Daqui não saio, daqui ninguém me tira – A opinião de Paulo Vieira da Silva
Os primeiros 30 dias de mandato foram terríveis mas Rio apenas ficou prisioneiro das suas escolhas que sabia polémicas.
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Faz seis meses que Rui Rio chegou à liderança do PSD. Há anos que preparava a sua candidatura. Ganhou com 54% dos votos. Santana Lopes obteve 46%. Entretanto, há cerca de um mês, o seu adversário nas últimas directas deixou o partido de que era militante há 40 anos para fundar um novo partido – a Aliança. Não sendo surpreendente a decisão de Santana Lopes, foi no mínimo sintomática.
Os primeiros 30 dias de mandato foram terríveis mas Rio apenas ficou prisioneiro das suas escolhas que sabia polémicas.
A opção por Elina Fraga – muito crítica das políticas de Justiça do anterior Governo de Passos – para ocupar uma vice-presidência foi considerada populista. Ainda hoje ninguém percebeu a escolha da antiga bastonária da Ordem dos Advogados – envolta em algumas polémicas – que saiu apupada da sala do congresso.
Uma outra escolha polémica foi a de Salvador Malheiro. O autarca de Ovar e director da campanha de Rio foi acusado de patrocinar irregularidades nos cadernos eleitorais. Acreditava-se que Rio o deixaria cair. Pelo contrário, Rio premiou-o escolhendo-o para vice-presidente do PSD e para porta-voz para a área do Ambiente do Conselho Estratégico Nacional.
Por fim a escolha de Feliciano Barreiras Duarte para secretário-geral do PSD. Era o homem de confiança e mais próximo de Rui Rio no partido. O deputado acabaria por ser obrigado a demitir-se depois de tornadas públicas as mentiras à volta do seu currículo académico. Apesar de, desde o início da polémica, ser evidente que Feliciano mentia o líder do PSD segurou-o dias a fio. Também, nesta situação, Rio saiu muito mal na fotografia.
Não esqueçamos que Rui Rio tinha anunciado com pompa e circunstância “um banho de ética na política”. As expectativas eram grandes mas em menos de um mês percebeu-se que não passava de mera retórica política.
Não se pode falar em ética na política e depois escolher-se para lugares relevantes e da sua confiança pessoal três militantes com percursos ou condutas no mínimo duvidosas.
Tornou-se claro aos olhos dos portugueses que “a bota não batia com a perdigota”.
A articulação com o grupo parlamentar também não tem sido fácil. Por diversas vezes falaram a duas vozes. E não parece que o problema esteja em Fernando Negrão, o líder parlamentar. Apenas dois exemplos. Rio defendeu que deve ser o Estado a assumir a construção da ala pediátrica do Hospital de S. João, por sua vez o PSD defendeu que a construção deve ser apoiada no âmbito da lei do mecenato. No caso da eutanásia Rio veio a público mostrar-se a favor da morte medicamente assistida e o PSD defendeu um referendo.
Rui Rio – “o predestinado” – também não tem quaisquer problemas em desautorizar deputados, dirigentes ou até mesmo o seu líder parlamentar. Foi assim quando foi pedida a demissão de algum ministro. E deu mesmo um “puxão de orelhas” público a Fernando Negrão por ter apoiado a proposta de Assunção Cristas que defendia a eliminação da taxa extraordinária sobre o imposto sobre os produtos petrolíferos. Ainda esta sexta-feira o eurodeputado, Paulo Rangel, que dava uma aula na Universidade de Verão, afirmava que será “incompreensível” se o Governo não reconduzir Joana Marques Vidal. Na mesma tarde Rui Rio criticava a “partidarização da PGR” e avisando que não falará sobre o assunto antes de António Costa.
Desta forma é difícil construir relações de confiança e cumplicidade e construir um caminho em unidade.
O percurso errático, contraditório e ziguezagueante de Rui Rio não fica por aqui.
No fim do mês de Julho o presidente do PSD marcou presença na tradicional festa de Verão do PSD- Madeira.
