Ucrânia: Posição da China “determinante” para futuro das relações com EUA

A posição da China face à invasão da Ucrânia será “determinante” para o futuro das relações com os EUA, dizem analistas, na véspera dos líderes chinês e norte-americano falarem

Ucrânia: Posição da China

A posição da China face à invasão russa da Ucrânia vai ser “determinante” para o futuro das relações entre Pequim e Washington, apontaram analistas, na véspera de os líderes chinês e norte-americano falarem por telefone.

Evan Medeiros, especialista em assuntos da Ásia do governo de Barack Obama, afirmou, durante um seminário virtual organizado pelo ‘think tank’ German Marshall Fund, que o Presidente norte-americano Joe Biden quer transmitir ao líder chinês, Xi Jinping, que a China corre o risco de causar “danos irreversíveis” às relações com Washington. “Não são apenas os custos muito altos de cruzar esses limites – fornecer assistência militar, campanhas conjuntas de desinformação — mas, (…) uma vez ultrapassados, não há volta atrás”, afirmou. “A mensagem para os chineses agora é que há, basicamente, uma variedade de opções futuras para o relacionamento. Algumas muito sombrias, outras mais moderadas”, acrescentou Medeiros.

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Biden e Xi vão falar hoje por telefone, numa altura em que os Estados Unidos tentam impedir a China de prestar apoio, militar ou económico, à Rússia. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse na quinta-feira que Biden “deixará claro que a China será responsabilizada por quaisquer ações que tome em apoio à agressão da Rússia”.

“Estamos preocupados com o facto de eles estarem a equacionar ajudar diretamente a Rússia com equipamento militar que será utilizado na Ucrânia. O Presidente Biden vai falar com o Presidente Xi e vai dizer-lhe claramente que a China será responsável por qualquer ato que vise apoiar a agressão russa, e que nós não hesitaremos em impor-lhe o preço”, disse Blinken, em conferência de imprensa.

O chefe da diplomacia norte-americana reiterou que a China tem a “responsabilidade de fazer uso da sua influência junto do Presidente [russo, Vladimir ] Putin, e de defender as regras e os princípios internacionais que afirma apoiar”. “Mas, pelo contrário, parece que a China está a ir na direção oposta, ao recusar-se a condenar esta agressão, enquanto tenta apresentar-se como um árbitro neutro”, lamentou.

Akio Takahara, professor da Universidade de Tóquio e antigo diplomata em Pequim, considerou que um fator-chave é entender se Xi está plenamente ciente da profundidade da indignação global e do custo potencial de se alinhar com Putin.

“O grau de responsabilidade está a aumentar a cada dia. Se [Putin] recorrer ao uso de armas químicas ou até armas nucleares, subirá ainda mais”, disse Takahara, durante o seminário da German Marshall Fund.

“Não sei se as pessoas ao redor [de Xi] lhe estão a dizer a verdade sobre a situação internacional, essa é uma grande preocupação que temos”, acrescentou o académico. “Espero que [Xi] perceba a situação real por meio de conversas com líderes internacionais, como o presidente Biden”, apontou.

Poucas semanas antes da invasão, Xi e Putin emitiram uma declaração conjunta que delineou a visão para uma nova ordem mundial. Pequim negou que soubesse então dos planos de invasão de Putin. Para a liderança chinesa, dizem os analistas de política externa, os EUA são o seu maior rival estratégico e manter a Rússia como parceiro dá a Pequim alguma vantagem nas negociações com Washington. Os analistas acreditam que a China deverá manter os laços económicos com a Rússia, mas que continuará a abster-se de ajudar Moscovo a contornar as sanções impostas pelo Ocidente.

Hu Wei, uma analista chinês que presta aconselhamento ao Governo central, afirmou esta semana que a China deve “distanciar-se” da Rússia o “mais rápido possível”, apontando o conflito na Ucrânia como o evento geopolítico mais significativo desde a Segunda Guerra Mundial.

“A China só pode salvaguardar os seus próprios interesses ao escolher o menor de dois males, afastando-se da Rússia o mais rápido possível”, apontou Hu Wei, num documento publicado em chinês, e a que a agência Lusa teve acesso.

Pequim “deve evitar jogar com os dois lados, abdicar da neutralidade e escolher a posição dominante no mundo”, acrescentou Hu, que é vice-presidente do Centro de Pesquisa de Políticas Públicas do Gabinete do Conselho de Estado.

“Para demonstrar o papel da China como uma grande potência responsável, a China não apenas não pode apoiar Putin, como também deve tomar ações concretas para evitar” que o conflito escale, defendeu Hu.

 

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