Manuel Pinho cria offshore para apagar rasto de dinheiro do BES

Manuel Pinho suspeito de ter recebido 3,7 milhões de euros daquele banco, para favorecer estratégias de Ricardo Salgado. Detenção do ex-governante motivada pelo perigo de fuga, já que tem residência em Espanha e grande capacidade financeira. Medidas de coação são conhecidas hoje

Manuel Pinho cria offshore para apagar rasto de dinheiro do BES

Manuel Pinho foi detido nesta terça-feira, 14 de dezembro, por suspeitas de crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais após ser interrogado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). A detenção foi motivada pelo Ministério Público (MP) acreditar que existe perigo de fuga, já que o ex-ministro não tem residência oficial em Portugal (e sim em Espanha) e beneficiará de uma grande capacidade financeira, com diversas contas em offshores. Uma delas, garante o MP, foi criada para apagar o rasto de 3,7 milhões de euros em luvas que terá recebido do BES. Também a mulher de Pinho foi constituída arguida ontem, apresentou-se ontem à tarde e apresentou-se no Campus da Justiça para ser interrogada pelo juiz Carlos Alexandre. Alexandra Pinho Saiu em liberdade.

Pinho comprou apartamento de 1,2 milhões de euros em NY através da nova offshore

O inquérito conhecido como “rendas excessivas da EDP” diz respeito à alegada corrupção de Pinho para favorecer a elétrica nacional, envolvendo os ex-administradores António Mexia e Manso Neto, bem como às luvas que recebeu pagas pelo extinto BES, então liderado por Ricardo Salgado. Segundo o MP, Pinho aceitou, enquanto ministro da Economia, tomar decisões favoráveis aos negócios do BES. Autorizou a compra de 40% da Auto-Estradas do Atlântico pela Brisa (concessionária onde o BES tinha interesses), apesar do chumbo da Autoridade da Concorrência. Terá ainda beneficiado o banco em decisões envolvendo a Herdade da Comporta e o Loteamento do Pinheirinho. Como contrapartida, Pinho foi recebendo 15 mil euros por mês, numa conta da sociedade offshore Tartaruga Foundation, no Panamá. Quem pagava era o Grupo BES, através de uma Ordem Permanente (OP) assinada por Salgado. Também recebeu meio milhão de euros, em 2005, além da promessa de um lugar no BES após o fim do mandato, e uma reforma, aos 55 anos, de 62 mil euros por mês. A mulher foi admitida como curadora do BES Photo Art até 2014, com um salário de sete mil euros por mês.

A partir de 2010, Pinho quis apagar o rasto das verbas e criou uma nova offshore, a BlackWade, nas Ilhas Virgens Britânicas, com a qual comprou o apartamento de 1,2 milhões de euros na zona nobre da Times Square, em Nova Iorque. Para o MP a “Blackwade era uma companhia offshore acabada de criar e tinha a folha limpa”. “Com a Blackwade, não havia um histórico de pagamentos, como acontecia com a Tartaruga Foundation, que pudesse levantar questões no compliance do banco da parte vendedora do apartamento, devido ao eventual conflito de interesses vivido por Pinho, ao receber uma avença de um grupo privado através de um esquema oculto enquanto era ministro”, assegura o despacho do DCIAP, a que o JN teve acesso. As medidas de coação do antigo ministro Manuel Pinho e da mulher só vão ser conhecidas nesta quarta-feira, confirmou o advogado do casal, depois do interrogatório realizado pelo juiz Carlos Alexandre.

LEIA AGORA
«Não vou regressar a Portugal», atira João Rendeiro à saída do tribunal

Impala Instagram


RELACIONADOS