Rui Rio, que sempre apresentou como “cartão de visita” as “boas contas”, surpreendeu o país referindo-se a Alberto João Jardim de forma elogiosa afirmado que “se em vez de um Alberto João Jardim, nós tínhamos tido quatro ou cinco Alberto João Jardins por esse país fora, o que não era Portugal hoje face àquilo que é”.
Independentemente dos méritos de Jardim – e são muitos – estas declarações do ex-presidente da Câmara Municipal do Porto são a sua própria negação.
No interior do partido vão-se ouvindo vozes críticas crescentes no que diz respeito à relação de proximidade que mantém com António Costa, desperdiçando oportunidades para fazer oposição ao Partido Socialista.
Esta ausência de Rio do palco político permitiu a Assunção Cristas relançar o seu partido sublinhando as diferenças entre CDS e PSD recuperando apoios e votos.
Após o gozo dos seus longos trinta e um dias de férias o líder do PSD reapareceu na festa do Pontal apontando baterias aos militantes que têm mostrado discordância em relação à sua estratégia política. Ignorou a saída de um antigo líder e ex-primeiro ministro, Pedro Santana Lopes para fundar um novo partido, fez de conta que não leu a entrevista de Pedro Duarte ao Expresso e continua sem escutar as críticas à sua liderança de destacados militantes do PSD.
O actual líder do PSD desvalorizou os evidentes problemas internos tentando passar a ideia que se resolvem com um jogo de futebol entre solteiros e casados e um arraial ao final da tarde no Algarve.
Uma parte substancial do discurso político de Rui Rio está subjacente a uma ideia por si repetida muitas vezes quando afirma “eu penso primeiro no país e só depois vem o PSD”. Mas Rio esquece-se sempre de dizer uma outra coisa. É que antes de pensar no País pensa sobretudo em si próprio.
É por mais evidente que Rui Rio aposta tudo na conquista da simpatia dos portugueses pela via de uma atitude egoísta, egocêntrica, sobranceira e de uma superioridade moral e ética mesmo que o preço a pagar seja deixar sob suspeita o seu próprio partido.
Mais: Rio arroga-se no direito – que julga ser seu exclusivo – de pensar primeiro no País e depois no partido, porém os militantes que discordam dele devem estar calados porque têm a obrigação de primeiro pensar no PSD e só depois em Portugal.
A partir do Algarve, naquele que é o seu estilo habitual de confronto, deixou avisos para aqueles que, segundo ele, querem tirá-lo da presidência do partido antes do tempo “Podem esperar sentados porque eu vou cumprir o meu mandato até ao último minuto.” Por trás desta permanente desconfiança nos seus pares parece que apenas poderá estar um síndrome da “mania da perseguição política” que é muito comum naqueles que desconfiam da sua própria sombra.
Mas Rio mantem também uma atitude inexplicável de desresponsabilização política quando afirma que “O PSD pode ganhar as eleições. Tem é de querer”. Mas afinal quem é o líder do PSD?
Rio que se assumiu politicamente, durante os seus mandatos à frente da Câmara Municipal do Porto, numa estratégia assente no confronto e no conflito ainda não percebeu que o País não é o Porto.
Os últimos seis meses têm mostrado um Rui Rio impreparado para ser líder da oposição facto que não tem permitido a afirmação do PSD junto dos portugueses. Nenhum programa até hoje. Poucas ou nenhumas ideias para o País. E as sondagens começam a evidenciar isto mesmo.
Uma sondagem publicada esta quinta-feira atira o PSD para os valores mais baixos que há memória. Abaixo dos 25%. E neste estudo não entra ainda a Aliança de Pedro Santana Lopes que pode atirar o PSD de Rui Rio para valores próximos dos 20%.
Pois irão dizer que sondagens, são sondagens, eu sei, mas também sei que são importantes instrumentos de trabalho e de reflexão.
Estes são valores preocupantes que devem merecer a reflexão profunda de um líder partidário responsável como se espera que seja Rui Rio e sobre a sua última teoria saída do Pontal “daqui não saio, daqui ninguém me tira.”
Paulo Vieira da Silva
Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
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