Polícia inglesa ignora ajuda de laboratório norte-americano para encontrar Maddie

A Scotland Yard ignorou uma oferta feita por especialistas forenses para voltar a analisar os vestígios de ADN encontrados no caso da Maddie

Durante a investigação policial portuguesa no caso da Maddie McCann foram recolhidas várias amostras de ADN do apartamento no Algarve, onde a menina de oito anos tinha sido vista pela última vez, e do carro utilizado pela família após o desaparecimento da menina britânica. Na altura, estas amostras de material genético foram encaminhadas e analisadas por um laboratório inglês. Meses depois, os resultados destes exames foram considerados «inconclusivos».

RECORDE McCann e Joana Cipriano raptadas pelas mesmas pessoas, diz detetive

Mark Perlin, um perito em investigação forense norte-americano, revela que ofereceu, gratuitamente, a reavaliação dessas amostras de ADN pelo seu laboratório à Scotland Yard (polícia britânica), em 2018. Até hoje, de acordo com o especialista, nunca obteve uma resposta. Mark Perlin garante que a tecnologia de ponta do seu laboratório pode levar a que se chegue a novas conclusões, que não eram possíveis há 12 anos. Este laboratório norte-americano ficou conhecido por ter ajudado a identificar vítimas nos escombros do 11 de setembro.

Falámos com Sandra Felgueiras sobre o documentário de Maddie. «O Gonçalo Amaral mentiu-me»

A série documental O Desaparecimento de Madeleine McCann, lançada pela Netflix, que conta com informações e depoimentos recolhidos em Portugal, tem a participação de Sandra Felgueiras. A relação da jornalista da RTP com o caso de Maddie prende-se desde o primeiro dia. Sandra Felgueiras acompanhou esta história, esteve no Algarve durante três meses, fez longas horas de direto e inúmeras entrevistas «polémicas, à época», ao casal McCann, tanto na Praia da Luz como em Inglaterra.

Sandra Felgueiras estava na RTP e, de repente, é «surpreendida» com a notícia

A jornalista recorda o dia em que soube do desaparecimento de Madeleine. Corria o ano de 2007. Estava na redação da RTP e, de repente, é «surpreendida» com a notícia. «Criança de três anos desapareceu na Praia da Luz. Os pais ingleses deixaram-na sozinha no quarto com os irmãos enquanto foram jantar.» O contorno desta história deixou-a «intrigada».

Sandra Felgueiras só teve tempo de ir a casa buscar uma muda de roupa e seguiu para o Algarve. «Nunca me passaria pela cabeça ficar uma semana no Algarve. Muito menos um mês. E nós [jornalista e repórter de imagem] ficámos três meses», refere. No primeiro dia, «eram apenas quatro ou cinco jornalistas no local». A profissional da RTP recorda-se de ver um casal, Kate e Gerry McCann, «muito emocionado» na primeira declaração em público, perante os média.

«Por favor, se alguém tem alguma informação sobre a nossa filha, diga-nos», pediam os pais de Maddie

«Lembro-me de ter ficado à beira das lágrimas porque em momento algum me pareceu que eles estivessem a mentir. O nosso impulso era, entre todos, o de ir procurar a criança», confessa. «Os jornalistas não queriam apenas reportar. Queríamos, no limite, encontrá-la. Aquilo começou a tornar-se muito angustiante também para nós.»

«Sonhava todas as noites com a Maddie. Eu ‘via-a’ em quase todo o lado»

A envolvência com o caso foi de tal forma que Sandra Felgueiras «sonhava todas as noites com a Maddie». «Eu ‘via-a’ em quase todo o lado.» Numa praia frequentada por muitos ingleses, a jornalista recorda-se de confundir várias crianças com a menina desaparecida. Depressa a Praia da Luz se tornou num epicentro mediático. «Não tenho memória de um caso que tenha provocado tantos diretos e reportagens como este. A imagem que guardo em mim é o aparato mediático.» Quando os pais de Maddie voltam para a cidade natal, Rothley, em Inglaterra, a jornalista acompanha-os. «Não havia espaço na praça de Rothley para pôr as câmaras todas. Nós [jornalistas] disputávamos o local», conta.

No ano em que Maddie desapareceu, 2007, o Mundo não era o que é hoje. Não existiam smartphones e a informação não era tão facilmente divulgada. No entanto, Sandra foi reconhecida por uma equipa de repórteres de Tóquio que quis entrevistá-la. «O repórter de Tóquio sabia quem eu era, porque tinha visto as entrevistas aos McCann», explica.

Sandra Felgueiras, à data, na Praia da Luz

Ocultação de informação e arquivamento do caso. «Gonçalo Amaral mentiu-me»

Três meses depois do desaparecimento de Maddie, chegam a Portugal dois cães que farejavam sangue e cadáver. A Polícia iniciou uma operação com os animais no apartamento de onde a menina terá desaparecido e no carro alugado pela família McCann. Os cães deram, em simultâneo, sinal no quarto dos pais da criança e na bagageira da viatura. Perante esta evidência, Gonçalo Amaral, primeiro coordenador operacional da investigação, assume esta sinalização dada pelos cães como uma pista «inequívoca». Maddie tinha morrido atrás do sofá por acidente e os pais tinham-na transportado na bagageira do monovolume Renault Scenic.

Para que esta operação realizada com o auxílio dos cães seja válida é necessário ser sustentada por análise científica. A tese de Gonçalo Amaral carece de confirmação pelas análises pendentes no laboratório de Birmingham. Quando os resultados preliminares chegam, o inspetor informa Sandra Felgueiras de que «havia correspondência ao ADN de Maddie». «Em 20 alelos possíveis, cinco tinham sido detetados no apartamento e 17 na bagageira do carro». A jornalista confirmou, com médicos legistas, se perante este resultado a probabilidade de corresponder a Maddie era viável. «Todos responderam que sim, que a probabilidade era alta.»

Sandra Felgueiras avança. «Com base nesta informação, que o Gonçalo Amaral me deu, e sabe que deu, eu confiei», afirma, e deu a notícia

Em julho de 2008, contudo, a jornalista tem acesso ao processo que, até então, era segredo de Justiça. «Quando vou ver o resultado preliminar, de que Gonçalo Amaral me falou, e que o levou a constituir os McCann como arguidos, vejo que o último parágrafo dizia que, apesar de existirem 17 alelos em 20, a amostra era tão insignificante e pequena que havia várias pessoas no laboratório com a mesma identificação genética. Pelo que esta evidência não poderia ser considerada relevante», explica. Sandra Felgueiras sente-se «profundamente enganada». Este parágrafo era determinante para abalar tudo o que se tinha feito antes. «Em momento algum Gonçalo Amaral me disse que a amostra era tão pequena e criminalmente irrelevante», frisa.

Inquérito fechado por falta de evidências

Continue a ler AQUI

LEIA MAIS

Previsão do tempo para quinta-feira, 11 de abril

Imagem gera polémica: «A Kate e o Gerry têm de lidar com estes abusos há 12 anos»

Impala Instagram


RELACIONADOS