O seu filho vive um amor à distância devido à Covid-19? Respeite a sua privacidade

Nesta fase de isolamento potenciada pela Covid-19, são muitos os adolescentes que vivem uma relação (talvez a primeira), à distância. Os pais, segundo a psicóloga Emília Moreira, devem observar, estar atentos a episódios de tristeza ou ansiedade, ouvir muito e respeitar a privacidade dos filhos.

O seu filho vive um amor à distância devido à Covid-19? Respeite a sua privacidade

Desde meados de março, altura em que o Governo decretou o fecho das escolas devido à pandemia da Covid-19 que os jovens portugueses foram forçados ao isolamento e a uma consequente mudança de hábitos. Algo que ganhou maior expressão com as medidas impostas pelo estado de emergência.

Em casa, junto da família, os adolescentes ocupam grande parte do tempo a ver séries, a jogar videojogos ou a conversar com amigos nas redes sociais. Alguns não conseguem lidar com a ansiedade que este isolamento potencia. Outros ainda experienciam uma relação de amor (talvez a primeira) à distância. Emília Moreira, psicóloga do Hospital Lusíadas Porto, refere ao Portal de Notícias que «os pais devem observar e ouvir muito». No entanto, «a  vigilância e proteção dos filhos devem ser equilibradas com respeito pela privacidade».

– De que forma o isolamento pode afetar o bem-estar físico e psíquico dos jovens?

O isolamento social pode afetar o bem-estar dos jovens, tal como o de todas as outras pessoas, pelo facto de nos limitar nas nossas atividades sociais habituais. No caso dos jovens, esta limitação pode constranger ainda a sua capacidade para se envolver em tarefas desenvolvimentais muito importantes, como o convívio e a relação com os pares, o envolvimento em relações amorosas e também o exercício da independência face aos pais.

O facto do isolamento social limitar estas tarefas não significa que as impeça. Os adolescentes e jovens conseguirão, na maioria dos casos, envolver-se nessas tarefas não presenciais, como através das redes sociais e usando os meios de comunicação. No entanto, algumas dimensões importantes destas experiências, como por exemplo a riqueza sensorial e a diversidade de oportunidades relacionais ficam limitadas, condicionando, em parte, as interações.

– Podem tornar-se jovens mais ansiosos?

Tal como com os adultos, também nos jovens a ansiedade pode aumentar. A ansiedade e o medo nestas circunstâncias são normais e até, em algum grau, importantes. Estas emoções ajudam a colocar-nos em ação para nos protegermos. Porém, é importante salvaguardar que as pessoas têm respostas muito diferentes perante a ansiedade, nomeadamente quando ela é muito elevada. Em algumas a ansiedade desencadeia comportamentos de proteção, por vezes, exagerados; noutras pessoas pode levar a um bloqueio da ação.

O que nos diz a literatura e a nossa experiência clínica é que quando os jovens têm já uma maior vulnerabilidade para a ansiedade e para a depressão, uma situação como esta pode aumentar a sintomatologia. Mas esta tendência também não é determinada para todos os casos. Há jovens que podem até ficar mais calmos com esta mudança de contexto, nomeadamente jovens nos quais a sintomatologia ansiosa está muito associada ao contexto escolar.

– De que forma se pode lidar com esta ansiedade?

Primeiro que tudo, estando atentos a nós mesmos. Percebendo como estamos a viver a ansiedade: como fica o nosso corpo quando estamos com ansiedade, o que pensamos e o que sentimos. Depois é muito importante aceitar que algum grau de ansiedade é normal nesta fase.

Estamos numa maratona que não sabemos bem quando vai terminar. Por isso, temos de gerir bem as nossas emoções e aprender a regulá-las. Um exercício simples para lidar com a ansiedade é respirar fundo. Inspirar devagar pelo nariz e expirar devagar pela boca.

Por isso é tão importante tomarmos consciência de como está o nosso corpo quando estamos ansiosos. Ou seja, onde sentimos a ansiedade no nosso corpo. Por vezes, é no peito (a sensação do peito apertado), outras vezes na barriga, outras vezes nas mãos e nos braços. Podemos fazer estes exercícios de respiração de manhã, à noite ou quando nos sentimos mais ansiosos.

