Apalpões, estalos e violações: A realidade das mulheres que trabalham em fábricas no Vietname

O número de queixas por parte de trabalhadoras de fábricas de roupa no Vietname aumentou. As mulheres são alvo de abusos e agressões.

Apalpões, estalos e violações: A realidade das mulheres que trabalham em fábricas no Vietname

Os trabalhadores das fábricas de roupa no Bangladesh, que produzem na maioria para grandes marcas nos Estados Unidos e na Europa, submeteram um número recorde de queixas. O alvo são sobretudo mulheres que são vítimas de assédio sexual e violência.

Quase metade das 763 mulheres entrevistadas em fábricas de três províncias no Vietname dizem ter sofrido de violência e assédio no ano anterior, revela um estudo das ONG’s Fair Wear Foundation e Care International, divulgado este domingo, 7 de abril, pelo semanário The Observer.

«Deixa-me chocada que quase 50 por cento das mulheres entrevistadas tenham sofrido alguma forma de violência no ano passado, e eu tenho trabalhado nesta questão nos últimos 30 ano», disse Jane Pillinger, autora do estudo.

A especialista em violência de género acredita ainda que os números poderão ser maiores, uma vez que nem sempre as vítimas apresentam queixa por medo. «Há uma enorme cultura de silêncio em torno disto e, por consequência, os números serão provavelmente ainda maiores: sabemos por comentários que algumas mulheres não responderiam às perguntas nas entrevistas, talvez por temerem que as respostas chegassem de alguma forma aos patrões ou maridos», lamenta.

As condições de trabalho destas fábricas que ‘alimentam’ a indústria da ‘fast fashion’ são fator de exploração. Horas extra em excesso, salários baixos, longos períodos de trabalho e objetivos de produção irrealistas são alguns exemplos da realidade que se vive em locais onde se produzem roupas e calçado de marcas bem conhecidas, refere Annabel Meurs, diretora da equipa do Vietname da Fair Wear Foundation.

Segundo o estudo realizado, as mulheres mais jovens e com melhor nível de educação, além das trabalhadoras migrantes, são as que mais sofrem. O nome das fábricas não foram revelados, mas a probabilidade de incluir marcas europeias e norte-americanas é «muito forte».

«O governo do Vietname tem uma estratégia para atrair a indústria de vestuário [internacional] e construiu fábricas gigantescas que estão a gerar rápidas mudanças sobretudo para os mercados europeus e norte-americanos de roupas, calçado e equipamentos de desporto», diz Jane Pillinger.

A maioria das entrevistadas (87,7%) sofreu abuso verbal e assédio, como comentários inadequados ou ofensivos sobre o corpo de outra pessoa, piadas ou atividades sexuais. Quase metade (49,5%) sofreu de violência ou assédio enquanto viajava de e para o local de trabalho. Um terço (34,3%) sofreu assédio físico, como beijos ou apalpões, agressões com socos ou foi obrigada a inclinar-se. Outro terço (28,9%) sofreu assédio não verbal, como gestos obscenos, sons ou olhares, ou e-mails ofensivos, textos ou comportamentos que comprometiam a sua segurança, como ser perseguidas até casa.

As vítimas trabalham em ambientes de grande pressão e o facto de irem à casa de banho pode ser punido. «Não me atrevo a ir à casa de banho», disse uma funcionária na entrevista. «Se for muitas vezes à casa de banho, recebo menos.»

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