Médico do Porto ignora colegas e retira as duas mamas a doente sem autorização

Susana Tomé acordou da cirurgia sem as duas mamas, no Hospital de São João, no Porto. Só deu consentimento para mastectomia à direita. Médicos vão ser julgados por ofensas à integridade física por negligência.

Dois médicos do Hospital de São João, no Porto, retiraram, sem autorização, as duas mamas a uma doente, sendo que um deles foi alertado para o engano e prosseguiu na mesma com a cirurgia. O episódio remonta a 7 de março de 2016, mas o processo sofreu vários atrasos. Os dois cirurgiões vão começar a ser julgados esta quinta-feira, dia 2 de março, no Tribunal do Bolhão, por ofensas à integridade física por negligência.

Para ler depois
Menino de 10 anos acorda do coma quando médicos desligaram suporte de vida
Nicholas Tadros foi o único sobrevivente de um acidente de aviação e acordou do coma quando os médicos desligaram o suporte de vida. Há quem fale em milagre (… continue a ler aqui)

Susana Tomé entrou no bloco operatório do Hospital de São João, para proceder a uma mastectomia à mama direita, com reconstrução imediata, após ter recuperado de um cancro. Nessa cirurgia ser-lhe-ia colocada uma prótese na mama esquerda, totalmente saudável. No entanto, quando acordou da operação, percebeu que lhe tinham retirado a mama esquerda sem a sua autorização.

Segundo a decisão instrutória que pronunciou os arguidos, estava no processo físico do historial de Susana Tomé um consentimento, assinado pela própria, a informar que a paciente apenas queria retirar a mama direita, opondo-se à mastectomia à mama esquerda, revela o Correio da Manhã.

Contudo, diz o despacho, um dos médicos arguidos não assegurou que essa informação constasse no sistema informático do hospital, levando a que, no bloco operatório, o outro cirurgião se baseasse apenas nos dados inseridos no sistema do hospital e, consequentemente, fizesse a mastectomia à mama esquerda, sem reconstrução.

Refere, ainda, o despacho que este cirurgião foi alertado, em pleno bloco operatório, pela médica anestesista e por duas enfermeiras de que a mastectomia seria apenas à mama direita. Mas este ignorou o aviso e avançou para a operação de retirar ambas as mamas, “agindo a título de negligência grosseira”.

Susana Tomé espera “que seja feita justiça”

Susana Tomé espera “que seja feita justiça e que esta seja rápida e eficaz”, diz ao mesmo jornal. “Quero que os médicos sejam punidos pelo que me fizeram”, afirma. “Nessa altura, o médico sugeriu que fizesse uma mastectomia aos dois peitos, mas não aceitei. Iria ser um abalo psicológico muito forte. Contra a minha vontade, o hospital fez exatamente isso”, explica.

Na altura da operação, o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, era o diretor do Hospital de São João, e vai ser testemunha no processo. Este explicou que, se no bloco dizem ao médico que a mastectomia é de uma forma e gera dúvida, deve-se consultar o processo físico ou acordar a doente.

O despacho de pronúncia da juíza de instrução criminal Isabel Ramos diz, ainda, que o cirurgião que realizou a mastectomia agiu “com elevado grau de culpa”, uma vez que “tinha obrigação de consultar o processo físico” e “deveria ter procurado confirmar a atualidade do consentimento prestado”. Já o outro médico “não assegurou a correspondente inscrição no processo clínico eletrónico, nem tão pouco disso deu qualquer conhecimento direto ao outro arguido”, além de se ter ausentado “do bloco antes da chegada do colega [que realizou a mastectomia] com quem deveria ter verificado a consonância dos procedimentos”.

Fotos: reprodução Instagram

 

Impala Instagram


RELACIONADOS