Depois das eleições: há futuro para a natureza em Portugal?
As eleições legislativas trouxeram mudanças significativas ao cenário político português. Temos hoje um parlamento mais dividido e com um governo sem maioria absoluta. Há agora uma nova etapa que pode ter impacto direto em várias áreas – incluindo a conservação da natureza

As eleições legislativas trouxeram mudanças significativas ao cenário político português. Temos hoje um parlamento mais dividido e com um governo sem maioria absoluta. Há agora uma nova etapa que pode ter impacto direto em várias áreas – incluindo a conservação da natureza. A pergunta que se coloca é: como vai ser tratada a natureza neste novo ciclo político?
A verdade é que o ambiente continua a não estar no centro da conversa. Continuamente tratamos a natureza como algo que é bom de ter, mas não é essencial, quando a nossa vida, a nossa saúde, a habitação, a alimentação, enfim, toda a nossa economia, depende de uma natureza próspera. Ainda assim, há sinais positivos: já não é tão raro ouvir os políticos falarem de biodiversidade, de alterações climáticas ou de energia limpa nos debates e nos programas dos partidos. Não é tudo, mas é um começo.
Num país pequeno mas tão rico em paisagens e biodiversidade, cuidar da natureza não é luxo – é uma necessidade
Importa lembrar que Portugal tem uma natureza única — montados, rios, serras, zonas costeiras, espécies emblemáticas como o lobo ou o lince — que está sob pressão. A destruição de habitats, os incêndios, a expansão urbana e os projetos turísticos que destroem a natureza continuam a ameaçar paisagens e espécies que devíamos restaurar, proteger e conservar. E se não forem tomadas decisões certas agora, podemos perder muito do que torna este país especial.
O lado positivo? O novo parlamento pode e deve escolher proteger a natureza e as pessoas, recuperar ecossistemas e combater as alterações climáticas. Somos cada vez mais pessoas a defender e a trabalhar pela natureza. E são as nossas vozes que não podem ser ignoradas, mesmo num parlamento dividido.
O futuro da natureza em Portugal vai depender não só dos políticos, mas também da pressão que todos nós, enquanto sociedade, conseguirmos fazer. Mais do que promessas em campanhas, é preciso ação efetiva, coragem e responsabilidade.
Num país pequeno mas tão rico em paisagens e biodiversidade, cuidar da natureza não é luxo – é uma necessidade. E se houver vontade e visão, este novo ciclo político pode ser uma oportunidade para fazer diferente. Ainda vamos a tempo de restaurar e proteger o que é nosso. E isso, por si só, já é uma boa razão para ter esperança.
Ângela Morgado,
Diretora Executiva da WWF Portugal
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