Incêndio de Castro Marim. 14 animais carbonizados e 6.700 hectares afetados

Pelo menos 14 animais morrem carbonizados em “abrigo ilegal” durante incêndio de Castro Marim. Câmara de Vila Real de Santo António diz desconhecer abrigo. Bombeiros fazem consolidação da extinção de fogo com 6.700 hectares atingidos

Incêndio de Castro Marim. 14 animais carbonizados e 6.700 hectares afetados

O PAN denunciou esta terça-feira a morte de “pelo menos 14 animais” num “abrigo ilegal” no concelho de Vila Real de Santo António, na sequência do incêndio que deflagrou em Castro Marim, e anunciou que vai apresentar queixa.

Em comunicado publicado nas redes sociais, o partido Pessoas-Animais-Natureza dá conta de que se desconhecem que medidas foram tomadas para que se garantisse que “estes animais ficariam a salvo perante a ameaça deste incêndio”.

A Câmara de Vila Real de Santo António diz desconhecer o abrigo onde morreram os animais. O autarca Luís Romão garantiu que o abrigo, situado na localidade de Santa Rita, acolhia animais sem o conhecimento do município, pertencia a um privado e não fez qualquer pedido de ajuda para a sua retirada do local, onde acabaram por morrer no fogo que começou em Castro Marim, alastrou a Vila Real de Santo António e Tavira e foi esta terça-feira dado como dominado, às 16.02 horas.

A Lusa questionou o autarca sobre o motivo de não sido prestado socorro aos animais, depois de o partido PAN ter denunciado esta terça-feira a morte de “pelo menos 14 animais” num “abrigo ilegal” no concelho de Vila Real de Santo António, no incêndio no Algarve.

O partido anunciou que vai apresentar queixa porque os animais se encontravam “num abrigo ilegal, no local de Santa Rita (concelho de Vila Real de Santo António), já sinalizado”, mas o autarca refutou esta ideia e assegurou que não havia conhecimento da sua existência na autarquia.

“Desconhecíamos. Soube dessa informação ainda agora, pelo que percebi é uma coisa particular, ilegal e que nem sequer pediu auxílio nenhum. Nem o serviço municipal de Proteção Civil sabia da sua existência”, afirmou Luís Romão.

O autarca lamentou que, depois de a autarquia ter conduzido “com sucesso” a retirada de cerca de 300 animais do canil e gatil municipal como precaução, devido à aproximação do fogo, transportando-os com o apoio de voluntários para instalações em Tavira e Loulé, tenha tido esta “surpresa” da morte de mais de uma dezena de animais.

“Da mesma forma que retiramos do canil e gatil municipal, podíamos ter feito o mesmo para esses, mas desconhecíamos”, afirmou ainda o autarca.

Numa nota de impressa, o PAN adiantou esta terça-feira que a porta-voz, Inês Sousa Real, “em contacto com as estruturas locais do partido no Algarve, está já a diligenciar no sentido de apresentar uma queixa-crime junto do Ministério Público e de questionar os ministérios da Administração Interna e do Ambiente e Ação Climática” para que “venham cabalmente esclarecer as circunstâncias que levaram a este desfecho”.

“De acordo com a informação feita chegar ao partido, a existência deste espaço, a funcionar em condições ilegais, ao que tudo indica, já havia sido denunciada, sendo, por isso do conhecimento das autoridades competentes”, refere também o partido, informando que irá “questionar a Câmara Municipal quanto à existência deste abrigo”.

Citada no comunicado, Inês Sousa Real salienta uma “enorme consternação” perante “mais um episódio com um desfecho trágico, em que pelo menos 14 animais morreram carbonizados sem que tal tenha sido evitado”, e assinala que aconteceu “pouco mais de um ano volvido desde a morte de cerca de 80 animais no incêndio de Santo Tirso”.

A líder do PAN disse que “este episódio só vem relembrar a inércia da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) perante estes casos ao longo dos anos” e que o de Santo Tirso levou à transferência de competências para o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a quem exige “provas de que o bem-estar animal é de facto uma prioridade, ainda que para o PAN se devesse ter ido mais longe e criado uma Direção-Geral autónoma de salvaguarda do bem-estar animal”.

Bombeiros fazem consolidação da extinção de fogo

Numa conferência de imprensa para fazer um ponto de situação do dispositivo de combate ao fogo, que além de Castro Marim afeitou os concelhos de Vila Real de Santo António e Tavira, Richard Marques manifestou-se satisfeito por o trabalho realizado durante o dia ter permitido garantir que não havia reativações como a que aconteceu na segunda-feira, após o incêndio rural ter sido dado como dominado às 10:20.

“Vamos avançar para um período que, para nós, é bastante importante, um período de consolidação, de rescaldo, e avançar gradualmente para um período de vigilância. O plano gradual de desmobilização vai acompanhar aquilo que é o risco, vamos manter capacidade instalada no terreno que permita fazer face a reativações que possam surgir, tal como apareceram hoje, para garantir que rapidamente se podem debelar caso elas surjam”, afirmou.

Richard Marques disse que o “incêndio foi dominado esta tarde pelas 16:02”, depois de “um trabalho árduo de uma noite que, de acordo com o plano estratégico de ação”, e mesmo “sem janela de oportunidade meteorológica”, permitiu “executar a consolidação”.

“Durante o dia de hoje, e tal como estava previsto, tínhamos uma alteração do quadro meteorológico ao início da tarde, com uma rotação naquilo que era a direção e intensificação do vento, e isso levou-nos a ter uma atenção redobrada para aquilo que poderia ser um volte-face nos trabalhos que foram desenvolvidos”, explicou.

O esforço deu resultado, conseguindo-se também garantir que não havia vítimas, frisou Richard Marques.

“A prioridades foram sempre as pessoas, o socorro e salvaguarda e a vida das pessoas, a defesa do seu património e naturalmente a salvaguarda do ambiente. Houve uma prioridade paralela desde o primeiro momento, a defesa da mata nacional [de Conceição de Tavira]”, referiu.

O comandante das operações de socorro sublinhou ainda que o incêndio, do ponto de vista da propagação, se desenvolveu com muita intensidade, atingindo “uma taxa de expansão média de 650 hectares por hora” e um “perímetro de 43 quilómetros”.

O incêndio afetou uma “área estimada de 6.700 hectares, já [calculada] com recurso ao sistema Copérnico, da União Europeia”, número que representa bem “o trabalho árduo” dos operacionais que combateram o fogo, perante um “potencial de 20.000 hectares” que se previa que as chamas poderiam atingir.

Anteriormente, na conferência de imprensa de hoje de manhã, a Proteção Civil apontava para uma área ardida de 9.000 hectares.

Estiveram envolvidos na operação 613 operacionais, com 205 veículos, oito meios aéreos e 10 máquinas de rasto, tendo sido deslocadas de casa 81 pessoas, segundo a GNR.

Há edificado destruído, mas as três autarquias atingidas pelo fogo ainda não têm um levantamento feito que permita avançar números, embora em Castro Marim tenha havido um negócio de maquinaria agrícola e agricultura afetado, segundo o município.

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