Deputada propõe monumento em Paris para assinalar chegada dos imigrantes portugueses

A deputada socialista Nathalie Oliveira propôs à Câmara de Paris a instalação de um monumento de homenagem aos milhares de portugueses que chegaram à Gare de Austerlitz, a tempo das comemorações dos 50 anos da revolução do 25 de Abril.

Deputada propõe monumento em Paris para assinalar chegada dos imigrantes portugueses

Deputada propõe monumento em Paris para assinalar chegada dos imigrantes portugueses

A deputada socialista Nathalie Oliveira propôs à Câmara de Paris a instalação de um monumento de homenagem aos milhares de portugueses que chegaram à Gare de Austerlitz, a tempo das comemorações dos 50 anos da revolução do 25 de Abril.

“Eu já tinha passado muitas vezes pela Gare de Austerlitz e perturbava-me o facto de não encontrar nada que aludisse à passagem de tantos imigrantes, milhares de portugueses, nesta estação. No final de agosto, voltei a passar por lá e senti uma presença muito forte dos nossos. Andei a procurar outra vez e nada, liguei ao historiador Vítor Pereira que me confirmou que não havia nada e eu disse: ‘Não pode ser assim'”, disse a deputada, em declarações à agência Lusa.

Assim, esta semana, Nathalie Oliveira, a primeira eleita para o parlamento português nascida em França, reuniu-se com Laurence Patrice, vereadora pela Conservação da Memória de Paris, e propôs a criação de um monumento que assinale a passagem dos portugueses na Gare de Austerlitz.

“Tive algum receio que a ideia não tivesse muita atenção, mas não, a vereadora mostrou-se muito entusiasmada”, declarou a deputada socialista.

Nos anos 1960 e 1970, muitos portugueses, vindos a salto, chegavam à fronteira entre Espanha e França, mais precisamente à cidade francesa de Hendaia, fazendo depois o resto do caminho para Paris em comboio e chegando à emblemática Gare de Austerlitz. Muitos instalavam-se nos 13.º e 14.º bairros, mais próximos desta estação, onde na altura havia muitas fábricas, enquanto outros partiam para a periferia da capital.

Chegavam tantos portugueses a Paris através desta estação, que desde 1966 o comité Lyautey, especializado no atendimento a migrantes, tinha uma faixa em português para o acolhimento de quem chegava, e na década seguinte, o consulado português instalou mesmo um posto de atendimento dos seus serviços sociais na gare. 

“A questão é de saber qual é a forma que vai tomar, muitas vezes encomenda-se uma obra a um artista e eu pensei no poema do Manuel Alegre, que acompanhou a minha vida, já que o meu pai fez a viagem a salto, e sugeri essa opção. Ainda estamos numa fase inicial de reflexão, partilha e de verificação para saber onde se vai instalar a homenagem”, explicou Nathalie Oliveira.

O poema que a deputada sugeriu é “Portugal em Paris”, no qual o poeta português descreve como viu a sua “pátria derramada na Gare de Austerlitz” nas ruas de Paris, aludindo à imigração portuguesa em França. 

O projeto deve passar agora por uma fase de aprovação pelos eleitos de Paris, com Nathalie Oliveira a construir a proposta em parceria com os historiadores Vítor Pereira, investigador principal no Instituto de História Contemporânea da FCSH e um dos maiores especialistas na história da emigração portuguesa do século XX, e Yves Leonard, historiador francês especialista na História de Portugal que publicou recentemente o livro “Histoire de la nation portugaise” (edições Tallandier).

Para Nathalie Oliveira, a inauguração deve acontecer em 2024, integrando as comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril, já que muitas pessoas que chegaram a França vinham exiladas, forçadas a abandonar o seu país pelo regime de Salazar.

“Entramos agora nesta sequência da celebração dos 50 anos da democracia portuguesa e eu achei que era uma altura certíssima para fazer a ligação entre quem nasceu e cresceu sem esperança, liberdade, no silêncio e sem outra opção senão sair do país e vir para França”, explicou.

Para a inauguração, a deputada pensa já em refazer o trajeto dos portugueses que chegaram há 50 ou 60 anos, não só com emigrantes, mas também com altas figuras do Estado português de modo a prestar homenagem à comunidade portuguesa em França.

“Era bom que tanto as pessoas que fizeram há 50 ou 60 anos e altas figuras políticas portugueses fizessem juntas uma viagem simbólica entre Hendaia e a Gare de Austerlitz, em Paris, mesmo que hoje em dia este já não seja um trajeto em uso. Eu acho isto imprescindível. Era injusto e triste não ter assinalado estas chegadas até agora”, concluiu.

 

CYF // JH

By Impala News / Lusa

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