Militar acusado de matar Comando diz-se «inocente»

Deisom Camará está detido preventivamente desde novembro de 2018, acusado de matar Luís Teles Lima, no Quartel da Carregueira, no concelho de Sintra.

Militar acusado de matar Comando diz-se «inocente»

É Deisom Camarámilitar dos Comandos, o autor da morte de Luís Teles Lima? A acusação do Ministério Público (MP) descreve que o jovem, de 22 anos, disparou a arma que empunhava, tendo atingido a vítima, também militar, na região peitoral esquerda, que redundou na sua morte». Deisom diz que é inocente e que a vítima se suicidou.

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Relação entre militares era apenas profissional

Deisom Camará está detido preventivamente desde novembro de 2018, acusado de matar Luís Teles Lima, no Quartel da Carregueira, no concelho de Sintra. Segundo o despacho de acusação do MP, o arguido conhecia a vítima (pertencente ao 126.º. Curso de Comandos), desde que terminou o 127.º Curso de Comandos, em novembro de 2016. Entre 4 de setembro de 2017 e 5 de março de 2018, estiveram em missão na República Centro Africana, em Bangui.

No processo, ao qual o Portal de Notícias teve acesso, não constam registos telefónicos entre Camará e Lima, o que sugere que a relação de ambos era apenas profissional. O advogado do arguido, Paulo Mendes dos Santos, refere, em declarações ao nosso site, que «a prova documental, ou qualquer outra, não demonstra qualquer intenção, motivo ou causa para que o arguido pudesse matar a vítima».

Acusação refere que Deisom matou Luís Teles Lima com uma G3

Segundo a acusação, às 18h23 de 21 de setembro de 2018, o soldado Luís Teles Lima foi «de uma forma descontraída à casa da guarda de apoio ao paiol, onde estava de serviço Deisom Camará, onde ambos mantiveram conversa de teor não concretamente apurado».

«Entre as 18h48 e as 18h56, por motivos não apurados, o arguido Deisom Camará empunhou a espingarda automática G3 que lhe estava adstrita em função do serviço de sentinela à casa do paiol que estava a executar, encostando-a ao peito da vítima, encontrando-se o soldado Teles Lima já no exterior da casa do paiol. Em ato contínuo, o arguido disparou a arma que empunhava, tendo atingido a vítima na região peitoral esquerda, que redundou na sua morte.»

Arguido explica a sua versão do que aconteceu naquele dia

De acordo com o depoimento prestado, nos autos de inquirição, assinados pela procuradora do MP, Deisom entrou ao serviço às 17h30. Foi nesta altura que, tal como mostram os registos de mensagens do WhatsApp, iniciou uma conversa com a atual companheira.

Pelas 17h50, Luís Teles Lima entrou no quartel. Não estava de serviço, mas tinha por hábito visitar os outros soldados. Deisom Camará terá trocado breves palavras e Lima terá pegado na G3 do arguido, tirado o carregador e ter-se-á dirigido para o exterior. A confiança entre os soldados não terá levado Camará a suspeitar de nada. De acordo com o militar, não passaram mais do que 15 minutos até ouvir um disparo vindo da rua.

Deisom ligou para o Oficial de Dia ao Regimento de Comandos a pedir ajuda

À hora do alegado crime – entre 18h48 e as 18h56 –, Deisom trocava mensagens com a namorada. A conversa terá terminado pelas 18h55, altura em que o militar ouviu o disparo. Cerca das 18h56, o arguido ligou para o telemóvel de serviço do Oficial de Dia ao Regimento de Comandos a informar que havia um «homem ferido» e que precisava que ligassem para o 112. Dois minutos depois, o Oficial de Dia ligou ao arguido, dizendo-lhe que teria de ser ele a ligar para conseguir dar as instruções ao INEM, mas que se encontrava a caminho do local na companhia do Condutor de Dia.

Militar procedeu a manobras de reanimação

«Pelas 18h59 é efetuada a chamada para o INEM pelo arguido, apesar de Deisom Camará não ter pronunciado qualquer palavra durante os 25 segundos iniciais da chamada», conta o MP. Porém, segundo o depoimento de um tenente, ele e Deisom procederam a manobras de reanimação até os bombeiros chegarem ao local.

