A Rede | O que leva uma pessoa a criar uma identidade falsa nas redes sociais?

‘Catfishing’ consiste na criação de perfis falsos nas redes sociais e é uma realidade cada vez mais comum. Por detrás deste fenómeno estão pessoas que pretendem alimentar o ego sem pensar nas consequências.

As redes sociais trouxeram o fenómeno de autopromoção. O utilizador procura mostrar, cada vez mais, uma vida idealizada e, para isso, faz uma escolha criteriosa de fotografias e mensagens. Associados a este fenómeno surgem também os perigos na internet. A SIC emitiu, esta semana, uma reportagem, A Rede, conduzida por Conceição Lino, onde conta a história de Nuno Ramos, seduzido por uma mulher que roubou as fotos de uma amiga no Facebook para criar uma personagem falsa e falar com ele sobre os pormenores mais íntimos das suas vidas ao longo de um ano. Nuno não foi a única vítima desta ‘rede’.

Os três episódios revelam como uma mulher divorciada, mãe de dois filhos e professora primária construiu uma rede de figuras interpretadas por si, que usava para manter contacto com vários desconhecidos reais através do Facebook. Afinal, o que leva uma pessoa a criar uma identidade falsa nas redes sociais e a estreitar relações com vários desconhecidos? «Este tipo de situações está relacionado com episódios de solidão e quadros de depressão», revela Joana Amorim Alves, psicóloga criminal. Segundo a especialista, as pessoas que criam estas vidas falsas perdem a barreira entre o verdadeiro e o falso.

A mulher responsável pela rede pretendia o «envolvimento emocional destas pessoas»

A psicóloga Carina Lobato Faria ressalva a «existência de um elevado nível de isolamento emocional e baixa auto-critica face à qualidade do afeto recebido, que era dirigido à personagem e não a si», bem como a «presença de uma elevada competência de teatralização das emoções, que são instrumentalmente usadas como ferramentas de manipulação, sedução, culpabilização». A dado momento da reportagem, a suspeita afirma que «tudo começou como uma brincadeira». «Estas pessoas, que criam uma vida idealizada, não pensam nos outros, nem nas consequências que este tipo de situações podem causar às vítimas», esclarece Joana Amorim.

Relativamente ao que poderá justificar estas atitudes, e «independentemente da realidade, dos motivos e das intenções, da pessoa em particular que construiu toda este enredo», para Carina, há um fato incontornável. A mulher responsável pela rede pretendia o «envolvimento emocional destas pessoas, que deveriam tanto quanto possível viver as suas vidas em dedicação a esta personagem/mulher». «Este objetivo, dificilmente expressará alguém com uma vida com significado e com sentido para si; não passasse ele por criar uma realidade paralela, que em pouco ou nada coincide com a realidade. Neste sentido, é pouco provável que quem constrói um enredo deste tipo, não se encontre em sofrimento e instabilidade emocional; preditores de debilidade na sua saúde mental», reitera.

Quem está mais exposto a este tipo de redes sociais?

Para a psicóloga Carina Lobato Faria, qualquer pessoa pode sofrer este tipo de abuso emocional e psicológico. «O que poderá diferir é o tempo que se permanece nesta situação, bem como o grau de vigilância face a determinados factos». No entanto, ressalva, duas ferramentas são usadas em qualquer tipo de manipulação psicológica (seja ela na vida real ou numa “relação virtual” como a que é descrita): a sedução e a isolamento. A primeira é usada como ferramenta de aproximação, e a segunda como ferramenta de manutenção. «Em isolamento a auto-critica diminuiu, pois diminui também a possibilidade que as relações próximas têm de alertar a vitima de manipulação, de factos ou comportamentos que a possam estar a prejudicar e a magoar», considera.

Na era da Internet, Carina Lobato Faria considera a educação emocional tão importante quanto intelectual. Para se ser menos vulnerável, a psicóloga considera ser necessário formar pessoas capazes de, «por um lado, reconhecerem padrões de comportamentos tóxicos, e por outro serem capazes de assertivamente se afastarem dos mesmos».

A justiça não tem em conta os danos pessoais causados por este fenómeno

Existem cerca de 40 roubos de identidade, por dia, em Portugal, segundo as estimativas da empresa de certificações ‘DigitalSign’. A justiça fica muitas vezes aquém desta realidade. «A justiça precisa de factos, coisas palpáveis, e os danos emocionais, que o roubo de identidade pode causar, são difíceis de medir», explica a psicóloga criminal Joana Amorim. A suspeita, retratada na reportagem da SIC, foi condenada a pagar 400 euros a Cláudia Marinho, a quem roubou as fotografias do Facebook; 250 euros a Nuno Ramos; e a pedir desculpas pessoais a todos os envolvidos. A mulher acabou por ser condenada apenas por difamação e roubo de identidade.

Reportagem WIN: Jéssica Mendes

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