Sexualidade | Dicionário do amor ajuda a quebrar preconceitos

A sexóloga Marta Crawford explica de que forma certas palavras podem ajudá-lo a desconstruir preconceitos e ideias predefinidas, melhorando a sua relação com o parceiro.

Sexualidade | Dicionário do amor ajuda a quebrar preconceitos

A sexóloga Marta Crawford, conhecida por participar em vários programas televisivos sobre sexualidade, explica de que forma certas palavras podem ajudá-lo a desconstruir preconceitos e ideias predefinidas, melhorando a sua relação com o parceiro. De A a Z…

Amor

As pessoas preocupam-se muito com o amor, mas nem sempre cuidam dele. Se por um lado existe amor, por outro, algumas práticas do dia a dia, e a forma como nos expressamos intimamente, é muito distante daquilo que poderíamos entender como demonstrações de desejo. Há distanciamento. Posso amar o meu marido, mas intimamente não o desejar. O amor não é sinonimo de desejo. Todos queremos começar uma relação apaixonados, amar até que a morte nos separe, mas efetivamente vai uma grande diferença entre amar e desejar, e só alimentando a relação no dia a dia é que ambas podem coincidir.

Beijo

Fundamental. Até podemos falar de amor ao primeiro beijo, e é muito difícil disfarçar o que nos vai na alma quando beijamos. Porquê? Quando um beijo é absoluto e com letra grande, transmite mais emoção e afeto, do que muitas palavras.

Cumplicidade

Sem ela não conseguimos estar bem numa relação. No entanto, é necessário criar interesses em comum. Há casais que dizem: ‘Ele é muito diferente de mim. Eu gosto disto, ele daquilo, ele aprecia isto, eu aquilo’. E eu pergunto: ‘Mas não há nada que gostem de fazer em comum? Dançar, por exemplo.’ ‘Isso gostamos, mas não fazemos’, respondem. Então, o caminho é pensar numa atividade com a qual se identifiquem. Com isto, iniciam uma nova dinâmica e ficam mais unidos enquanto casal. A cumplicidade deve ser desenvolvida desde o início da relação e tem de ser criada a partir das pequenas coisas.

Desejo

É o principal motivo que leva um casal a procurar ajuda de um sexólogo, sendo fundamental para a atividade íntima se manter regular, satisfatória e com prazer. Se não há desejo, toda a concretização sexual se torna extremamente difícil. A falta de desejo é mais comum nas mulheres do que nos homens. No entanto, há uma demanda de que os homens têm de estar sempre disponíveis. Não é verdade. Se tradicionalmente estavam sempre prontos, independentemente do mundo poder estar a desmoronar, hoje convivem pior com os focos de stress do dia a dia e, se não estiverem para aí virados, dizem-no abertamente sem receio. A causa número um para a falta de desejo deles, é variada como por exemplo o excesso de trabalho, questões financeiras, ou, podem não se sentir atraídos pela parceira, gostam de outra pessoa ou têm algumas duvidas em relação à sexualidade.

Estímulos

Não devemos estar sempre à espera de sermos estimulados pelo outro. Os homens têm a capacidade de pensar em sexo com mais facilidade durante o dia. As mulheres fazem-no pouco. No entanto, é importante tirar uns minutos durante o dia, para pensar sobre sensações, cenários possíveis ou recordações da última vez que se sentiu estimulada pelo parceiro pois isso vai facilitar o encontro. Passa pela capacidade de desenvolvermos os nossos próprios estímulos, transformando-os numa forma de aumentar o desejo pelo parceiro.

Fantasias

Será que vivemos em sofrimento se não realizarmos as nossas fantasias? Nem pouco, nem muito. As fantasias não têm de ser concretizadas. Se a pessoa tiver uma obsessão por uma fantasia, aí sim, vive em sofrimento até conseguir realizá-la. Por vezes, os homens acham estranho que as mulheres não fantasiem alguma coisa, de preferência aquilo que eles querem. Se a fantasia dele é estar com duas mulheres ao mesmo tempo, fazer sexo em grupo, aquelas mais tipificadas pelo sexo masculino, por vezes o que a mulher fantasia é ter determinado tipo de sensações, forma de toque, ou que o parceiro a surpreenda. É bom fantasiar se isso alimentar, de alguma forma, a vontade de ir ao encontro do outro.

