Keep Calm porque a decisão é de Santana Lopes
Não me parece que Santana Lopes corra por correr tal como afirmou há quatro anos numa entrevista. Os próximos meses serão tempos de reflexão profunda.
Esta semana Pedro Santana Lopes tornou público que terminava a sua relação política com o PSD. Nos últimos dias vi, nas redes sociais e na imprensa, muitas reacções carregadas de injustiça e ingratidão. Também não é uma surpresa. Infelizmente a vida política é mesmo assim.
É bom não esquecer que Santana Lopes será sempre um militante de referência do PPD/PSD
Em momentos muito difíceis da vida do Partido deu a cara pelo PSD quando poucos estavam disponíveis. Os chamados barões e notáveis estavam – como sempre estão – apenas e só disponíveis para serem ministros ou para ocupar altos cargos públicos. Ontem como hoje nunca gostaram de sujar os sapatos de verniz.
Não existe futuro sem memória
E Para aqueles que tem memória curta – e são muitos em política – relembro que, em 1997, Pedro Santana Lopes disponibilizou-se para sair do conforto da sua casa em Lisboa para ser candidato à Figueira da Foz conquistando a autarquia que era um baluarte do Partido Socialista.
Em 2001 corajosamente foi à luta em Lisboa, contra João Soares e uma alargada frente de esquerda – uma geringonça à moda da capital – reconquistando ao fim de muitos anos a autarquia para o PSD.
Ambas as vitórias foram sobretudo de Santana Lopes. Nestas duas eleições ficou demonstrado que Santana valia muito mais votos que o PSD. Penso que sobre isto não restam dúvidas.
Foi nessa longa noite das eleições autárquicas de 2001 que António Guterres – depois do pântano – demitiu-se de chefe do governo abrindo caminho para eleição de Durão Barroso como Primeiro-Ministro.
Em 2004, na sequência da ida do antigo primeiro-ministro para a Comissão Europeia, assumiu, em condições muito difíceis, as funções de primeiro-ministro, que se vieram a comprovar posteriormente com a sua demissão inusitada pela parte de Jorge Sampaio.
“Fartei-me do Santana”. É assim que Jorge Sampaio é citado no segundo volume da sua biografia da autoria do jornalista José Pedro Castanheira
Mas o livro vai mais longe, muito mais longe e cita diversas pessoas próximas do antigo Presidente da República. Na altura parece que tudo o que rodeava Sampaio dava palpites sobre Santana.
Na sua quase totalidade não conheço as personagens, que julgo terem sido assessores de Sampaio, mas todos mais pareciam psicólogos do antigo Primeiro-Ministro.
Comecemos por um senhor de nome Carlos Gaspar que dizia que Santana era “muito irresponsável e instável”. Um outro chamado João Bonifácio dizia que o principal problema de Santana Lopes era “a sua personalidade e desequilíbrio”.
Nuno Brederode Santos dizia que o ex-Primeiro-Ministro era “errático, irresponsável e imoral com zero sentido de Estado”. Por sua vez um cavalheiro de sua graça Salgado de Matos afirmava que Santana “Ou ensandeceu ou quer eleições antecipadas”.
Esta história até militares meteu. Um senhor general de nome Faria Leal dizia que o antigo Primeiro-Ministro era “propenso a acidentes”.
Apenas podiam estar a falar de ouvido ou basear as suas opiniões em literatura cor de rosa. Depois deste chorrilho de apreciações fico com a ideia que não conheciam o antigo Chefe de Governo e que as suas opiniões apenas tinham por base uma leitura intensiva das chamadas revistas do “jet set”.
Habituei-me a ver Pedro Santana Lopes como um homem frontal que não teme enfrentar lobbies
Pode-se gostar ou não de Santana Lopes mas o ex-Primeiro-Ministro não é nada disto, muito pelo contrário. É um homem e um político genuíno e frontal, mas educado, responsável e honesto. Um homem culto, empreendedor, inteligente, um humanista com sentido de Estado.
Os últimos anos em que desempenhou as funções de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa têm provado isto mesmo. Foi nomeado pelo governo do PSD, mas viu a confiança renovada pelo governo socialista liderado por António Costa. Na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa fez um trabalho ímpar, sem paralelo na história, elogiado por todos, curiosamente até pelo próprio Jorge Sampaio.
Habituei-me a ver Pedro Santana Lopes como um homem frontal que não teme enfrentar lobbies. Um político à frente do seu tempo em que o tempo mostrou sempre ter razão antes do tempo. Infelizmente na política a coragem e a frontalidade pagam um preço muito elevado.
