“Happiness” é o oposto daquilo que o nome projecta. O antagonismo. A contradição. A não conformidade.

Nove minutos de uma beleza triste, sonhadora e impactante onde nada parece coincidir com o que é suposto ser. Quase como se fosse a tradução musical do que é a vida.

Happiness. São praticamente nove minutos de uma beleza triste, sonhadora e impactante onde nada parece coincidir com o que é suposto ser. Quase como se fosse a tradução musical do que é a vida: um período de tempo, condicionado, no qual as coisas mudam constantemente, o que nos obriga a criar defesas, estratégias para lidar com as centenas de emoções e sentimentos que nos assolam.

Esta é uma música instrumental. Melódica. Densa.

Naquele dia estava a ouvir o “Dark Was The Night” de princípio ao fim porque queria dar uma hipótese ao álbum e não sujeitá-lo apenas a algumas músicas. Parado no trânsito, sem que nada me preparasse para isso, surge “Happiness”. Os carros, as filas, o barulho dos motores e das buzinas. Deixei de os ouvir. Ficaram apenas os violinos ao lado dos sintetizadores. Nunca tiveram aquele momento em que se focam tanto numa música ou num passagem de um livro que se esqueçam do caminho que iam fazer? Foi basicamente o mesmo sentimento.

Dei por mim a pensar na minha vida. A viver um flashback como nos filmes em que a personagem está prestes a morrer e recorda o que ficou para trás. Fiquei sempre com a sensação de que a música reflecte esse “olhar para trás”. Recordar os momentos que vivemos, as pessoas que conhecemos, os locais que visitámos, preenchendo-me de memórias, algumas boas outras más. “Happiness” tem a delicadeza de me fazer olhar para trás sem mágoa ou despeito.

O que torna esta faixa única é que abre as portas desse reservatório interior. Há poucas músicas capazes de terem o mesmo efeito.

Podemos gostar de algumas memórias que guardamos e querer esquecer outras, mas nunca as conseguimos apagar. Mesmo aquelas que dizemos aos outros que já não nos lembramos. Estamos a mentir em auto-defesa. Seria melhor escolher o que queremos guardar, só que o nosso cérebro não funciona assim. É um sistema de armazenamento onde cabe tudo. Os sentimentos, os momentos, as ligações. O que torna esta faixa única é que abre as portas desse reservatório interior. Há poucas músicas capazes de terem o mesmo efeito.

Ouvia-a naquela tarde enquanto estava a conduzir. Hoje em dia, prefiro escutá-la enquanto percorro a cidade a pé. Ganha ainda mais impacto.

Filipe Carvalho

Filipe Carvalho

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