G, o ponto

Quando falo nisso, costumo dizer: “esqueçam o G e pensem no C”. O ponto mais importante é o clitóris, o único órgão que tem como função dar prazer à mulher. Quem não o utiliza no seu jogo amoroso, só terá a perder. Já há mais mulheres a masturbarem-se… e quanto maior consciência tiverem do seu próprio prazer, mais fácil será a relação a dois. O grande erro da nossa sociedade passa pelo pressuposto de que as mulheres devem ter prazer através da penetração. Isso não é verdade. 70% das mulheres têm mais prazer através da estimulação clitoriana. O pénis não está para a vagina, está para o clitóris. Muitos homens já percebem que para conseguirem dar prazer à mulher têm de dedicar-se à causa, estimulando o clitóris, outros acham que isso dá uma trabalheira e elas são umas esquisitas…

Hormonas

São essenciais. As alterações dos níveis hormonais, e da testosterona, fazem com que homens e mulheres tenham menos desejo sexual. Assim sendo, uma das situações a verificar em caso de decréscimo rápido de desejo sexual, de força anímica ou de ereção, no caso masculino, é verificar os níveis hormonais, através de análises clínicas especificas. Existem valores padrão para a idade e se estiveram alterados, provavelmente é necessário compensação.

Intimidade

O discurso íntimo é algo fundamental, mas difícil. As pessoas não foram educadas para falarem intimamente da sexualidade: o que gosto, o que não gosto… aceitam o inaceitável. Muitos iniciam uma relação sexual sem o desejar, mas como não conseguem verbalizar o que sentem, os seus medos e receios, sujeitam-se a tudo. Imagine que há um estímulo que está a ser feito sobre o clitóris, por exemplo, que magoa e não está a gostar ou, pelo contrário, está a apreciar e quer que continue. Se não verbalizar, vai sujeitar-se a ter menos do que aquilo que poderia ter. Há sempre a ideia de que a assertividade do discurso íntimo significa rejeitar o outro. É um disparate. É mais um ato de honestidade.

Jovens

Muitos iniciam a sua vida sexual sem vontade. São pressionados pelos amigos ou, a certa altura, sentem que ultrapassaram a idade certa e não são normais em relação aos pares. A sexualidade não tem prazo de validade. As primeiras até tendem a ser um bocadinho desinteressantes porque as pessoas estão ansiosas, debaixo de um grande stress. Aqueles que tiram mais prazer deste momento são os que dão este passo de uma forma responsável – utilizando um anticoncecional – escolhem o parceiro e gostam dele. Não os que o fazem ao acaso de uma bebedeira.

Lábios

Os lábios são uma parte do corpo muito importantes na interação sexual e servem para quase tudo, beijar na boca o outros, sentir e provar o corpo do outro dos pés a cabeça. É também com os lábios e a língua que fazemos sexo oral
Na terapia, quando impeço os casais de ter qualquer comportamento sexual, peço-lhes que se toquem de uma ponta à outra do corpo, recorrendo apenas às mãos ou aos lábios. Este jogo amoroso permite-lhes ter diferentes sensibilidades e estímulos, saber como um certo arrepio leva a um grau de excitação surpreendente. Algumas pessoas ainda oferecem resistência quando o assunto é sexo oral. Tirando a questão dos valores, em que muitos dizem que lhes mete nojo ou é feio fazer isso, a maioria recusa por questões de higiene. Não gostam do odor, do beijo que vem a seguir ao sexo oral ou do excesso de lubrificação, que dificulta o ato.

Masturbação

É importante. Os homens desde pequenos que têm esse treino, ao puxarem o prepúcio (camada de pele que envolve o pénis), enquanto as meninas costumam ouvir: ‘Não ponhas aí as mãos que é feio!” Ou seja, há mais apoio na masturbação masculina do que na feminina. No entanto, mesmo enquanto referência do casal, se há um que tem mais vontade de ter relações sexuais do que o outro, o equilíbrio pode ser alcançado com recurso à masturbação. Claro que tem de haver sempre um patamar de entendimento, pois aquele que tem mais vontade, preferia que o ato fosse a dois e não isolado. Mas é uma forma de ‘drenar’ as ansiedades.

Não

Em matéria de sexo, o não nem sempre representa uma coisa negativa. É assertividade. Costumo treinar o não na terapia, dizendo que o sim e o não valem a mesma coisa. Ou seja, o sim representa que quero fazer alguma coisa contigo, o não diz que não quero fazer nada contigo hoje, mas isso não é sinónimo de uma tampa, que estou a boicotar a terapia ou que sou má pessoa. Traduz-se apenas nisto: hoje, por alguma razão, não estou disponível para estar contigo e portanto devo dizê-lo. O não é um manifesto de vontade, de liberdade para dizer que não estou disponível hoje. O que eu vejo na clínica é que há muitos ‘nins’ e muitos ‘sãos’, quando são claramente nãos. A prazo, isto acaba mal. É uma aprendizagem que todos deveríamos fazer. Não é não, mas não é contra ninguém.

