Carta de amor para uma rede social
Rui Lourenço escreve sobre relações na era das redes sociais: “Amo-te, mesmo que agora no Facebook tenha encontrado aquela minha namorada dos tempos de escola que ainda guardo no pensamento.”
Meu amor,
Amo-te, mesmo que agora no Facebook tenha encontrado aquela minha namorada dos tempos de escola que ainda guardo no pensamento. Combinámos almoçar um dia destes para meter a conversa em dia.
Quero que saibas que gosto de ti como quem gosta dos dias quentes do verão, e mesmo que eu mande piadas no Twitter para a @loira35 é só porque ela tem os mesmos gostos musicais que eu e gosta da mesma comida. Por acaso ela até trabalha perto de mim.
No outro dia recebi umas fotos privadas de uma pessoa que conheci no instagram.
Ela metia uma foto, eu fazia um coração, eu metia uma foto ela fazia um coração e olha, foi bonito esta troca de culturas. Isto das redes sociais tornou o mundo tão pequeno… vê lá tu que a rapariga é de Londres mas agora com os aviões low cost fica tão barato voar que vou lá ter com ela um dia destes só para lhe dar umas dicas sobre marketing digital.
Mas, como te dizia, és o meu amor, o meu grande amor, aquele que me foi destinado para toda a vida. Somos uns sortudos, casamos, temos filhos e vamos ficar juntos para sempre.
Felizmente o amor assim ainda existe.
No outro dia a Patrícia, acho que já te falei dela, esteve a falar comigo no chat do Facebook sobre isto de ser para a vida toda. Falou-me que era casada fazia 10 anos, das dificuldades da vida… Coitada, acabei por a convidar para ir ao cinema. O filme era tão bom que o vimos duas vezes seguidas. Entrámos na sala pelas 22 e saímos às duas da manhã.
Foi naquele dia em que tu foste ao norte jantar com aquele senhor viúvo que conheceste no Badoo. Coitado, tiveste tanta pena dele e da sua viuvez que foste até ele. Fizeste bem, tens um grande coração e por isso te amo tanto.
E não foi a primeira vez que o fizeste, ainda não me esqueci de quando conheceste aquele holandês no Tinder nem da forma como durante um fim de semana foste mostrar-lhe Lisboa. Tive tantas saudades tuas esse fim de semana que o que me valeu foi a Sueca que conheci no Happn que me pediu para vir dormir cá a casa, a rapariga coitada viajava com pouco dinheiro e a mim não me custou nada acolher a rapariga.
A nossa vida é tão bonita nesta altura das redes sociais, ainda te lembras como era dantes?
Jantávamos, íamos para o sofá ver televisão, sempre sem falar, sem dizer nada, depois um de nós adormecia e ia para a cama sem incomodar o outro. Um dia destes temos de celebrar, convidar cá para casa todos estes amigos novos que temos feito por aí. Vai ser uma grande festa todos juntos. Não queria morrer sem uma festa dessas.
Hoje não chego cedo, vou ao cinema com duas russas que conheci no okCupid.
Pediram umas pequenas explicações de português que eu, na minha enorme bondade tenho todo o prazer de ensinar. Se por acaso estiveres a pensar ir também ao cinema quero que saibas meu amor que vou a sessão das 9, não vá se dar o caso de nos cruzarmos de novo outra vez e tu estares com aquele polícia que anda a fazer tratamento psicológico. Da outra vez que nos encontrámos por acaso ele ficou muito alterado… Ainda bem que o estás a ajudar e que o encontraste naquele grupo do Facebook que dança swing e veste cabedal.
Um beijo meu amor.
Rui Lourenço | Especialista em comunicação digital
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