Mas regressando ao ano de 2004
Na altura pareceu-me que a fórmula de sucessão encontrada, entre Durão Barroso e Jorge Sampaio, era um presente envenenado para Santana. Na altura defendi que Santana Lopes não deveria ter sucedido daquela forma dinástica a Durão Barroso, mas sim ter ido a eleições para se legitimar com o voto dos portugueses.
Não tenho dúvidas que Santana Lopes também tinha preferido ir a eleições, mas em nome do interesse do País seguiu o caminho que tinha sido negociado por Barroso e Sampaio.Estou convicto que se tivesse ido a votos as coisas teriam sido muito diferentes.
Mas assim não foi. Agora isto pertence ao domínio da história que um dia contará com outra clarividência as muitas mentiras de que Pedro Santana Lopes foi alvo ao longo da sua vida nomeadamente durante a vigência do seu Governo.
Na biografia de Sampaio José Pedro Castanheira diz-nos que o antigo Presidente da República fartou-se do Primeiro-Ministro. Parece-me que se fartou rápido de mais. Um Primeiro-Ministro preciso de tempo para mostrar trabalho, mas Jorge Sampaio, os seus assessores e os seus amigos do Partido Socialista, tinham pressa em levar o PS novamente ao poder.
O antigo Presidente da República não resistiu em fazer-lhes a vontade. Talvez, ainda hoje, Jorge Sampaio teime em considerar que o seu camarada, José Sócrates, a quem escancarou as portas do Governo tenha feito muito melhor por Portugal.
Ai se fosse na vigência de um governo liderado por Santana Lopes que tivessem ocorrido as tragédias dos incêndios do último ano onde morreram mais de cem pessoas. Desculpem-me mas não sei mesmo se não o tinham queimado vivo.
Mas regressemos ao presente aproveitando para falar do futuro
Na entrevista à Visão Santana Lopes afirmou que terminava a sua relação com o PSD mas não foi claro em relação ao seu futuro político. Apenas disse que não desistia do seu País.
Na apresentação da sua última candidatura a líder do PSD disse que o seu objectivo era de “clarificar de vez o que o partido pensava e sentia”.
Neste seu discurso em que apresentou a candidatura contra Rio foi muito claro “Não cederemos nas questões essenciais que respeitam ao ser humano, à sua formação, à sua maturação, à sua dignidade” atacando o actual governo por “Qualquer dia, só para o PS continuar no poder e fazer acordos à esquerda, já não será aos 16 anos, mas quem sabe talvez aos 15, aos 14, que as crianças e os jovens poderão tomar decisões fundamentais, gravíssimas, sobre as suas vidas, sobre a integridade dos seus seres, prejudicando todos os princípios e valores em que acreditamos” sublinhando “Nós gostamos da sociedade em que nascemos e em que vivemos, somos insatisfeitos, queremos transformá-la, melhorando-a, mas não a queremos destruir.”
Na questão da eutanásia – mais uma cedência do PS ao Bloco de Esquerda – que foi chumbada recentemente na Assembleia da República não existem dúvidas que as posições de Rio e Santana estão nas antípodas.
Não sejamos hipócritas, o caminho que Rui Rio tem trilhado nestes poucos meses da sua liderança nada tem a ver com o que Santana defende para o PSD. Está é uma verdade inexorável.
Não me parece que Santana corra por correr tal como afirmou há quatro anos numa entrevista
Hoje não tenho dúvidas que perante o acantonamento à esquerda do PS e com as opções políticas tomadas pelo PSD de Rio e o CDS de Cristas existe um espaço político para a criação de um novo partido político ideologicamente próximo do que esteve na base da fundação do PPD de Francisco Sá Carneiro. Se é um novo partido liderado por Santana Lopes? Não sei. Estou convicto nem o próprio ex-Primeiro-Ministro terá uma decisão tomada.
Não me parece que Santana corra por correr tal como afirmou há quatro anos numa entrevista. Os próximos meses serão provavelmente tempos de uma reflexão profunda de Santana Lopes sobre o seu futuro politico mas sobretudo sobre o futuro do País.
Paulo Vieira da Silva
Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
LEIA MAIS: | Inteligência Artificial: Por que fogem os políticos desta nova realidade?
LEIA MAIS | Eutanásia: «Morte a pedido, não, ontem, hoje e sempre»
LEIA MAIS | Um novo Partido Político a partir de Belém
Siga a Impala no Instagram