Mais de cem ONG ucranianas defendem impossibilidade de eleições em 2024

Mais de cem organizações não-governamentais ucranianas defendem que não há condições para a realização de eleições na Ucrânia em 2024, devido à guerra no país desencadeada pela invasão russa no ano passado.

Mais de cem ONG ucranianas defendem impossibilidade de eleições em 2024

Mais de cem ONG ucranianas defendem impossibilidade de eleições em 2024

Mais de cem organizações não-governamentais ucranianas defendem que não há condições para a realização de eleições na Ucrânia em 2024, devido à guerra no país desencadeada pela invasão russa no ano passado.

As organizações ucranianas de direitos humanos emitiram um apelo público afirmando que as eleições gerais e a guerra em grande escala são incompatíveis, informou o ZMINA.Center for Human Rights, citado hoje pelo jornal ucraniano Euromaidan.

Segundo a publicação, as ONG respondem desta forma aos críticos estrangeiros, afirmando que a realização de eleições em tempo de guerra “poderia minar a unidade nacional e proporcionar oportunidades para a desinformação russa”.

Em concreto, é referido o senador republicano norte-americano Lindsey Graham, que defendeu no mês passado em Kiev que concorda com o apoio financeiro e militar de Washington à Ucrânia, na condição de realizar eleições mesmo que o país esteja sob ataque russo.

Entre as organizações contam-se a Transparência Internacional Ucrânia, a Escola de Economia de Kiev, a Rede Civil OPORA, o Movimento CHESNO e outras, que afirmam que a ideia de eleições durante o conflito “é perigosa e levará à perda de legitimidade tanto do processo como dos corpos eleitos e pode desestabilizar significativamente o Estado como um todo”.

De acordo com o apelo das ONG, as eleições por si só não constituem democracia e o mero ato de votar não prova que um regime seja verdadeiramente democrático e só seriam livres se fosse possível uma disputa política competitiva durante a campanha.

“As eleições não são um dia de votação, mas um debate entre diferentes partidos sobre o melhor programa para o desenvolvimento do Estado. Esse diálogo pode ser extremamente acalorado e insuportavelmente aberto, mas é a única forma de garantir um processo verdadeiramente democrático”, sustentaram.

Por outro lado, recordam que o país se encontra em lei marcial, que, à luz da Constituição ucraniana, proíbe a organização de eleições, incluindo presidenciais, em tempo de guerra, devendo todas as autoridades em exercício dos cargos manterem-se em funcionamento pleno e unidas.

A lei marcial abrange a Verkhovna Rada (parlamento) da Ucrânia, que preserva os seus poderes até à primeira reunião da primeira sessão do órgão eleito após o levantamento das restrições.

“Tais disposições estão alinhadas com os princípios seguidos por outros países democráticos. Quaisquer tentativas de alterar a legislação para tornar as eleições em tempo de guerra ‘formalmente legais’ contradiriam o espírito da Constituição e os padrões internacionais”, referem.

Outros impedimentos prendem-se com a incapacidade de participação de militares destacados para o combate ou eleitores residentes no estrangeiro.

“Isto poderia minar a unidade nacional, uma vez que verdadeiros heróis lutam e arriscam as suas vidas, enquanto os políticos lutam cinicamente pelo poder. Além disso, as campanhas de desinformação, amplamente difundidas pela Rússia na Ucrânia e a nível mundial, podem deslegitimar o processo e os resultados eleitorais, minando a credibilidade dos organizadores e participantes”, alertam as ONG, que apontam também a impossibilidade de garantir a plena da liberdade de imprensa e de expressão.

Segundo o balanço mais recente do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de seis milhões de ucranianos abandonaram o seu país devido à invasão russa.

Realizar eleições durante a guerra seria ainda “uma luta” num contexto em que 20% do país se encontram ocupados e outros 20% ao alcance imediato da artilharia russa

“Sendo um Estado que valoriza muito a vida e a saúde humanas, a Ucrânia não pode arriscar a vida de milhões de cidadãos quando a Rússia ataca ativamente civis em todo o país”, advertem, acrescentando: “Além disso, um potencial ataque massivo de mísseis no dia das eleições poderia tornar as assembleias de voto inacessíveis e perturbar totalmente o processo”.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já se tinha referido, com argumentos semelhantes aos que são agora invocados pelas ONG, às próximas eleições presidenciais e parlamentares, numa conferência realizada em 08 de setembro em Kiev, mas sem fechar a porta.

“Os representantes americanos levantaram a questão”, acrescentou o chefe de Estado um dia depois de uma visita à capital ucraniana do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, observando que está pronto para a votação “se o povo precisar”.

“Não é uma questão de democracia”, mas “apenas de segurança”, indicou Zelensky, que se mantém como o político mais popular da Ucrânia.

Entre as dificuldades a ultrapassar, mencionou a organização da votação para dezenas, até mesmo centenas de milhares de soldados “nas trincheiras”, e a de enviar observadores internacionais para a zona de guerra, onde continuam violentos combates e bombardeamentos.

Também disse que o país não tem infraestruturas para organizar a votação para milhões de refugiados ucranianos e poderia potencialmente montar uma votação ‘online’, mas que ainda não existe na Ucrânia.

“Tenho uma pergunta para os nossos parceiros: vocês reconhecerão tal votação?”, questionou então Zelensky.

O chefe de Estado questionou igualmente o destino dos ucranianos que vivem nas zonas ocupadas pela Rússia: “Como vão expressar a sua vontade?”, finalizou.

HB // PDF

By Impala News / Lusa

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