Apagão das redes sociais revela que parte da sociedade é nomofóbica

O apagão das redes sociais revelou um caos muito além da questão tecnológica. Vivemos numa sociedade cada vez mais dependente dos conteúdos digitais e isso pode trazer sérios riscos para a saúde física e mental.

Apagão das redes sociais revela que parte da sociedade é nomofóbica

O apagão das redes sociais na segunda-feira, 4 de outubro, revelou um caos muito além da questão tecnológica. Vivemos numa sociedade cada vez mais dependente dos conteúdos digitais e isso pode trazer sérios riscos para a saúde física e mental. As pessoas tiveram de passar horas sem acesso aos seus conteúdos digitais favoritos e muitos revelaram o quanto estão dependentes destas ferramentas.

Mediante este acontecimento, monitorizei o comportamento das pessoas durante e após o restabelecimento das redes sociais. Enquanto durava o apagão, a pessoa pegava constantemente no telemóvel para procurar algo para fazer ou para perceber se o acesso às redes estava restabelecido. Também houve quem procurasse outras redes sociais,  e isto já serve de alerta para um possível vício. A intensidade do problema depende do grau em que isso a afetou.

É preciso lembrar que até há pouco tempo não tínhamos essas redes e vivíamos. O que acontece hoje com o comodismo para que não consigamos usar outros meios e argumentos no quotidiano? Para saber se a pessoa está a sofrer deste vício, eis algumas situações que aconteceram com muitos utilizadores durante este tempo em que as aplicações estiveram inacessíveis:

– Ficou parado a olhar para o telemóvel sem saber o que fazer;
– Entrava constantemente nas aplicações para ver se já estavam disponíveis;
– Acedeu a aplicações que não costumava usar e sentiu-se perdido;
– Sentiu agonia;
– Vazio existencial;
– Ficou impaciente e/ou irritado;
– Teve a sensação de receber notificações;
– Alteração de humor.

Se sentiu alguns ou muitos destes sintomas durante o apagão, é bom que acenda o sinal de alerta, pois estes sintomas têm relação com a nomofobia, a fobia causada pelo desconforto e/ou angústia quando o indivíduo está sem acesso à comunicação através dde aparelhos electrónicos. Para piorar, há casos em que a pessoa sente tanto esta ausência que pode apresentar náuseas, entre outros sintomas físicos.

Como funciona a nomofobia?

No cérebro, na região dos núcleos da base que trabalha com o sistema límbico, a sensação de prazer que a libertação de dopamina promove a cada novo ‘like’ ou expectativa de mensagem recebida na rede social transforma o hábito em vício, estimulando-nos a ficarmos cada vez mais online em busca de recompensa, aumentando a ansiedade, que funciona como pendência para esta busca.

Além disso, a função da dopamina é fornecer um feedback positivo, uma recompensa ao organismo, que se torna numa busca constante. Isto é compensatório, já que a ansiedade, por si só, tende a buscar mais ou entra numa atmosfera má, pedindo-nos mais e mais recompensa. Como um ciclo intermitente e gradativo.

Relatos de pessoas que usam as redes sociais para trabalho quotidiano foram positivos no apagão. Disseram que se sentiram aliviados e largaram os aparelhos. Isto acontece pois, nestes casos, a rede social é usada como obrigação profissional. Quando fazemos algo por obrigação, a recompensa é quando fazemos algo fora desta obrigação. Diferente das pessoas que usam as redes sociais para o lazer, que se transforma numa necessidade, com o tempo.

Isto não inclui influencers, que justificam o vício da rede social como profissão ou a produção de conteúdos nas redes, que passou a ser uma profissão rentável; o que, ainda assim, faz parte do ciclo vicioso.

Fabiano Lima

Fabiano de Abreu Rodrigues, filósofo e cientista

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