Vítimas de ataque cardíaco podem vir a ser tratadas com veneno mortal de aranha australiana

Cientistas australianos descobriram um tratamento que pode vir a salvar vítimas de ataque cardíaco à base do veneno de uma das aranhas mais mortais do mundo.

Vítimas de ataque cardíaco podem vir a ser tratadas com veneno mortal de aranha australiana

Ainda em fase de testes, um medicamento desenvolvido a partir de uma molécula do veneno de uma das mais mortais aranhas do mundo pode vir a prevenir os danos causados ​​por um ataque cardíaco, bem como prolongar a vida de corações transplantados. A descoberta foi feita por uma equipa liderada pelo professor Peter Macdonald, do Instituto de Pesquisa Cardíaca Victor Chang, na Austrália, e de colegas da Universidade de Queensland. Macdonald disse que este resultado incrível levou décadas para a ser desenvolvido.

“Isto não só ajudará centenas de milhares de pessoas que têm um ataque cardíaco todos os anos, mas também poderá aumentar o número e a qualidade dos corações de doadores, o que dará esperança aos que aguardam na lista de transplantes.” Palpant, médico do Instituto de Biociência Molecular (IMB) daquela universidade, disse que o medicamento funciona interrompendo um “sinal de morte” enviado pelo coração na sequência de um ataque.

“Após um ataque cardíaco, o fluxo sanguíneo para o coração é reduzido, resultando em supressão de oxigénio ao músculo cardíaco. A falta de oxigénio faz com que o ambiente celular se torne ácido, o que se combina para enviar uma mensagem às células do coração para que morram”, explica o investigador. “Apesar de décadas de pesquisa, ninguém foi capaz de desenvolver uma droga que interrompa este sinal de morte nas células do coração, o que é uma das razões pelas quais as doenças cardíacas continuam a ser a principal causa de morte no mundo.”

Palpant testou o potencial medicamento à base da proteína Hi1a em células do coração humano pulsantes expostas a stress cardíaco para testar  se a droga melhorava a sua sobrevivência. “A proteína Hi1a do veneno da aranha bloqueia os canais iónicos sensíveis ao ácido no coração e, de facto, a mensagem de morte é bloqueada, a morte celular é reduzida e há melhoria substancial na sobrevivência das células cardíacas.”

Além de reverter ou até evitar um ataque cardíaco o medicamento pode ser fulcral no tratamento de AVC

Atualmente, não há medicamentos em uso clínico que previnam os danos causados ​​por ataques cardíacos, mas com este fármaco à base de veneno de aranha “os transplantados podem vir a beneficiar muitíssimo”. “A sobrevivência das células do coração é vital nos transplantes de coração e medicá-los com Hi1a reduz a morte celular e aumenta tanto as possibilidades de sucesso do transporte dos órgãos como a probabilidade de um transplante bem-sucedido”, afirma Macdonald.

“Por norma, o coração do doador pára de bater por mais de 30 minutos antes da recuperação, órgão deixa de poder ser usado. Se pudermos aumentar o tempo de sobrevivência do coração fora do corpo, mesmo que apenas em mais 10 minutos, essa pode ser a diferença entre salvar uma vida ou não. Para as pessoas que estão literalmente às portas da morte, isso pode mudar-lhes a vida.”

A proteína do veneno desta aranha mostrou melhorar também significativamente a recuperação dos AVC, “reduzindo surpreendentemente os danos no cérebro, mesmo quando administrada até oito horas após o início do derrame”, acrescenta o professor Glenn King, também da Universidade de Queensland. “A nossa visão para o futuro das vítimas de ataque cardíaco ou AVC é a de que a Hi1a possa ser administrada por socorristas ainda na ambulância, o que realmente mudaria os problemas resultantes dos acidentes cardíacos.”

Sarah Scheuer, outra das responsáveis pela investigação, publicada na revista Circulation, explica que olhou inicialmente apenas para o efeito do veneno, mas percorreu um caminho totalmente novo de descoberta quando foi identificado um outro caminho específico que desempenhou um papel fundamental em danificar o tecido cardíaco após a perda de oxigénio nos tecidos celulares.

“Descobrimos que um canal iónico com detecção de ácido desempenhou um papel significativo nos danos do coração. Ao bloquear esse canal, fomos capazes de evitar alguns dos ferimentos que geralmente ocorrem”, certificou. A proteína foi testada em células cardíacas humanas e a equipa pretende agora iniciar testes clínicos em humanos, tanto para AVC quanto para doenças cardíacas, “dentro de dois a três anos”, iniciando-se uma nova forma de reverter os danos de ataques cardíacos com este potente antídoto derivado do mortal veneno de aranha.

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