Orgasmo

Há quem diga que é a ‘cereja no topo do bolo’, mas os orgasmos são todos diferentes. Uns são bons, quando tudo o que faz para lá chegar é manifestamente bom. O caminho é o mais importante. Não devem preocupar-se com a mecânica do orgasmo e o ponto de chegada. As mulheres, por exemplo, demoram mais tempo a atingir o clímax. Se for tudo muito rápido, mesmo que atinja o orgasmo, este será sempre com um ‘O’ pequeno. Para ter um orgasmo com todas as letras grandes é preciso muito investimento.

Penetração

Ainda é uma obsessão baseada na ideia de que sexo é apenas penetração. Um erro que tem servido de pretexto para que haja mais infelicidade a nível sexual. A penetração é um dos comportamentos sexuais que existe no meio de tantos, não é o único. É só mais um.

Qualidade

Às vezes pensa-se que a frequência é garante de muito bom, mas não é bem assim. Nas consultas, tenho muitos casais a interrogarem-se sobre a frequência das relações, como uma espécie de demanda para o bem-estar a dois, mas a qualidade não é requerida da mesma forma. E é esta que tem de prevalecer.

Rapidinha

Pode fazer sentido se ambos estiverem de acordo. De qualquer forma, antes do momento íntimo é necessário haver conversa e muita picardia, pois tudo acontece rápido. Uma situação de rapidinha todos os dias,transforma-se na insatisfação de algum. Ou são os dois muito rápidos ou há sempre alguém que fica “a ver navios”. Deve ser pontual.

Swing

Alguns casais pensam que para terem uma vida íntima inovadora têm de avançar para trios e swing, sem saberem se estão preparados para abrir a relação a outras pessoas e enfrentar os imprevistos dessa opção. Exemplos? Um deles apaixonar-se por outra pessoa ou marcar encontros fora desse contexto. São confrontados com determinados tipos de constrangimentos que não tinham perspetivado antes de iniciarem este tipo de comportamentos que podem ditar o fim da relação. O perigo maior do swing é quando só um quer e leva o outro por arrasto. A essência da sexualidade começa a dois, por se saber tirar o máximo partido da outra pessoa e de si próprio,. É sermos livres e, ao mesmo tempo, termos liberdade para fazer coisas a dois. Tudo o resto são escolhas.

Tecnologias

Antes, o grande rival dos casais ou o amante silencioso era a televisão no quarto, inibindo a sexualidade. Agora, é pior. Os telemóveis ‘dormem’ debaixo da almofada e, por vezes, cada um está na cama agarrado ao aparelho a falar ou a trocar mensagens com amigos. É fundamental que as pessoas façam uma espécie de barreira tecnológica quando entram no quarto.

Uivo sexual

Há casais muito sonoros sexualmente quando chegam ao orgasmo. Outros, por exemplo os que têm bebés, são silenciosos porque não querem que os filhos ouçam. Os mais jovens também não são muito sonoros, pois, eventualmente, ainda não descobriram a sua plenitude sexual. Talvez sejam os quarentões, os mais maduros, a estar mais desinibidos e e prontos para libertarem o seu ‘lado sonoro’.

Vaginismo

Passa pela contração involuntária do primeiro terço vaginal e é uma daquelas disfunções sexuais sobre a qual ninguém gosta de falar. Quem sofre deste problema não consegue partilhar a sua angústia com os amigos porque tem receio de não ser compreendidos. A situação pode derivar por exemplo de um trauma sexual, falta de informação sobre a sexualidade, falta de lubrificação, etc . Na primeira vez, há o pânico de sangrar, doer, engravidar ou apanhar uma doença… muitas vezes, este género de conteúdos são passados de uma forma negativa. Cresce-se com a ideia de que, quando acontecer, vai ser mau. Resultado: na tentativa, dói. Também pode ser por via de uma relação sexual que não correu bem. O vaginismo trata-se através de terapia cognitiva e comportamental.

Zonas erógenas

Há uma ideia de que as zonas erógenas são os genitais e as mamas e ficamos por aqui. Quando um casal inicia a terapia, eu digo: ‘a partir deste momento, vão tocar à vez no corpo um do outro, dos pés à cabeça, à exceção das mamas e dos genitais’. Estou a tirar o que é óbvio e a permitir que descubram um corpo até então muitas vezes desconhecido. Uma coisa é uma massagem de relaxamento, outra é tocar no corpo de uma forma sensorial, dando prazer ao corpo. Ao fim de 15 dias e de seis sessões, percebem que o corpo é muito mais sensual do que se pensa. As zonas erógenas intensificam-se: é muito bom no dedo do pé, nas virilhas, na cabeça, na orelha e por aí fora… o corpo tem inúmeras zonas erógenas que não são estimuladas.

Xeque-mate

Não deve existir na sexualidade, pois significa que alguém venceu. Numa relação íntima a ideia não é um deles ganhar, mas vencerem os dois e deve ser consensual.

Texto: Carla S. Rodrigues

 

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