Auxiliar de Saúde tem covid-19 mas marido e filhos não foram testados

Zilda Pinto testou positivo e está em isolamento há 15 dias. Autoridades não testaram o agregado familiar e o marido da funcionária terá de regressar ao trabalho sem saber se está infetado.

A auxiliar de Saúde do Centro de Saúde de Matosinhos, Zilda Pinto contraiu covid-19 em serviço. Testou positivo em 3 de abril e já não regressou às suas funções. «Por causa de outros problemas de saúde, decidiram que seria melhor ficar internada. Entretanto, ao fim de cinco dias, o médico achou melhor eu vir para casa, mesmo estando a fazer hidrocloroquina, lipinovir e ritorovir. Têm sido dias difíceis, principalmente pelo abandono. Nunca tive um telefonema por parte de ninguém. Pelo contrário, eu é que perdi a conta aos telefonemas que fiz para várias entidades sem que alguém me conseguisse esclarecer. No dia 15, uma administrativa da saúde pública da Maia conseguiu ajudar-me. Ninguém me tinha referenciado no sistema. Ninguém quis saber com quem eu tinha estado em contacto. Se o meu marido e os meus filhos estavam bem», conta, em exclusivo, ao Portal de Notícias da Impala.

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«Não é normal ter de ser eu a ligar para saber o resultado» do teste à covid-19

Zilda dirigiu-se, no dia 17, ao hospital para repetir o teste e ver se já estava sem sinais do novo coronavírus. Contudo, segunda conta, apesar da marcação antecipada, teve de «reclamar, porque não aparecia no sistema». «Entre reclamações e pedidos, lá fiz o teste e disseram-me para que aguardasse um telefonema, ou mensagem. Assim, com a ansiedade à flor da pele, estou eu… As horas passam e de cada vez que me sinto pior começo a fazer telefonemas porque não acho normal tanta demora. Trinta horas passaram e, mais uma vez, parece que se esqueceram de me avisar se o teste continua a dar positivo. Não é normal ter de ser eu a ligar para a, b, ou c para saber o resultado», protesta.

Agregado familiar não foi testado por não apresentar sintomas

Zilda Pinto, que ainda não recebeu o ansiado negativo, teme agora pelo marido e pelos filhos. Os membros do agregado familiar não foram testados «por estarem assintomáticos». «Dizem que para o meu marido fazer o teste não pode ser o médico de família a fazer o pedido porque “não apresenta sintomas”. E explicam que “tem de ser a delegação de Saúde” a efetuar o pedido», refere. «Tenho ligado dezenas de vezes à responsável, mas sem sucesso.»

«Começo a ter vergonha de ser profissional de Saúde»

Zilda Pinto diz estar «cansada». Teme a existência de mais pessoas na mesma situação, para as quais está a ser «muito difícil fazer o teste depois do isolamento». «Como é que é possível ninguém querer saber? Quantas pessoas estão na mesma situação que eu? Quantas andaram na rua sem qualquer controlo?». A auxiliar de Saúde diz sentir vergonha. E pede ajuda. «Por favor, haja alguém que me ajude, pois neste momento começo a ter vergonha de ser profissional de Saúde. Sinto-me mais abandonada do que qualquer outro ser humano. Nunca tratei assim os utentes que tive a meu cargo.»

Texto de Cynthia Valente

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