Dizem que tudo o que começa tem de ter um fim. Não acredito nisso.
Os anos têm dias. Os dias têm horas. As horas transformam-se em minutos. A única coisa que não tem fim é o tempo. Ele mantem-se sempre vivo, em todos os momentos bons e maus.
Por vezes sinto que tenho pouco tempo. Para mim, para os outros. Ocupo o meu dia com trabalho, treinos, andar de carro de um lado para o outro. Uma vida comum, como tantas que vemos passar à nossa frente. Quando tenho algum tempo livre gasto-o a descansar ou a fazer “as minhas coisas” – uma expressão cada vez mais estranha para mim – que acabo por sentir tempo perdido.
Nos últimos meses, senti a necessidade de dar tempo ao meu tempo. Ganhar minutos preciosos que me permitissem sentir a vida de outro modo. Decidi que parte do meu dia-a-dia não tem de ser racionalizada como faço no meu trabalho onde tenho de pensar em cada passo que dou e nas consequências que têm.
O tempo só cai a nosso favor quando sentimos de coração. É nessa altura, por breves instantes, que tudo desacelera e o tempo deixa de ter a relevância que lhe damos. Não há horas para estar em determinado local nem minutos certos para o que temos de fazer a seguir.
Viver de coração é ganhar tempo e se esse tempo acabar, deixámos tudo o que tínhamos em cima da mesa. Cada vez que ouço “Abacus” de Fionn Regan dá-me um aperto no coração. Nem sempre consigo viver com o tempo que queria para sentir. Nem sempre consigo dizer aos outros a importância que tem para mim. No meio da minha feira de vaidades, esqueço-me que o tempo anda de maneira diferente para cada um de nós. E tenho de aceitar isso.
Como diz Fionn “If we got it wrong it’s cause the days have no numbers if we leave tonight then we leave it all behind”. Acredito que o tempo pode ser transformado. Moldado a meu favor para que não ande a correr. Deixar que dure mais um bocado porque está a saber bem. Não precisa de ter um fim. Não precisa de ser errado. E se for, então que os sentimentos fiquem guardados no tempo. Assim nunca morrem.
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