Argentinos já comem pastéis de nata. Nataria Portuguesa é um sucesso

A recentemente inaugurada “Nataria Portuguesa” conseguiu dois feitos: uma receita própria próxima dos pastéis de nata de Portugal e fazer com que os argentinos, aos poucos, troquem os tradicionais alfajores pelo emblemático doce português.

Argentinos já comem pastéis de nata. Nataria Portuguesa é um sucesso

A recentemente inaugurada “Nataria Portuguesa” conseguiu dois feitos: uma receita própria próxima dos pastéis de nata de Portugal e fazer com que os argentinos, aos poucos, troquem os tradicionais alfajores pelo emblemático doce português.

Até o final do século XIX, metade das famílias em Buenos Aires era de origem portuguesa, mas, apesar dessa presença, a Argentina não tem tradição em doces com ovos nem herdou nenhuma receita do mais famoso doce português, o pastel de nata.

“Os nossos clientes iniciais foram os descendentes de portugueses e os argentinos que conhecem Portugal. Surpreendeu-me como os argentinos, com a divulgação do turismo em Portugal, conhecem o pastel de nata”, explica à Lusa o empresário Luís Infante da Câmara, indicando ainda que 15% das vendas são para turistas, especialmente os brasileiros.

Há cinco meses, o empresário português lançou a rede Nataria Portuguesa. Por enquanto, a fábrica em San Javier, interior da província de Santa Fé, abastece uma dezena de pontos de Buenos Aires e duas lojas próprias: uma no elegante e turístico bairro La Recoleta; outra, no Centro da cidade, colada com outro ícone português, o Hotel Pestana Buenos Aires.

O sucesso entre os clientes argentinos é evidente, com muitos a comprarem os doces para o café da tarde nos escritórios, um costume argentino acompanhado, até agora, apenas de biscoitos e alfajores.

Chineses são os que mais apreciam

Entre os chineses, uma comunidade de 200 mil, sobretudo concentrada em Buenos Aires, o sucesso é ainda maior, explicou Luís Infante da Câmara.

“Os chineses conhecem o pastel de nata que entrou no país a partir de Macau, mas que já se espalhou a outras regiões. Publicaram a novidade no site da comunidade e os pedidos não param. Não compram por unidade, mas às dezenas”, disse o empresário, que também já fechou um contrato de venda durante o festival Lollapalooza Argentina, em março.

As expectativas de negócio iniciais dobraram e a Nataria Portuguesa pretende agora duplicar o número de lojas até meados do ano e triplicar até o final de 2019, chegando a seis lojas neste primeiro ano. Nos próximos meses, a fábrica deve atingir a produção de 2.500 pastéis por dia, duplicando e até triplicando até o final do ano.

“Não tenho nada a ver com pastel de nata, com pastelarias nem com cozinhas. Comi poucos pastéis de nata ao longo da vida. Todos os que entendiam do assunto recomendavam-me não me meter nisso porque o clima era diferente, porque a humidade é alta e porque os ingredientes eram outros”, recordou Luís Infante da Câmara.

A primeira cozinha foi na fazenda onde vive, no interior de Santa Fé. De início, comprou um forno especial e trouxe um cozinheiro de Portugal, mas os resultados não eram constantes.

“Nem mesmo o cozinheiro conseguia explicar. Era a mesma panela, os mesmos ingredientes e o mesmo tempo de cozedura. Num dia os pasteis eram fantásticos; noutro, incomíveis. Incidia humidade, calor, o tipo de farinha, o tipo de açúcar, o tipo de manteiga. Demoramos muito tempo para encontrar a farinha e a manteiga exatas e a combinação de ambas”, recordou.

Depois de três cozinheiros diferentes, de escolher entre 20 tipos de farinhas e um investimento de quase 600 mil euros o resultado foi uma receita digna do título de pastel de nata português.

E agora quer lançar um novo pastel de nata com cariz argentno, com base de doce de leite, para competir com a paixão argentina pelos alfajores, um doce tradicional muito apreciado.

“Tentei fazer algo adaptado ao público argentino e que saiu bem, mas não quero ainda lançar. Quero fazer uma coisa bem feita de cada vez. Mas um dia espero lançar o pastel de nata com doce de leite”, prometeu.

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