A música não nos deixa quebrar
Voltámos a sentir o medo. Mais uma vez, voltámos a ser atacados. Sem aviso e sem pudor, várias pessoas foram atropeladas e esfaqueadas nas ruas de Londres enquanto jantavam com a família, bebiam copos com os amigos ou passeavam com os que lhes são mais queridos.
De um momento para o outro, o que parecia ser uma noite divertida acabou por transformar-se num horror generalizado, banhado em sangue, em nome de algo que nunca iremos compreender. E não, não se trata de religião ou de política. É ódio.
Estes ataques espelham a intransigência de alguns que nos querem impor as suas regras retrógradas
Ódio pelo modo como vivemos. Como nos vestimos. Como falamos. Quem amamos. O que comemos. Como vivemos as nossas vidas.
Estes ataques espelham a intransigência de alguns que nos querem impor as suas regras retrógradas quando no fundo, bem lá no fundo, desejam ser tão livres como nós.
A vocês, seus merdas, digo-vos: boa sorte com essa batalha. Sei que vão continuar a atacar-nos onde dói. Nas nossas ruas e nos nossos restaurantes. Nos nossos concertos. Vão vir atrás dos nossos filhos como fizeram em Manchester. Mas não vamos mudar quem somos. Sim, vamos ter medo mas não, não vamos deixar de viver as nossas vidas por causa disso.
É verdade que não somos uma sociedade perfeita. Cometemos muitos erros, ainda estamos a aprender a lidar com tantas opiniões simultâneas, a respeitarmos uns aos outros, a aceitar as diferenças. Temos um longo caminho a percorrer, sim. Mas temos algo que vocês nunca irão ter.
Liberdade.
Liberdade de decidirmos o que queremos ser. De escolhermos os nossos caminhos. De vivermos de acordo com as nossas regras. De rirmos do que achamos que tem piada ou de chorarmos do que nos magoa. E essa liberdade é o espelho da nossa diferença e a razão pela qual iremos viver livres para sempre.
O concerto por Manchester de Ariana Grande foi a grande chapada de luva branca que vos demos. Milhares de pessoas juntas no mesmo espaço, de uma só voz, mostraram-vos que não vamos ser levados para o abismo assim tão facilmente. Podem magoar-nos mas a nossa resolução irá continuar firme. Sempre que for preciso vamos cantar de uma só voz e dizer-vos “Doeu mas se quiserem resolvemos isto calmamente”. Foi um grande momento em que a música serviu para expressar o que muitos de nós não conseguiram dizer pelas suas próprias palavras. É para isso que a música serve, não é? Expressar sentimentos.
Luto internamente para não vos responder da mesma moeda. É difícil
Da minha parte, luto internamente para não vos responder da mesma moeda. É difícil.
Mas no domingo nem sequer pensei nisso. Estive ocupado com algo melhor. Música com um propósito. É essa a liberdade que eu tenho na minha vida.
Não ficar preso ao ódio quando tenho algo melhor onde me agarrar.
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