados, desapertei mais um e hesitei. O decote já estava generoso, se desapertasse outro, parte do meu soutien ficaria claramente visível. Acabei por aceder ao pedido dele, e o meu colo revelou-se de forma pouco discreta. Menos de um minuto depois surgiu o empregado com uma travessa colorida de sushi apetitoso. O olhar dele tentou não se fixar no que o meu decote revelava, mas a tarefa tornava-se difícil. Fingi que não percebia e olhei para o Jorge, que mantinha um ar impassível.
Quando o empregado se afastou, abafei um sorriso.
– Que esforço que ele fez para não te comer toda com os olhos! – disse ele divertido.
– Pois, eu reparei!
Percebi que o empregado se aproximava, com um jarro de sangria.
– Aqui está, sangria de espumante e frutos silvestres!
– Obrigado! – disse-lhe com um sorriso. Ele devolveu na mesma moeda e olhou-me, sendo incapaz de evitar que o olhar resvalasse para os meus seios. Inclinei-me ligeiramente para a frente revelando um pouco mais e houve uns segundos de impasse. Objetivamente, o empregado não tinha mais nada para fazer ali, mas a vontade de se afastar era nula. Era ainda novo, pouco mais de vinte anos de certeza, rosto bonito e corpo elegante. Acabou finalmente por nos desejar um bom jantar e afastou-se.
– Foste mazinha!
– Eu? Porquê?
– Bem vim que te inclinaste para que essas mamocas ficassem mais expostas! O tipo estava quase a babar-se…
– Não gostaste?
Ele sorriu e não respondeu. Encheu os dois copos com sangria e propôs-me um brinde ao nosso casamento.
Sorvi um golo da bebida fresca. Mal tínhamos começado a comer percebi que um vulto se aproximava. Levantei os olhos e vi um homem que se sentou na mesa em frente, a única com vista privilegiada sobre a nossa. Instintivamente, apertei as coxas. Ele sentara-se na cadeira que ficava diretamente virada para o local onde eu estava, o que significava que tinha uma vista desimpedida de qualquer obstáculo em relação a mim. As mesas tinham umas toalhas curtas, que não tapavam as pernas, e a minissaia mal me cobria as coxas. Iria ser difícil não revelar mais do que o devido durante toda a refeição.
O Jorge percebeu que eu me contraía.
– O que se passa? Está tudo bem?
– Sim… é só que se sentou na mesa ali ao lado um tipo…
Ele olhou de relance na direção da mesa e, fazendo um ar inocente, perguntou:
– E qual o problema?
– Não te faças de desentendido… com esta minissaia e sem cuecas, ele tem uma vista muito entusiasmante! Do sítio em que está vê tudo!
De repente, passou-me uma ideia pela cabeça e abri os olhos sustendo uma exclamação.
– Tu fizeste de propósito! Por isso é que querias que me sentasse deste lado da mesa!
– Achas? Ia lá eu adivinhar que um tipo qualquer se ia sentar exatamente naquele lugar!
– Pois, mas preparaste o cenário para o caso de alguém se sentar! Lançaste o isco à espera de apanhar o peixe!
O sorriso dele não me deixou dúvidas. Ele tinha pensado em tudo e tivera a sorte de as coisas correrem como tinha planeado!
– Bom… vou confessar que ao ver a disposição das mesas achei que o lugar em que estás podia alegrar a noite de alguém que se sentasse ali. Como é que é o nosso vizinho de restaurante? Só vi o vulto quando olhei e não quero dar nas vistas.
Olhei de forma o mais discreta possível para a zona agora ocupada. Aparentemente, o recém-chegado ainda não tinha percebido como eu estava vestida… e olhava para a lista de pratos de forma concentrada.
– É de raça negra, deve andar nos trintas… corpo atlético…
Jorge escolheu um pedaço de sushi e meteu-o na boca. Mastigou lentamente e bebeu um golo de sangria.
– Achas que é interessante?
– Sei lá… acho que sim, fisicamente parece ser interessante! Porquê?
– Se achares que vale a pena podes provocá-lo! Basta abrires um pouco as pernas…
– Tu é que estás a provocar-me a mim!
– Eu sei… e sei que tu não resistes a uma boa provocação, pois não?
Olhei de novo para o homem. Desta vez ele encarou o meu olhar e sorriu. Obviamente que a sua atenção já fora captada pelo meu decote e pelas minhas pernas desnudadas. Desviei o olhar e comecei a comer.
– Então? Ele já reparou em ti?
– Sim…
-E agora? Vais oferecer-lhe um prato extra?… Sabes que os olhos também comem.

Ana Paula Jorge | Crónicas do Meu Outro Eu

Ana Paula Jorge | Escritora erótica ([email protected])
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