Espanha/Eleições: Coligação à esquerda dos socialistas acaba com protagonismo de Podemos

Os partidos à esquerda dos socialistas espanhóis vão apresentar-se juntos nas legislativas nacionais de 23 de julho liderados pela dirigente comunista e ministra do Trabalho Yolanda Díaz, que assim acaba com a hegemonia do Podemos neste espaço político.

Espanha/Eleições: Coligação à esquerda dos socialistas acaba com protagonismo de Podemos

A coligação eleitoral da extrema-esquerda espanhola foi hoje formalizada, no último dia permitido pela lei, depois de semanas de negociações entre o movimento de Yolanda Díaz, o Somar, e mais de dez partidos, de âmbito nacional, regional e local, entre eles, o Podemos, que só esta sexta-feira disse que se juntava às outras forças, embora com críticas e lamentando as condições que lhe estão a ser impostas.

Foi já ao início da noite que o Podemos assinou um acordo para entrar na coligação eleitoral do Somar, segundo fontes dos dois partidos citadas por diversos meios de comunicação social.

Antes, a secretária-geral do Podemos, Ione Belarra, numa declaração transmitida nas redes sociais, tinha garantido “a assinatura” do partido na coligação eleitoral, mas pediu um “acordo justo” em relação às listas de candidatos, que podem ser apresentadas até 19 de junho, sem vetos de nomes por parte do Somar e com a garantia de que haverá deputados eleitos da força que lidera.

“Com a última proposta que nos fez a equipa de Somar, o Podemos poderia ficar sem representação no Congresso dos Deputados”, disse Ione Belarra.

A direção nacional do Podemos aceitou integrar a coligação liderada por Yolanda Díaz após dias de pressão nesse sentido por parte das estruturas regionais, num isolamento da cúpula do partido.

O Podemos, fundado em 2014 por Pablo Iglesias, faz parte da coligação que governou Espanha na legislatura que agora termina, liderada pelo Partido Socialista (PSOE).

O partido tem liderado e dominado o espaço à esquerda dos socialistas na última década e transformou a política de Espanha, contribuindo para acabar com a hegemonia do PSOE e do Partido Popular (PP, direita) e com um bipartidismo de 40 anos.

Porém, nas eleições regionais e municipais de 28 de maio, o Podemos teve um resultado considerado desastroso, com perda de votos e poder institucional por todo o país. Desapareceu, por exemplo, do parlamento autonómico de Madrid, Valência ou Canárias e ficou sem representação em autarquias como a da capital espanhola.

O resultado do Podemos em 28 de maio foi o culminar do desgaste dos protagonistas do partido que fazem parte do Governo, em especial, a ministra da Igualdade, Irene Montero, a cara de uma agenda e um discurso considerado radical por boa parte dos espanhóis, de uma fação dos socialistas e de outros partidos da esquerda.

Irene Montero foi também a protagonista de leis polémicas, como a que mudou os crimes sexuais, que diminuiu penas de mais de 1.200 violadores e recebeu críticas das Nações Unidas e do Tribunal Supremo espanhol, num dos casos que mais afetou a imagem do Governo nos últimos meses.

Na declaração de hoje, a líder do Podemos assumiu que há um veto ao nome de Irene Montero nas listas eleitorais de 23 de julho por parte do Somar, o que considerou inaceitável, injusto e “um tremendo erro político”, por a ministra da Igualdade “ter levado mais longe as transformações feministas do que qualquer outra pessoa antes” em Espanha e ser “o principal ativo político” do partido.

O Podemos tem também protagonizado divisões internas e com outros partidos da plataforma Unidas Podemos (UP), a estrutura que liderava e que formou a coligação governamental com o PSOE.

Uma dessas divisões deu-se, precisamente, com Yolanda Díaz, que há alguns meses criou o movimento Somar e recebeu o apoio da generalidade dos partidos que estavam na UP, num isolamento do Podemos.

Yolanda Díaz, uma política da Galiza, era praticamente desconhecida no resto de Espanha quando, no início de 2020, Pablo Iglesias a levou para o Governo nacional como ministra do Trabalho.

Segundo sondagens publicadas antes das eleições regionais e municipais de 28 de maio, Yolanda Díaz é o elemento do Governo como mais popularidade e uma das políticas espanholas que mais simpatia gera no eleitorado.

Não foi, porém, ainda a votos, o que acontecerá em 23 de julho, nas eleições legislativas que o primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez, decidiu antecipar depois da derrota da esquerda no escrutínio de maio.

Sondagens publicadas nos últimos dias dizem que a direita do PP vai ganhar em 23 de julho, mas sem maioria absoluta, que só conseguiria com uma aliança com a extrema-direita.

Segundo as mesmas sondagens, uma coligação que junte toda a extrema-esquerda conseguirá eleger mais deputados e com isso ameaçar a possibilidade de maioria absoluta da direita e extrema-direita.

O grupo parlamentar da Unidas Podemos tinha 35 deputados no parlamento dissolvido na semana passada.

MP // SCA

By Impala News / Lusa

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