“O mundo podia acabar hoje e era esta a música que me ia acompanhar no fim”. É o que digo sempre que ouço “Blood Bank” de Bon Iver. Não é segredo que Justin Vernon é um dos meus artistas preferidos dado a intensidade de sentimentos e emoções que me provoca.
são poucos os artistas que conseguem deixar um marco nas nossas vidas
Apesar da quantidade exagerada de conteúdos musicais que temos disponíveis nos dias que correm, são poucos os artistas que conseguem deixar um marco nas nossas vidas. Na maioria dos casos, as músicas que tocam nas rádios nacionais são produtos enlatados que servem para playlists repetitivas onde soa tudo ao mesmo.
Acredito que as músicas que mais nos marcam têm o dom de nos partir ao meio ou de nos reconstruir, fazendo com que as emoções se tornem mais palpáveis do que gestos ou palavras. Até porque nós temos tendência para criar “bandas sonoras” associadas a momentos importantes das nossas vidas. Quase todas as pessoas o fazem. Quem não se recorda daquela tarde de verão numa esplanada com amigos ao som daquela música upbeat? Ou da sensação de tristeza e mágoa quando a melodia que toca na rádio te relembra o fim de um namoro?
história de paixão envergonhada, de vontade, de um desejo que acaba por ser impossível
O cenário que criei para “Blood Bank” é a de um rapaz e uma rapariga a terem uma conversa, no meio da neve, enquanto se preparam para ir para algum lado. Uma história de paixão envergonhada, de vontade, de um desejo que acaba por ser impossível de alcançar.
Quando a canto, os versos tornam-se maiores que eles próprios. Dão-me a sensação que tudo o que começa tem um fim. E se isso não é a definição da própria vida então não sei o que será. Nascemos, vivemos e vamos acabar por morrer. O destino está traçado desde o início. O caminho que fazemos é o que nos define e distingue dos outros.
um dia serei velho e estarei de olhos fechados, a recordar uma vida repleta de pessoas
Um dia serei velho, sentado numa poltrona, a ouvir a música sozinho – como faço muitas vezes – e estarei no meu mundo, de olhos fechados, a recordar uma vida repleta de pessoas, acontecimentos, vivências, amores, desilusões e saberei que foi tudo perfeito no meio da tempestade de neve.
“And I know it well”, como diz o Justin.
Filipe Carvalho
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