Detesto com todas as moléculas do meu ser o “Querido, Mudei a Casa”

Aquilo é a síntese de tudo o que menos me interessa na vida. Há marquises suburbanas armadas em terraços cascaenses, há o Gustavo Santos armado em engraçado, há product placement armado em caridade. Uma apoplexia dos sentidos.

Detesto com todas as moléculas do meu ser o “Querido, Mudei a Casa”

Eu detesto com todas as moléculas do meu ser o “Querido, Mudei a Casa”. Aquilo é a síntese de tudo o que menos me interessa na vida.

Há marquises suburbanas armadas em terraços cascaenses, o Gustavo Santos armado em engraçado e product placement armado em caridade

Montes de almofadinhas, moldurazinhas, cortininhas, tudo a fazer pendant. Um excesso de papel de parede às riscas, demasiados candeeiros enormes, um exagero de decoradoras do lugar-comum. Em todos os episódios, há marquises suburbanas armadas em terraços cascaenses, há o Gustavo Santos armado em engraçado, há product placement armado em caridade. Uma apoplexia dos sentidos.

O pior de tudo é aquele final das lágrimas encenadas da família pobrezinha congestionada de emoção

As casas que o programa remodela – ou melhor, as divisões, porque podem encher a sala de tralha e deixar a casa de banho com a canalização toda podre – ficam a parecer montras, apinhadas de inutilidades. Mas o pior de tudo, o que me deixa sempre atónita, a pensar “como que raio é isto possível”, é aquele final das lágrimas encenadas da família pobrezinha congestionada de emoção. Em câmara lenta. Completamente surpreendidos (Oh, não! Oh, sim!) porque, apesar de todas as desgraças inomináveis que lhes trespassam a vida, agora têm uma sala toda beta e isso…

Eu detesto com todas as moléculas do meu ser o “Querido, Mudei a Casa”. Não há palavras! E a tocar, em fundo, a banda sonora do Forrest Gump

Oh, Queridos! Não há palavras! E a tocar, em fundo, a banda sonora do Forrest Gump. Há programas destes (de decoração, construção, remodelação, reciclagem e o diabo a quatro) em vários formatos, em vários países. Mas a desproporcionalidade emocional do “Crido” – o título também me faz uma comichão do caraças – acho que é… como dizer… groundbreaking!

anaPrista

Ana Prista | jornalista arrependida

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