
Bispos marcam para abril pedido público de perdão às vítimas dos abusos
Hoje reunidos em Assembleia Plenária extraordinária para analisar o relatório da Comissão Independente para o estudo dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica em Portugal, apresentado no dia 13 de fevereiro, a CEP reafirmou, também, o “firme propósito de tudo fazer para que os abusos não se voltem a repetir”.
“Como sinal visível deste compromisso, será realizado um memorial no decorrer da Jornada Mundial da Juventude e perpetuado, posteriormente, num espaço exterior da Conferência Episcopal Portuguesa” acrescenta o episcopado em comunicado lido pelo secretário da CEP no final da reunião.
O documento sublinha a necessidade de “ir ao encontro daqueles que foram vítimas desta situação dramática”, às quais a Igreja diz quer “continuar a dar voz para que o seu sofrimento não fique calado”.
Sem grandes medidas concretas para fazer face aos abusos, a CEP adianta que “o processo de reflexão e discernimento iniciado vai continuar, nomeadamente na próxima reunião do Conselho Permanente e na Assembleia Plenária”, em abril.
No documento lido pelo padre Manuel Barbosa, é garantido que a lista com o nome dos alegados abusadores, hoje entregue pela Comissão Independente ao Presidente da CEP e dirigida às dioceses e aos institutos religiosos, “terá o devido seguimento por parte dos bispos diocesanos e superiores maiores, segundo as normas canónicas e civis em vigor”.
“Reconhecemos o trabalho imprescindível das Comissões Diocesanas e da Equipa de Coordenação Nacional e propomos que sejam constituídas apenas por leigos competentes nas mais diversas áreas de atuação, podendo ter um assistente eclesiástico. São valiosas estruturas da Igreja em Portugal, agora mais aptas a responder à problemática dos abusos de menores, nomeadamente no que respeita à prevenção, formação e acompanhamento, contribuindo assim para um ambiente seguro nos espaços eclesiais”, acrescenta a nota da CEP.
Para o episcopado, “as conclusões e sugestões apresentadas [no relatório da Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht] estão a ser tidas em conta” e será feito “tudo o que for necessário, com firmeza, clareza e determinação, para uma cultura de cuidado e proteção dos menores e adultos vulneráveis”.
“Entre outras resoluções, procederemos à revisão das diretrizes da Conferência Episcopal e dos planos de formação dos seminários e de outras instituições, bem como a conveniente preparação de todos os agentes pastorais”, asseguram os bispos.
Quanto às vítimas de abusos, a hierarquia da Igreja Católica deixa “uma palavra de coragem” às “que ainda guardam a dor no íntimo do seu coração para que possam ‘dar voz ao silêncio'”.
“Estamos disponíveis para acolher a vossa escuta através de um grupo específico, que será articulado com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis”, acrescenta.
Sublinhando que “as feridas infligidas às vítimas são irreparáveis”, o episcopado assegura que “se o desejarem”, terão o acolhimento e ser-lhes-á disponibilizado “o devido acompanhamento espiritual, psicológico e psiquiátrico”.
“As estruturas já existentes, criadas em cada diocese e a nível nacional, serão o local para acolher e acompanhar, e as dioceses assumem o firme compromisso de dar todas as ajudas necessárias para que tal aconteça. Nunca enjeitaremos as nossas responsabilidades e comprometemo-nos ainda a encetar contactos com as instituições que já estão no terreno, para sermos parte da resolução desta problemática que é transversal a toda a sociedade”, frisa a CEP.
Os bispos manifestam, ainda, “‘tolerância zero’ para com todos os abusadores e para com aqueles que, de alguma forma, ocultaram os abusos praticados dentro da Igreja Católica” e reconhecem “a necessidade de estruturas concretas para o seu acompanhamento espiritual, pastoral e terapêutico”.
No comunicado, é também deixado um agradecimento pelo “trabalho da Comissão Independente pedido pela Conferência Episcopal Portuguesa, que tinha desde o início objetivos e prazos definidos” e, a todos os fiéis e sacerdotes “que servem a Igreja e que neste momento sofrem com os impactos deste estudo”, é manifestada “proximidade e encorajamento, na esperança de que estas circunstâncias (…) estimulem à renovação da própria Igreja”.
A Comissão Independente validou 512 dos 564 testemunhos recebidos — entre janeiro e outubro de 2022 -, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815. Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos no período compreendido entre 1950 e 2022, o espaço temporal que abrangeu o trabalho da comissão.
O sumário do relatório, contudo, revela que “os dados apurados nos arquivos eclesiásticos relativamente à incidência dos abusos sexuais devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg'”.
Hoje de manhã, a comissão entregou à CEP a lista dos alegados abusadores.
JLG/SR // ZO
By Impala News / Lusa
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