Diabetes | «Há pessoas que têm uma marca genética para desenvolver a doença»

Cerca de um milhão de portugueses sofrem de diabetes. António e Mariana fazem parte deste grupo e contam como convivem com a doença. Também um especialista revela como os doentes podem melhorar a qualidade de vida, através de hábitos saudáveis.

Diabetes | «Há pessoas que têm uma marca genética para desenvolver a doença»

Cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de diabetes. Esta quinta-feira, 14 de novembro, celebra-se o Dia Mundial da Diabetes, doença que afeta cerca de um milhão de portugueses. Diariamente são diagnosticados com diabetes em Portugal cerca de 200 novos doentes. Estima-se que mais de 500 mil pessoas tenham a doença e não saibam.

LEIA DEPOIS

Cuidados diários a ter com o Pé Diabético para evitar o risco de amputação

Esta forte prevalência da doença «não se deve apenas à má alimentação», segundo Estevão Pape, Internista e Coordenador do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus [NEDM]. «O mau estilo de vida contribui para o aparecimento da diabetes, mas há pessoas que têm uma marca genética para desenvolver a doença».

Diabetes tipo 2 é a mais comum

A diabetes tipo 2 é a mais comum, representando cerca de 90% dos casos. Caracteriza-se pela resistência à insulina e pela diminuição da secreção da insulina. Neste tipo, os doentes podem já sofrer da doença há alguns anos, sem que ela seja detetada.

António não tinha sintomas e descobriu que era diabético numa ida ao médico

António, 80 anos, descobriu que tinha diabetes tipo 2 numa consulta regular no médico. «Há dois anos, fiz análises e descobri que tinha diabetes.» Até então, não tinha qualquer tipo de sintoma, nem historial da doença na família. «No entanto, ao longo da vida sempre comi muitos doces. Desde biscoitos a chocolates e acho que essa pode ter sido a causa», confessa.

Diabetes tipo 1 desenvolve-se de maneira diferente

A diabetes tipo 1 é detetada em idade precoce e desenvolve-se de maneira diferente. Há uma destruição das células produtoras de insulina no pâncreas, o que resulta numa situação mais precoce e aguda da doença.

Mariana descobriu que tinha diabetes após uma visita de estudo

Mariana Vacas, 24 anos, descobriu que tinha diabetes tipo 1 aos nove anos. Esta era uma realidade familiar para a jovem. A mãe e a irmã também são diabéticas. «Já estava alerta para os sinais da doença», revela, relembrando que os sintomas apareceram durante uma visita de estudo: «Tinha passado o dia a beber água. Bebi aproximadamente cinco litros.»

Este é um dos três sintomas clássicos da diabetes. «Outros são comer e urinar muito. Depois há os sintomas secundários, já mais tardios, que se caracterizam pela perda de sensibilidade nas pernas».

A mãe de Mariana foi alertada pela professora e, desconfiada com a probabilidade de a filha ter diabetes, fez-lhe o teste da glicémia. «Os valores estavam muito altos e percebemos, então, que era diabética», explica a jovem. «Lembro-me que fiquei assustada, porque tinha de começar a levar insulina todos os dias. Apesar de ser uma coisa conhecida para mim, sabia que teria de fazer aquilo para o resto da minha vida. Todos os dias».

Médico alerta para a importância da família na redução da diabetes

Para Mariana, a maior dificuldade foi «aprender a lidar com o processo de levar insulina e reeducar a alimentação». «Sou muito gulosa e esse é, ainda hoje, o meu maior problema.» Estevão Pape alerta para a «importância do envolvimento das famílias na consciencialização de hábitos e formas de vida saudáveis». «Começar a reeducar os hábitos alimentares e estabelecer práticas saudáveis em casa é uma das formas mais eficazes para diminuir o impacto da diabetes».

António e Mariana garantem que a diabetes não mudou a sua vida

Desde o diagnóstico que António tem cortado no açúcar. «Passei a evitar os doces, exceto nas festas de família. No dia a dia, substituo o chocolate de leite pelo negro e, em vez de colocar dois pacotes de açúcar no café, uso só um.» Estas alterações foram feitas de forma gradual e António não sente que a diabetes tenha uma conotação negativa na sua vida. «Continuo a ter uma vida normal e a redução no açúcar não me custou muito».

Mariana também considera que tem vivido um processo «tranquilo». «Não sinto que a diabetes tenha impedido a minha vida de forma alguma. Fiz desporto, mantive a minha vida social e na escola sempre tive professores compreensivos. Gosto de pensar que não afetou o meu quotidiano no sentido em que me tenha feito perder algo».

A nível físico, há dois fatores que Mariana ressalta e que foram provocados pelo facto de ser diabética. «Tenho uma doença de pele nas pernas em consequência da diabetes: Necrobiose lipoidica. Fico com manchas tipo psoríase. E também fiquei com a barriga mais saliente porque é onde levo insulina.»

O maior mito em torno da diabetes

«Não poder comer doces» é para Mariana o maior mito em torno da diabetes. «Quando vou almoçar com alguém e peço um chocolate perguntam-me sempre se posso comer. Os diabéticos podem comer de tudo. Têm de ter uma alimentação equilibrada, como toda a gente, apenas com mais cuidados porque têm de administrar insulina consoante o que comem».

Estevão Pape reforça que «não há nada que não se possa comer, mas tudo tem que ter conta peso e medida». Segundo o especialista, a obesidade é o principal fator de risco para a diabetes tipo 2. Prevê-se que até 2050, o número de diabéticos aumente mais de 200 milhões em todo o mundo.

«Temos de ser mais agressivos e mudar o estilo de vida»

«Estamos a tomar medidas mas algumas não estão a surtir efeito. Temos de ser mais agressivos e mudar o estilo de vida daqueles que não têm a a doença, mas que podem vir a ter. É importante identificar os pré-diabéticos muito precocemente.» Para o médico, a sensibilização da comunidade e dos políticos para a Diabetes é uma «obrigação». «A eficácia dos medicamentos para a Diabetes é cada vez maior, mas o seu preço também. Urge, portanto, colaborar em família e na sociedade para a prevenção e não só olhar para o tratamento.»

«A evolução é lenta em Portugal»

Mariana considera que a «evolução das coisas é mais lenta em Portugal». «As novidade demoram a chegar. O aparecimento dos sensores que se ligam aos telemóveis ajudou-me muito a controlar a diabetes, mas foi uma coisa que demorou muito tempo a chegar ao nosso país. Ainda me lembro de tirar insulina com frascos de vidro como antigamente, que é um processo doloroso. Eu e a minha família começámos a ir buscar a insulina em canetas a Espanha, quando ainda não existia em Portugal».

A diabetes está também associada a doenças renais. Estevão Pape revela que «a maioria dos doentes em centros de hemodiálise são diabéticos». «A doença renal crónica é provocada pela deterioração lenta e irreversível da função dos rins. Estes são os responsáveis por filtrar do sangue, o excesso de água e os produtos tóxicos que se formam no organismo. Quando perdem a sua função há uma acumulação de produtos metabólicos tóxicos no sangue (azotemia ou uremia). Os doentes com diabetes podem estar em risco de desenvolver esta doença».

Texto: Jéssica dos Santos; WiN

LEIA MAIS

Todos os dias são diagnosticadas 200 pessoas com esta doença em Portugal

Impala Instagram


RELACIONADOS