Outro aspeto importante é expressarmos os nossos sentimentos e emoções, com os amigos (especialmente no caso dos jovens) ou com a família. É importante que esta expressão seja feita com alguma contenção e ponderação, sobretudo estando em casa com toda a família. Este exercício é importante para não “contaminarmos” também os outros com este stress. Vamos passar muito tempo juntos, será importante fazer este esforço.

Todos nós já sentimos ansiedade. Nesta situação podemos tentar usar estratégias que já usámos e que funcionaram. Podemos tentar relaxar, pensar noutras coisas ou ocuparmo-nos com outras coisas. Fazer exercício físico é muito importante para gerir o stress.

– A que sinais os pais devem estar atentos?

Os pais devem observar muito e ouvir muito. Não é preciso ter grandes conversas com os filhos. Mas estar atentos aos filhos no dia-a-dia. Permitir e incentivar a sua expressão emocional e opiniões. Fazê-lo também com a tranquilidade e serenidade possível.

É importante perceber se os filhos conseguem expressar essas emoções, pensamentos e sentimentos. Estar atento também se os filhos conseguem acalmar-se mesmo quando estão mais ansiosos, ou se conseguem envolver-se em situações e atividades que lhes dão prazer.
Um outro aspeto importante é salvaguardar que a vigilância e proteção dos filhos devem ser equilibradas com respeito pela privacidade. Por isso é importante dar-lhes algum espaço, mantendo-se atentos.

– É importante manter rotinas? Quais?

É importante manter as rotinas que são importantes para os jovens estarem saudáveis e manterem, dentro do possível, a sua atividade normal, mesmo com estas limitações. Obviamente, as rotinas básicas de sono, higiene, alimentação e de autocuidado são essenciais, juntando a estas rotinas o estudo e a vida social, mesmo que através das redes sociais.

– Se os mais novos podem ser facilmente entretidos, de que forma os adolescentes podem viver esta fase de isolamento sem recorrer em excesso às redes sociais?

Provavelmente as redes sociais serão um recurso importante nesta fase. As redes sociais podem ser importantes para a manutenção das tarefas desenvolvimentais muito importantes, como a relação com os pares. Mas, mais uma vez, é importante haver um equilíbrio. Se o jovem, o adolescente ou o adulto não vivem sozinhos é complicado estar sempre nas redes sociais.

Existem outras dimensões das suas vidas que devem ser respeitadas e equilibradas. Tem de haver algumas regras quanto ao uso das redes sociais, referentes ao tempo e à forma de utilização. Esta é uma crise à qual só se ultrapassa com solidariedade. Os jovens podem ser agentes extraordinários de solidariedade! Mas é difícil quando ela é imposta. Deve ser estimulada e incentivada, mas não imposta.

– Alguns vivem os inícios dos primeiros namoros à distância. O que é preciso ter em conta?

O respeito por esta fase da vida. O respeito pela privacidade é importante. É importante ajudar o jovem a ter espaço para as várias facetas da sua vida, com equilíbrio. Provavelmente os jovens terão que comunicar mais vezes em casa com a pessoa com quem estão a viver esta relação ou início de relação. Nestas circunstâncias, os pais devem mostrar-se disponíveis para falar dos assuntos que o jovem pretenda, mas sem interferir demasiado. Trata-se da sua independência individual, emocional e também da sua intimidade.

– Como os pais devem lidar com os comportamentos impulsivos?

Os comportamentos impulsivos poderão ser sinais de ansiedade, frustração ou desânimo. Essas emoções poderão ser expectáveis e a sua expressão é natural, mas deve existir uma regra muito importante! Não podemos magoar os outros ou desrespeitá-los nesta expressão. Esta mensagem deve ser clara para todos.

Quando alguém na família expressa as suas emoções de forma mais impulsiva, é importante evitar reações que possam provocar uma escalada do comportamento impulsivo e eventualmente agressivo. Com clareza e assertividade, os pais devem ajudar o jovem a gerir e expressar a sua frustração de outra maneira e a autorregular se. Pode ficar sozinho ou usar outras estratégias para essa expressão. Não pode agredir os outros.

Estas circunstâncias de isolamento social exigem uma grande capacidade de gestão recursos de todos nós, nomeadamente nos nossos recursos emocionais. Por isso, temos que ter cuidado e cuidarmos uns dos outros e de nós mesmos. É importante os pais fazerem um esforço para dar o exemplo desta gestão.

Texto: Carla S. Rodrigues; Foto: pixabay ́

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