A Democracia ameaçada pela cultura do ‘politicamente correcto’
O politicamente correcto é originalmente filho de movimentos de esquerda que, surgiram na década de 70, supostamente na defesa de grupos discriminados, nomeadamente em razão do género, da orientação sexual ou da cor.
O politicamente correcto deve merecer toda a atenção, preocupação e reflexão colectiva. Nos últimos anos evoluiu perigosamente no sentido de uma cultura que ameaça a Democracia porque passou a condicionar o pensamento e a própria liberdade individual.
O politicamente correcto é originalmente filho de movimentos de esquerda que, surgiram na década de 70, supostamente na defesa de grupos discriminados, nomeadamente em razão do género, da orientação sexual ou da cor.
Proveniente dessa mesma esquerda, hoje temos a cultura “woke” assente em ideologias de cancelamento e na imposição de uma linguagem neutra.
O politicamente correcto tornou-se uma forma de orientação do pensamento que acabou por empurrar os cidadãos para a opinião ”mais fofinha”, que mais bem parece, determinada pelo que nos é “vendido” pelos media como a mais correcta e maioritária.
É mais confortável tender a concordar com a maioria do que discordar.
Até porque discordar ou ter pensamento próprio tem um preço a pagar.
O politicamente correcto transformou-se também numa espécie de via verde para a ascensão rápida na vida, nos partidos e na política.
Esta temática leva-nos obrigatoriamente para uma reflexão sobre a Democracia em que vivemos.
Uma Democracia não consegue sobreviver muito tempo dominada pelo pensamento condicionado pelo politicamente correcto.
Uma verdadeira Democracia apenas existe quando o pensamento é verdadeiramente livre.
Não foi por acaso que o ex-político, escritor e também Prémio Nobel da Literatura, Mario Vargas Llosa, disse que “a Democracia tem que ser tratada com muito cuidado”.
Nos dias de hoje, o pensamento virou uma actividade desencorajada por toda uma prática educacional que se tornou também dominante nas universidades.
A escritora francesa Viviane Forrester no seu ensaio “L’Horreur économique” escreveu “ão há actividade mais subversiva do que o pensamento. Nem mais temida, nem mais difamada, e isto não se deve ao acaso: o pensamento é político. Daí a luta insidiosa, cada vez mais eficaz, hoje mais do que nunca, contra o pensamento. Contra a capacidade de pensar.”
Interessante também a reflexão de Nick Cave sobre o politicamente correcto que comparou com os piores aspectos de uma religião designando-a mesmo como ”a religião mais infeliz do mundo”.
E quando falamos de religiões, mesmo que não seja na abordagem holística feita pelo músico australiano, somos encaminhados, não raras vezes, para caminhos que nos levam para os fundamentalismos que concorrem para o enfraquecimento da Democracia.
Democracia, liberdade e pensamento é uma triologia que deverão andar sempre de mãos dadas.
Estando em causa a liberdade ou o pensamento não duvidemos que a Democracia está também colocada em causa.
Não podemos cair no erro de tomar estas difíceis conquistas como adquiridas. Estão sempre em risco e sob ameaça. É suficiente olhar para a história da Europa do século XX.
O politicamente correcto tornou-se numa arma poderosa contra o pensamento e a liberdade individual.
E sendo uma arma utilizada contra o pensamento e a liberdade, obriga-nos a todos, mais do que nunca, a estarmos vigilantes sobre o caminho que vão trilhando as Democracias.
Paulo Vieira da Silva
Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
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