Bispo José Ornelas admite indemnizações da Igreja às vítimas de abusos sexuais

O bispo José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, disse não estarem excluídas indemnizações por parte da Igreja Católica em Portugal a vítimas de abusos sexuais, numa entrevista publicada hoje pelo jornal El País.

Bispo José Ornelas admite indemnizações da Igreja às vítimas de abusos sexuais

“Não está contemplado nem está excluído”, disse José Ornelas, questionado pelo jornal espanhol por que motivo a Igreja portuguesa não decidiu fazer o mesmo que outras, como a francesa, que indemnizou as vítimas de abuso sexual “de forma geral”. “Eu penso que deve ser uma coisa personalizada, não mandar as pessoas simplesmente ir buscar uma esmola à Igreja. Precisam de um ato de justiça. Eu não posso dar-lhes 15.000 ou 20.000 euros e as coisas ficarem resolvidas. As ajudas nunca vão cobrir o sofrimento, mas podem servir para dizer ‘eu já não sou o culpado disto e não estou sozinho'”, acrescentou. O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse que nunca afirmou que as indemnizações fossem um insulto. “Aquilo que digo é que tenho dificuldade em pôr um preço ao sofrimento”, sublinhou José Ornelas.

Leia depois
Vítimas de abusos sexuais na Igreja pedem ajuda a associação após relatório
A associação Quebrar o Silêncio, de apoio a homens vítimas de abusos sexuais, recebeu cinco pedidos de ajuda de vítimas da Igreja católica nos últimos três dias, apontando que as notícias estão a deixar as vítimas em crise (… continue a ler aqui)

O bispo disse na mesma entrevista que, no comunicado que a CEP divulgou sobre este assunto, está escrito que “a Igreja não vai recusar a sua responsabilidade” e que em “termos penais, a responsabilidade é individual, mas as pessoas que foram abusadas terão apoio para recuperar a sua paz na medida do possível”. Está em causa, afirmou, “um apoio que começa pelo psicológico, psiquiátrico ou espiritual” para quem o desejar e a Igreja já o assumiu em alguns casos. “Sobre as indemnizações, terá de ser falado com as próprias vítimas. Não é adequado que eu estabeleça um preço”, reiterou. O bispo insistiu em que “há uma disposição para ir ao encontro das pessoas” e “além da terapia, algumas terão outras necessidades” e a Igreja nunca deixará uma vítima sozinha. “Não está fechado que nós paguemos apenas as consultas e basta. Há pessoas que podem dizer que têm de escolher entre comprar medicamentos e comprar comida”, afirmou.

“Sobre as indemnizações, terá de ser falado com as próprias vítimas”

No dia 03 de março, numa conferência de imprensa após a Assembleia Plenária extraordinária da CEP dedicada, exclusivamente, à análise do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal, José Ornelas havia remetido eventuais indemnizações às vítimas para os seus autores, indiciando que não haveria lugar a indemnizações por parte da instituição. “Quanto ao apoio às vítimas, a questão das indemnizações é clara, tanto no Direito Canónico, como no Direito Civil. Se há um mal que é feito por alguém é esse alguém que é responsável, para falar de indemnização”, afirmou naquele dia. “Falar de ajuda e apoio às vítimas – que é justo que o tenham – isso é uma prioridade para nós”, declarou, garantindo que “ninguém vai deixar de ter acesso a tratamento [psicológico] por falta de meios”. Insistindo que no Direito Canónico e no Direito Civil “as penas e indemnizações são do direito pessoal”, o também bispo da Diocese de Leiria-Fátima reafirmou que a Igreja Católica quer fazer justiça “e a justiça faz-se com um procedimento reto e justo”.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815. Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação. Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.

 

Impala Instagram

Mais

RELACIONADOS