As redes sociais podem contribuir para o aparecimento de perturbações psicológicas

O uso excessivo da internet pode ter impacto na saúde mental e contribuir para o aparecimento de algumas perturbações psicológicas. A Impala falou com duas psicólogas para perceber a realidade vivida em Portugal.

As redes sociais podem contribuir para o aparecimento de perturbações psicológicas

Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de perturbações mentais entre a população. Um em cada quatro portugueses sofre de um problema de saúde mental. Segundo a Ordem dos Psicólogos, aproximadamente metade dos cidadãos – 43% – já teve uma perturbação mental em algum momento da sua vida.

«As pessoas vivem mais anos, mas com incapacidades na área da saúde mental, o que implica uma sobrecarga para a sociedade», afirma Dra. Teresa Santos, psicóloga clínica e Coordenadora de Psicologia da Universidade Europeia e da saúde, e Dra. Eleonora Gonçalves, psicóloga clínica no Grupo de Intervenção e Reabilitação Activa.

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Verifica-se, para as doenças mentais, uma perda de 22% do tempo de vida por incapacidade, segundo o parâmetro DALY [Disability Adjusted Life Years]. Para as doenças respiratórias e para a diabetes os valores estão entre os 4% e os 5%. Ao nível profissional, as pessoas com perturbações mentais tiram em média 3,1 dias por mês, comparativamente a 1 dia que as que não apresentam doença mental.

O número de mortes é baixo e está sobretudo associado ao suicídio, com maior incidência na zona do Alentejo e na maioria em homens.

Ao longo dos anos, Portugal tem apresentado alguns avanços na saúde mental. A rede de serviços locais, os recursos médicos e a vertente ambulatória e de hospitalização de dia aumentou. Os internamentos passaram a ocorrer, na sua maioria, em hospitais gerais.

Existem também vários programas nacionais criados por entidades que visam a inclusão social de pessoas com doenças mentais. O Festival Mental, em Lisboa, é uma das iniciativas criadas. Pretende combater o tabu e o estigma que envolve a saúde mental, através do cinema, artes e informação.

No entanto, as especialistas referem que são necessárias mudanças profundas nos serviços de saúde mental, para que o país possa acompanhar o processo de mudança em marcha na Europa. O Plano Nacional de Saúde Mental continua em fase de implementação. Entre as orientações que defende destaca-se o «maior rigor e qualidade na prescrição de medicamentos na área da saúde mental».

Os números apontam para um aumento do uso de medicação no tratamento de problemas de saúde mental. Só no ano de 2016, foram prescritas perto de 30 milhões de embalagens de psicofármacos, o dobro do registado apenas três anos antes, em 2013.

São as doenças mentais um problema do século 21?

«Infelizmente sim. Os dados da última década evidenciam que principalmente nos países industrializados, as perturbações psiquiátricas se tornaram a principal causa de incapacidade e uma das principais causas de morte prematura», afirmam as psicólogas.

Em 2010, o estudo Global Burden of Disease referenciava as perturbações depressivas como a terceira causa global de doença (primeira nos países desenvolvidos). Prevê-se que em 2030 se assuma como primeira causa ao nível mundial, com possível agravamento de taxas de suicídio e para-suicídio (atitudes suicidas, comportamentos onde há risco de morte ou tentativas mal-sucedidas de suicídio).

Portugal apresenta uma das mais elevadas prevalências de doenças mentais da Europa e uma percentagem significativa de pessoas sem acesso a cuidados de saúde mental. Por sua vez, o uso de antidepressivos em Portugal é de 15%, valor superior face à média Europeia de 7%.

A internet pode ser uma das causas

«O uso excessivo da internet pode ter impacto na saúde mental e contribuir para o aparecimento de algumas perturbações psicológicas», assegura a psicoterapeuta. Existe uma linha ténue que separa o uso produtivo e equilibrado da internet, mais propriamente as redes sociais, versus a dependência da mesma, sendo que esta sim, pode ser patológica.

Esta é uma questão que se relaciona tanto com o grau do uso quantitativo, como com a qualidade dos conteúdos explorados na rede. Alguns autores começam já a falar de um transtorno de dependência de internet, enquadrados no âmbito das perturbações do controlo dos impulsos.

Questionada sobre a melhor forma de ajudar pessoas com doenças mentais as especialistas afirmam que «estar presente e disponível para ajudar» é fundamental. «É importante ouvir, não discriminar, não julgar e não minimizar a ‘dor que não se vê’.»

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Texto: Jéssica dos Santos - Conteúdos Digitais

 

 

 

 

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