Depois, o arguido dirigiu-se ao bar, onde se encontravam outros militares, e descalçou as botas. Nessa altura, o tenente diz-lhe que estão a chamá-lo para prestar diligências. Deisom foi até junto dos peritos que lhe fizeram testes às mãos ainda cobertas com sangue, o que contradiz a informação do relatório da Polícia Judiciária Militar, que refere que o militar terá lavado as mãos. «Não há nenhum documento que o meu cliente tenha assinado em que tenha afirmado isso», garante Paulo Mendes dos Santos. Após a peritagem, o militar regressou para junto dos outros militares e foi então tomar banho.

Acusação diz que Teles Lima andava feliz, mas amigos militares contam outra versão

A acusação descreve que um dia antes da morte, 20 de setembro, Luís Teles Lima almoçou com os amigos e falou sobre as férias que tinha passado na Madeira, de onde era natural. Estaria feliz e sem sinais depressivos. Em fase de inquérito, porém, as declarações de um sargento «amigo próximo» da vítima vêm desvendar um pouco mais. Refere que «a vítima teria sido notificada do resultado positivo nos testes toxicológicos», que «tinha alguns problemas económicos» e que «estava psicologicamente afetada devido à morte do pai», dois anos antes.

Autópsia não permite perceber se se tratou de homicídio ou suicídio

No Requerimento de Abertura de Instrução (RAI) – assinado pelo advogado Paulo Mendes dos Santos – lê-se que na autópsia à vítima, Luís Teles, terá sido possível determinar que «o disparo foi feito a curta distância (de contacto)». «Facto que, ao lado de outros, permite sustentar a tese de suicídio. Mas, mais significativo, [no relatório da autópsia] pode ler-se que não é possível, com segurança, distinguir entre etiologia suicida e homicida», refere o RAI.

O relatório da autópsia revela ainda que a vítima «não tinha quaisquer sinais de defesa». Para Paulo Mendes dos Santos, este é um ponto importante. «Como é que um militar altamente treinado, habituado a cenários de conflito, vê uma arma apontada ao peito e não tenta sequer defender-se?»

PJ Militar afirma que Deisom tinha resíduos de pólvora nas mãos

O advogado de Deisom Camará refere que o laboratório da Polícia Judiciária (PJ) civil indica que a análise das amostras da vítima «não revelou resultados significativos quanto à presença de partículas características ou consistentes com resíduos de armas de fogo», concluindo que, «deste resultado, nada se pode inferir, ao contrário do relatório» da PJ militar.

Arma encontrava-se em posição manual, ou seja, quando dispara os gases saem pelo cano

O Laboratório de Polícia Científica concluiu que Deisom tinha resíduos de pólvora nas mãos, ao contrário da vítima – o que indicia que foi o arguido a disparar, afastando a tese de suicídio. No entanto, a arma em causa, uma G3, encontrava-se em posição manual. O mesmo perito afirma que «quando é feito o disparo, com a arma nesta posição, os gases saem todos pelo cano, sendo improvável ficarem resíduos nas mãos» de quem atira.

Defesa de Deisom quer ouvir soldado que se tentou suicidar com uma G3

A acusação do Ministério Público sustenta ainda que, «atentas as características da arma, sobretudo o comprimento do cano, longo, torna-se manifestamente improvável a ação de disparo sobre o próprio, na zona do coração». Mas o RAI recorda um caso de um antigo militar dos Comandos que tentou suicidar-se – tendo sobrevivido – com uma G3.

Nesse sentido, Paulo Mendes dos Santos refere que «é decisivo» ouvir este antigo soldado, pelo que requereu a sua inquirição na fase de instrução. Pretende, dessa forma, provar se é ou não «manifestamente improvável a ação de disparo sobre o próprio na zona do coração». O julgamento inicia-se no próximo dia 5 de dezembro, no Tribunal de Sintra.

Texto: Jéssica dos Santos; WiN

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