BE acusa autarquia de Lisboa de querer “ver-se livre dos pobres” e privilegiar especulação imobiliária

A coordenadora do Bloco de Esquerda acusou hoje a Câmara Municipal de Lisboa de estar a tentar “ver-se livre dos pobres”, colocando-se “do lado da especulação imobiliária”, defendendo a necessidade de leis sobre habitação “a sério”.

BE acusa autarquia de Lisboa de querer

“A Câmara de Lisboa, o que está a fazer, é dar absoluta prioridade à especulação imobiliária, dizendo claramente ‘quem é pobre – e quem é pobre é quem trabalha com os salários que se ganham em Portugal – não é bem-vindo nesta cidade'”, acusou Catarina Martins.

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) falava aos jornalistas no Casal do Gil, em Lisboa, onde, segundo os moradores, vivem atualmente 17 de famílias que estão a receber ordens de despejo.

Catarina Martins disse que foram os moradores do bairro que fizeram as obras nas habitações, sem qualquer investimento da parte do proprietário, que recebeu “sempre as rendas” e decidiu agora despejá-los porque agora “há um negócio imobiliário que parece apetecível”.

Neste contexto, a coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu que a Câmara Municipal de Lisboa, que “prometeu resolver este problema”, poderia ter “exigido [ao senhorio] obras coercivas nos imóveis”, o que podia “fazer um bocadinho pensar se queria ou não negociar até a eventual venda à autarquia”.

“Mas a autarquia não usou nenhum instrumento, nem sequer obrigou o senhorio a fazer obras que, por lei, a Câmara podia ter obrigado. Estas pessoas pagam a sua renda, as casas foram-se degradando, o senhorio nunca fez nada: foram os moradores que pagaram sempre tudo”, referiu.

Para Catarina Martins, “é inadmissível que, face a uma situação destas, que abrange uma comunidade com este número de pessoas, não haja, em fim de linha, uma resposta social que garanta habitação condigna a estas pessoas”.

“Que país é este, que diz que a economia está a crescer, que cidade é esta, que diz que é o melhor destino do mundo, e depois deixa esta gente, que está aqui a vida toda, que fez obras na sua casa, que cumpriu sempre os seus compromissos, no olho da rua?”, interrogou.

A líder do BE defendeu que as autarquias, e em especial de Lisboa e a do Porto, estão “cada vez mais agressivas em relação aos seus habitantes”, sublinhando que parecem querer “ver-se livres dos pobres”.

“Isto é dizer assim: ‘Pobres não podem viver em Lisboa’. Acho que é a única conclusão que se pode tirar do que a Câmara a fazer: a Câmara está ativamente a expulsar as pessoas da cidade”, reforçou.

Para Catarina Martins, a autarquia de Lisboa “está do lado da especulação imobiliária” e “convive muito bem com a ideia de expulsar os trabalhadores e as pessoas mais pobres da cidade” em “nome do negócio imobiliário”.

Questionada se considera, como o Presidente da República, que é necessário fazer uma reflexão sobre o setor da habitação, Catarina Martins defendeu que, mais do que reflexão, “é preciso uma ação concreta”.

“Nós, nesta situação concreta, até estamos relativamente perto do Palácio de Belém”, sublinhou, desafiando Marcelo Rebelo de Sousa a deslocar-se até ao Casal do Gil para falar com os moradores e “pressionar Carlos Moedas a cumprir o que prometeu”.

A líder do Bloco considerou também que são necessárias “leis para a habitação que sejam a sério”, defendendo que, no pacote “Mais Habitação”, o Governo desistiu “de todas as medidas concretas que podem fazer baixar o preço da habitação”, deixando “as autarquias fazerem o que quiserem”.

“Se continuamos a brincar com estas leis que não querem dizer nada, o direito à habitação vai continuar a ser um dos maiores problemas do nosso país e a estar absolutamente sob ataque como está neste momento”, frisou.

Falando com Catarina Martins, Cláudia Batalha, uma das moradoras do Casal do Gil, acusou a autarquia de Lisboa de não “dizer nada” aos habitantes daquele bairro, nem dar “nenhuma solução” em termos de habitação após os despejos.

“Eu vou virar uma sem-abrigo e depois vem a proteção das crianças, vai-me retirar as crianças. (…) O Estado, onde nos devia apoiar, não nos apoia”, lamentou.

Salientando que as famílias do Casal do Gil estão “desesperadas”, Cláudia Batalha deu o exemplo de uma moradora que, com 74 anos e uma doença oncológica, recebeu há pouco tempo uma ordem de despejo e vive agora entre a casa da filha e da neta.

“Nós andamos nisto desde 2019, são cinco anos, a viver com uma faca encostada ao pescoço. Nós vivemos do mínimo”, disse.

TA // JPS

By Impala News / Lusa

Impala Instagram


RELACIONADOS