Analgésico emocional
Os portugueses andam felizes. Mesmo quando faltam uns cêntimos para pagar a água ou se comem uns pães a menos durante o mês.
Não sei quanto tempo durará. Durante quanto tempo a anestesia terá efeito. Mas sabe bem, esta embriaguez etílica, contagiosa, de uns pés e uma voz.
Estamos cheios. De barriga cheia. Anafados.
Não sei quanto tempo durará esta serenidade com que adormecemos e o sorriso que estampamos quando acordamos. Os portugueses andam felizes. Mesmo quando faltam uns cêntimos para pagar a água ou se comem uns pães a menos durante o mês. Carcaças divididas ao meio e com menos manteiga. O estômago anda a revestido a mel. Inchados de orgulho e esperanças.
Depois de Éder, um Salvador. Um Papa que nos visita… Uma Madonna que nos cobiça. E começamos a acreditar que somos bons. Que isto até é bom para se viver. Mesmo quando as férias se passam sem devaneios, com merendas na praia da Caparica. Somos do tamanho da Europa, subitamente. Um rectângulo posto no mapa, posto nas bocas, posto nos jornais, no mundo.
Quem partiu pensa em voltar. Quem queria partir pensa em ficar.
Num corpo débil, fraco, Portugal arrastava-se numa cauda europeia. Num cinzentismo triste de quem precisa de ansiolíticos para dormir e antidepressivos para acordar. Portugal viveu os mais duros anos. Não passaram… mas estão diferentes. Aos poucos, levantamo-nos com menos doses. Passamos a cauda e quase que tocamos o leme.
Chegámos ao palco com polyester e saímos com linho e seda. Porque são os outros que nos legitimam. Se eles gostam, temos de gostar. Se conseguimos é porque merecemos.
Não sei quanto tempo durará. Mas sabe bem.
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