Como os McCann foram enganados pelos detectives

Arquivado o caso em Portugal, os McCann recorrem a detectives privados para procurarem a filha Madeleine McCann.

Como os McCann foram enganados pelos detectives

Francisco Marco era o director da agência Método 3 e o chefe de Julien, que admite que este caso era «o maior que a Método 3 alguma vez tinha trabalhado». «Temos a descrição do homem e da mulher envolvidos. Maddie estava viva dois dias após o rapto. Estava num carro. E foi transmitida a outra pessoa que estava em Portugal. Estamos mesmo prestes a encontrar o raptor», dizia Francisco Marco. As declarações do homem rapidamente tiveram eco mundial. Mas Francisco Marco não sabia de nada. Não só não era ele quem estava a fazer a investigação como quem estava não tinha as informações que Francisco abanava em frente à Comunicação Social. É assim que começa o sétimo episódio do documentário O Desaparecimento de Madeleine McCann.

«Era inacreditável. Não tínhamos uma única pista. Não sabíamos quem a tinha levado, nem onde estava, nada», relembra Julien, que diz que ficou embaraçado e chocado

Ao saber da verdade, Brian, o milionário que patrocinava a investigação, fica, obviamente, desolado. Quando confrontado com a mentira, Francisco Marco diz que procurava publicidade. E é o fim da ligação entre os McCann e a Método 3.

Francisco Marco, dono da Método 3

Na investigação, Julien conta que entrou em «chats e páginas da Internet» da deep web, tendo-se infiltrado. Para aceder, apenas é possível por convite. O intuito do detective era obter algo sobre Madeleine. Julien consegue um contacto que lhe envia vídeos e afirma que, ao vê-los, foi «aos sítios mais obscuros do ser humano». «Vi coisas com que terei de viver para o resto da minha vida. Coisas impossíveis de esquecer», diz, sobre os conteúdos de pornografia.

«Tinha de fazer comentários, dizer-lhes o quão boas eram. Era como numa relação. Conquistava confiança aos poucos. Marcou-me. Mudou a minha maneira de pensar», conta Julien

Novos detectives entram em cena

Depois da frustração de cerca de um ano com a Método 3, em 2008, os McCann contratam a empresa norte-americana Oakley Internacional. A instituição de renome prometia tudo. Ex-agentes do FBI, da CIA e do MI6. Kevin Halligen era o presidente da Oakley e o nome dado à investigação do caso Maddie foi Project Omega. A equipa era grande, com pessoas de currículo e esperava-se que fosse agora que se descobrissem pistas consistentes. Mais uma vez, é criada uma linha telefónica para receber pistas. E há também uma equipa a trabalhar no terreno, na Praia da Luz.

detetive Maddie
Kevin Halligen

Oakley reune-se Martin Smith, o irlandês que afirma ter visto um homem a carregar uma criança perto do Ocean Club no dia do desaparecimento, e enviam o especialista da Polícia para desenhar dois esboços com a família do homem que tinham visto.

Os esboços de potenciais suspeitos que ainda continuam em circulação

Depois disto, começam as buscas na área para encontrar homens que correspondessem às descrições. Kevin chega mesmo a investigar um homem que vivia numa carrinha, mas sem conclusões. Pouco mais tarde, o financiamento é posto em causa pelas faturas constantes e por a empresa não fazer o progresso prometido. Kevin diz a Brian Kennedy que, devido ao seu trabalho nos Serviços Secretos norte-americanos, tem acesso a fotografias via satélite de Portugal da noite em que Madeleine desapareceu. E que poderia aceder a essas fotos. Quando as imagens chegam, são meras imagens da vila via Google Earth. Nova desilusão para os McCann.

Brian Kennedy começa a receber queixas de pessoas que não eram pagas. À equipa, Kevin diz que tinha enviado um homem e uma mulher com uma criança de três anos para a Praia da Luz para servir de isco. Chegou mesmo a afirmar que tem um padre bêbado infiltrado. Sabe-se depois que não faziam nada com as pistas que lhes chegavam pela linha telefónica. E descobre-se que Kevin é uma fraude. Um vigarista. Com isto, Kevin não aos empregados e apanha um voo para Roma. Localizam-no e descobrem tudo. Há anos que este homem se faz passar por investigador e vive agora uma vida de luxo às custas do dinheiro para as buscas de Madeleine. As credenciais de investigador são falsas, bem como a data de nascimento. Kevin morre de hemorragia cerebral em 2008. O corpo é encontrado numa mansão. Passam-se 18 meses em que nada é feito no caso uma vez que os dois detectives contratados vigarizaram os McCann.

McCann contratam (outra vez) novo detectives

Em 2008, e após o escândalo anterior, o casal contrata os ex-detectives Dave Edgar e Arthur Cowley. Assim, dois anos após o desaparecimento de Maddie, os detectives trazem a público um incidente recentemente descoberto. Um cidadão britânico, um executivo, diz-lhes que se lembrava de, às duas da manhã, pouco depois do desaparecimento, em Barcelona, ter sido abordado por uma mulher que lhe lhe coloca uma estranha questão. «Veio para me entregar a minha nova filha? Tem a criança?» Apercebendo-se de que este não era o homem com quem deveria falar, afasta-se.

Retrato-robô da mulher em Barcelona

A rede belga de pedofilia

Neste episódio, o sétimo do documentário, a hipótese da rede belga de pedofilia entra no caso de Madeleine McCann. Segundo informações, suspeita-se de que uma rede belga de pedofilia tivesse encomendado uma menina três dias antes do desaparecimento. «Há quem rapte pessoas a mando de outras. Isto tem acontecido ao longo dos anos. Na Internet há catálogos com crianças, com as suas idades, cor de cabelo e tudo mais. Estão à venda. E o que faz a Polícia…? Como é que isto é possível? Quando há indícios de que alguém comete evasão fiscal todos ficam alarmados. Procuram o dinheiro, a pessoa, tudo. Mas quando é com crianças, não há ninguém», reclama Homayra Sellier, presidente da Inocence in Danger.

Kate e Gerry deixam de ser arguidos e Amaral lança livro

Os pais de Madeleine e Robert Murat deixam de constar no processo como arguidos. As Autoridades portuguesas encerram o caso. O casal e a equipa que os ajuda podem ter acesso à investigação para ver o que tinha sido feito. Com o caso arquivado, Gonçalo Amaral lança o livro A Verdade da Mentira. Os McCann revoltam-se. Nas primeiras duas semanas, a obra esgota três edições e tornou-se best seller. Amaral diz que escrever o livro foi uma resposta aos ataques que recebidos durante a investigação do caso. E lança ainda um documentário que passa na TVI, em 2009. Gerry e Kate insurgem-se contra Amaral em tribunal. Pedem a destruição de todas as cópias do livro A Verdade da Mentira. Em 2009, o juiz bane futuras vendas e publicações do livro e do documentário do antigo inspector, mas o tribunal de conflitos inverte a proscrição.

Gonçalo Amaral no julgamento
Texto: Marta Amorim | WiN

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