O País da Chico-Espertice – A opinião de João Gonzalez
Era uma vez, e ainda é, um país de poetas, líricos e outra malta muito inteligente, como brilhantes cientistas, economistas, gestores e professores, que tal como os poetas e líricios não vivem, sobrevivem, limitam-se a existir num país que adula estrelas de tv, futebolistas, os bons, os maus e os péssimos, e os politiqueiros de duvidosa qualidade.
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Artigo de opinião de João Gonzale
Era uma vez, e ainda é, um país de poetas, líricos e outra malta muito inteligente, como brilhantes cientistas, economistas, gestores e professores, que tal como os poetas e líricios não vivem, sobrevivem, limitam-se a existir num país que adula estrelas de tv, futebolistas, os bons, os maus e os péssimos, e os politiqueiros de duvidosa qualidade.
Mas nesse país, de inigualável beleza natural e simpáticas gentes, habitam também os oportunistas (mais conhecidos por vigaristas), carteiristas populares (leia-se que vão à carteira do povo) e os Chicos-Espertos.
Presumo que os afamados sociólogos e antropólogos da nossa praça ainda não se tenham debruçado, suficientemente, muito sobre esta espécie, a que habita este país, e como a mesma construiu a sua organização social. Admitamos que é estranho o seu paradigma social. Reza a história que este país vive em democracia há quase 50 anos e que estiveram outros tantos sob o jugo da repressão e da pobreza extrema, mais tarde, aquando dos ventos democráticos, procuraram desenvolver um modelo social novo, moderno, europeu, enfim, justo e equilibrado.
Obviamente que muita coisa melhorou, diz-se que criaram um serviço de saúde para os cidadãos, segurança social para todos, abriram as portas aos curiosos do mundo para que conhecessem esse país de fantásticas praias, óptima comida e melhor vinho e que por lá gastassem as suas divisas, mas também se conta que se descuidaram com os próprios indígenas. A derivação originou numa sub-espécie que 50 anos depois abunda na sua sociedade: o Chico-Esperto.
A Chico-Espertice, designação do grupo social activo originadora da sub-espécie conhecida por Chico-Esperto, leva a que indivíduos e conjuntos organizados, outros nem tanto, pensem que são mais espertos do que outros, que acreditem ter mais astúcia para executar esta ou aquela tarefa, ter este ou aquele comportamento social ou que se julguem ser mais finos e engenhosos na realização de um negócio.
Para nosso enfado, e raiva até, os mecanismos de supervisão social e judicial nem sempre detecta todos os Chicos-Espertos. Usualmente, são os próprios cidadãos a sinalizá-los e isso em nada abona a paz social, o clássico movimento corporal de “chapadão no focinho” é expressão comummente utilizada aquando do frente-a-frente com um Chico-Esperto desmascarado.
Resumindo, o grande problema dessa nação de belas praias, entre outros desafios também preocupantes por si só, é o facto dessa sub-espécie abundar no comando de instituições de relevo na sociedade como bancos, clubes desportivos, organizações de cariz social e, principalmente, no próprio Estado. Porém, o mais irónico é que a idolatria pelos mesmos é imensa, diria até cega, o que os torna, aos Chicos, uns déspotas e líderes acéfalos que a tudo se auto-dispõem para concretizar a engorda do seu património, e de familiares e amigos.
Nesse país a subserviência à canalha é gritante e a fragilidade social uma evidência, será esse um modelo social de futuro, ou do próprio presente?
Serão 50 anos o suficiente para demonstrar que o leme pode ser entregue a outra sub-espécie ou esse enclave social só se resolve mesmo com meia-dúzia de “chapadões no focinho” a uns quantos Chicos-Espertos?!..
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