Qual é o maior deserto do mundo?

Estes são alguns dos segredos do maior deserto do mundo – tanto o mais quente quanto o mais frio – que são tudo menos aborrecidos.

Qual é o maior deserto do mundo?

De vastas extensões de areias escaldantes a imensos mantos de gelo, os desertos podem assumir diferentes formas. Mas quais são os maiores desertos quente e frio do Planeta? E que tipos de vida podem sobreviver nesses lugares extremamente secos?

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Para responder a esta pergunta, importa considerar o que faz exatamente de um deserto um deserto. Segundo Jonathan Wille, meteorologista e climatologista antártico da Universidade de Grenoble, em França, qualquer região com menos de 25 centímetros de precipitação por ano é considerada desértica.

Antártica é o maior deserto do Mundo

maior deserto do mundo
“Com 14,2 milhões de quilómetros quadrados, a Antártida é o maior deserto do mundo” – Jonathan Wille

Quando consideradas todas as regiões com estas características, a Antártica qualifica-se como o maior deserto frio da Terra. O Saara é o maior deserto quente do mundo. “Com 14,2 milhões de quilómetros quadrados, a Antártica é o maior deserto do mundo“, diz. “Acredita-se que algumas regiões, como os vales secos de McMurdo, não tenham recebido qualquer precipitação nos 14 milhões de anos.” Esta épica falta de precipitação deve-se em grande parte a temperaturas frias, montanhas próximas que bloqueiam as nuvens e ventos fortes que aspiram a humidade do ar.

Mesmo para um deserto, esta região é excecionalmente árida. De acordo com cientistas que fazem parte do projeto LTER (Long-Term Ecological Research) da National Science Foundation na Antártica, os vales secos de McMurdo não têm neve ou gelo, exceto alguns lagos permanentemente congelados. Apesar de tudo, não é completamente estéril. Existem micróbios, musgos e líquenes que podem tolerar o profundo congelamento seco.

Wille – que liderou um estudo em 2021 na revista JGR Atmospheres sobre a precipitação na Antártica – considera que este deserto congelado é frequentemente esquecido. Embora as áreas mais distantes do interior da Antártica sejam na sua maioria desprovidas de vida, afirma que mais organismos, como pinguins, estabelecem-se onde possam pescar e caçar outras criaturas marinhas das águas geladas, e onde, por vezes, as focas desembarcam.

Saara é o maior deserto (quente) do Planeta

André Vicente Luz
“O Saara apresenta características geográficas óbvias que contradizem amplamente a perceção estabelecida” – André Vicente Liz

Previsivelmente, o deserto do Saara, que se estende pelo norte da África, é o oposto da Antártica. Mede 9,2 milhões de quilómetros quadrados, mas, embora alguns possam vê-lo como baldio, é surpreendentemente diverso e revela uma extensa variedade de características geográficas e formas de vida, segundo André Vicente Liz, doutorando da Universidade do Porto.

“O Saara apresenta características geográficas óbvias que contradizem amplamente a perceção estabelecida, principalmente uma paisagem altamente diversificada e com diferentes tipos de vida abaixo da superfície, mas também uma variabilidade espacial considerável no clima”, diz.

As diversas paisagens do Saara incluem não só as suas famosas dunas de areia, mas também terrenos rochosos, salinas, montanhas e savanas que podem mesmo conter água. Houve mudanças drásticas no clima do deserto no passado, o que levou a uma vasta biodiversidade em diferentes regiões do deserto. André liderou um estudo de 2022 – publicado no Journal of Biogeography – que explorou espécies animais do Saara que anteriormente não recebiam praticamente nenhuma atenção.

Em desertos quentes, as criaturas de sangue frio prosperam, porque a temperatura corporal ajusta-se à temperatura do ambiente à medida que se movem da luz do sol escaldante para tocas frias. André Vicente Liz observou muitas espécies de pequenos lagartos que se adaptaram especialmente bem ao ambiente árido.

Saara tem mais vida do que o que se julgava

maior deserto do mundo
Antílopes, camelos, chitas, avestruzes e raposas são apenas alguns dos animais de sangue quente que podem sobreviver no Saara

Alguns répteis e anfíbios também podem hibernar durante os períodos de seca. Além de lagartos, cobras, escorpiões, besouros e formigas e, até, algumas rãs e sapos que vivem em poças rochosas, o Saara também abriga mamíferos e pássaros. Antílopes, camelos, chitas, avestruzes e raposas do deserto são apenas alguns dos animais de sangue quente que podem sobreviver no Saara.

Existem algumas áreas, como as lagoas rochosas conhecidas como “gueltas”, onde a biodiversidade é especialmente alta, porque servem de refúgio a espécies que tiveram de fugir dos seus habitats naturais devido a uma mudança repentina e intolerável do clima. Perante as mudanças climáticas, André e a sua equipa continuam a estudar estas regiões de perto para descobrir o que as torna bons locais para a sobrevivência.

“Estas áreas são conhecidas como ‘refúgios’ de biodiversidade e são especialmente interessantes para o planeamento da conservação no atual contexto de emergência climática, onde podem desempenhar um papel fundamental como amortecedores climáticos”, diz. Portanto, os desertos podem ser lugares enganosos, que só parecem não ter vida enquanto algo rasteje ou deslize. Podem ser secos, mas isso significa tudo menos monotonia.

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