Alguns dos piores atos do Talibã que não devemos esquecer

Uma sociedade ansiosa tende a reclamar do presente, acreditando que tudo será diferente. Por isso, esquece ou ameniza a História de crimes de alguns e, neste caso, o terror do Talibã.

Alguns dos piores atos do Talibã que não devemos esquecer

Quanto mais afetada a sociedade pela ansiedade, mais pessoas esquecem o passado, reclamam do presente e acreditam que tudo será diferente. Por isso esquecem-se ou amenizam a História de crimes de alguns e, neste caso, o terror do Talibã. Tem relação com o negacionismo, mediante as faltas de coerência, conhecimento e clareza sobre as possibilidades.

O sistema límbico no cérebro coordena as ações, quando o córtex pré-frontal, menos ativo, relacionado com a inteligência, não consegue orquestrar para ações mais racionais. O que nos diferencia dos demais animais é o maior desenvolvimento desta região do lobo frontal, que nos tornou mais inteligentes. Mas o cérebro reptiliano ainda dita regras com influência do instinto e perturbações provenientes da cultura tecnológica, e das redes sociais.

Antes de mais, para ligar os fatos, Al Qaeda é composta por árabes e o Talibã por tribos afegãs, maioritariamente da etnia pashtun. Os dois grupos são aliados e ajudam-se nas questões de logística, armamento e dinheiro. Expulso de vários países, Osama Bin Laden, um dos fundadores da Al Qaeda, foi acolhido pelo Talibã no Afeganistão após os ataques de 11 de Setembro que fizeram milhares de mortos nos Estados Unidos da América.

Talibã responsável por 38% das fatalidades em atos terroristas

Acrescentando, os dados do Índice Global do Terrorismo, publicados em 2019, o Talibã é como o maior grupo terrorista da História, mais violento do que o conhecido Estado Islâmico. Para se ter ideia, em 2018, o Talibã foi responsável por 38% do total de fatalidades em atos terroristas no mundo (6.103 mortes), 71% a mais na comparação com o ano anterior.

Além da violência das ações, o grupo impôs mudanças culturais profundas no Afeganistão. Em 1996, quando dominou a capital do país, Cabul, pela primeira vez, leis islâmicas foram impostas a todo o povo afegão. Foi a partir dali que, por exemplo, as mulheres passaram a ter de cobrir-se da cabeça aos pés, foram proibidas de frequentar escolas ou de trabalhar fora de casa, além de serem proibidas de viajar sozinhas. Outro detalhe é que TV, música e feriados não islâmicos também foram proibidos.

Recordemos o que não podemos esquecer, alguns atos terroristas deste que é considerado o grupo terrorista mais violento do Mundo, superando o Estado Islâmico, o Talibã.

10 de setembro de 2011

Dois cidadãos do Afeganistão são mortos e 77 soldados dos EUA ficam feridos na explosão de um caminhão-bomba na entrada do Posto Avançado de Combate Sayed Abad, base das forças internacionais na província de Wardak. O grupo terrorista assume a responsabilidade pelo ataque. Três dias depois, membros do Talibã abrem fogo contra a embaixada dos EUA e a sede da Força Internacional de Apoio à Segurança (ISAF) no centro de Cabul. Quatro pessoas morrem.

27 de fevereiro de 2012

O Talibã assume um atentado suicida perto do portão da base da ISAF, no aeroporto de Jalalabad, no Afeganistão. Pelo menos 9 pessoas morrem e 12 ficam feridas. O grupo revela que o bombardeio é uma retaliação pela queima de Alcorões pelas tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

11 de fevereiro de 2017

O Talibã assume a responsabilidade pela explosão de um carro-bomba que matou oito pessoas em Lashkar Gah, capital da província de Helmand. Dois meses depois, uma base do exército no norte do país é atacada, fazendo mais de 100 mortos e feridos.

3 de agosto de 2017

Forças do Talibã e do Estado Islâmico atacam uma vila no norte do Afeganistão e matam 50 pessoas. Segundo autoridades locais, até crianças e mulheres foram mortas.

27 de janeiro de 2018

Uma ambulância cheia de explosivos é detonada em Cabul, matando 95 pessoas e ferindo outras 191. O Talibã assume a responsabilidade.

7 de junho de 2018

É anunciado que as forças afegãs concordaram com um cessar-fogo com o Talibã entre 12 e 21 de junho. A trégua proposta coincide com o feriado de Eid al-Fitr, período durante o qual os muçulmanos celebram o fim do Ramadão, mês sagrado do jejum islâmico. Só que, dois dias depois, os militantes do Talibã atacam uma esquadra e matam 17 polícias.

10 de agosto de 2018

O Talibã ataca a cidade afegã de Ghazni, a sul da capital, Cabul. Capturam edifícios importantes e trocam tiros com as forças de segurança. A ação faz 16 mortos e 40 feridos.

15 de janeiro de 2019

O Talibã usa um carro-bomba e faz quatro mortos e 113 feridos numa área residencial frequentada por estrangeiros no leste de Cabul.

O empurrão de Donald Trump

Atualmente, o grupo atua no Afeganistão e no Paquistão, com objetivo principal de implementar a Sharia e recuperar o controlo dos territórios, com ofensivas contra a NATO e os governos do Paquistão e do Afeganistão. Para isso, a organização utiliza táticas de guerrilha e ataques de homens-bomba. No Paquistão, a mesma é nomeada de Tehrik-i-Taliban Pakistan. O atual líder do grupo é o Mullah Haibatullah Akhunzada.

Com o enfraquecimento do Estado Islâmico e o regresso talibã, a Al Qaeda poderá ganhar mais força, por serem os “meninos rebeldes” sobre quem recai a culpa. Assumem atentados internacionais enquanto o Talibã finge nada saber, embora estejam sempre a ampará-los.

No Afeganistão, durante os últimos 20 anos, a estratégia dos Estados Unidos da América era a de fortalecer governo e exército afegãos para que o país tivesse como evitar os avanços do Talibã. Ainda na gestão Donald Trump, foi assinado um acordo para retirar as tropas norte-americanas dali. Com a saída norte-americana, em 2021, ao contrário do que todos desejavam, o Talibã retomou o caminho de dominação do país de forma tão rápida quanto impressionante.

Chega-se assim ao fato que ganhou primeiras páginas dos jornais no último fim de semana. Com quase 75% do território do país ocupado pelo Talibã, o presidente Ashraf Ghan fugiu e o grupo assumiu o poder novamente. O resultado é aquela imagem que rapidamente se espalhou por todo o mundo de afegãos a tentarem deixar o país lotando o aeroporto de Cabul.

Em contrapartida, o Estado Islâmico não está morto. Encontra-se em África a recrutar pessoas fáceis de serem manipuladas devido à pobreza e às suas consequências. O que se vê é o regresso àquilo que parece nunca terminar. Mesmo mediante este histórico, tanto a Rússia quanto a China demonstraram estarem dispostos a não se indisporem com o Talibã. Russos anunciam contato com representantes das “novas autoridades” afegãs enquanto chineses dizem desejar manter “relações cordiais”.

Os ataques terroristas escolhidos foram apenas alguns desde 2011, há muitos outros ataques não relatados neste texto e outro, eventualmente um dos socialmente mais preocupantes, é contra a liberdade das mulheres naquele país.

Fabiano Lima

Fabiano de Abreu Rodrigues, filósofo e cientista;
Foto: Sandy Kumar

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