Metade dos jovens admite fazer sexo sem preservativo

Jovens têm bons conhecimentos sobre sexualidade, mas falham em relação a métodos contracetivos e doenças sexualmente transmissíveis apesar de serem dois dos temas mais tratados na escola.

Metade dos jovens admite fazer sexo sem preservativo

O uso do preservativo por parte dos jovens baixou nos últimos 14 anos. Metade dos adolescentes numa relação admite fazer sexo e não usar sempre método contracetivo. As conclusões fazem parte da segunda edição do estudo “Jovens e educação sexual: conhecimentos, fontes e recursos” que, passados mais de 10 anos desde a primeira edição, em 2008, voltou a avaliar o impacto da escola e de outras fontes no conhecimento dos jovens.

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Idade média da primeira relação sexual: 15 anos e 5 meses

As conclusões do estudo – apresentado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, em conjunto com a Associação para o Planeamento da Família e o Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social – indicam que mais de metade dos adolescentes numa relação de namoro que inclua sexo dizem não utilizar sempre o preservativo. No entanto, indica que a maioria dos jovens utilizou, no ano passado, o preservativo na sua primeira relação sexual, para evitar uma gravidez. Porém, o uso deste método contracetivo diminuiu face ao retratado em 2008. Naquele ano, 97% dos rapazes disseram ter usado preservativo. No ano passado, o número diminuiu para os 88,4%. Ao mesmo tempo, 55% dos adolescentes que estão atualmente numa relação de namoro que inclua sexo admitem não usar sempre preservativo, o que mostra que correm riscos.

Entre os 2.319 alunos do 10.º e 12.º anos de escolaridade que responderam ao inquérito conduzido entre fevereiro e junho de 2021, quase 60% afirmam não usar a pílula, enquanto um quarto opta pelo coito interrompido como forma de evitar uma gravidez. Os investigadores apontam para um decréscimo da preocupação com doenças sexualmente transmissíveis.

A maioria dos jovens mostrou, também, ter um nível de conhecimento bom ou muito bom sobre temas relacionados com a sexualidade (71,6%) e melhor ainda sobre sexualidade e sentimentos (84,6%). No entanto, quando os investigadores olharam para os conhecimentos sobre contracetivos e infeções sexualmente transmissíveis, os resultados não foram tão positivos: Cerca de metade mostrou ter um nível de conhecimento médio e em quase um terço era mau.

Paradoxalmente, são precisamente dois dos temas mais frequentemente discutidos na escola, além das mudanças do corpo na adolescência e o risco de engravidar. “Encaramos isso com alguma surpresa e preocupação”, disse um dos coordenadores do estudo, Duarte Vilar, admitindo que o problema possa estar na forma como aquelas questões são abordadas em contexto escolar. “Então ao nível das doenças sexualmente transmissíveis, os conhecimentos são realmente maus”, acrescentou, recomendando um reforço dos temas nos currículos e com uma abordagem mais médica, envolvendo os próprios alunos e a partir de um diagnóstico prévio dos seus conhecimentos. Em sentido inverso, uma percentagem inferior disse ter conversado em pelo menos uma disciplina sobre temas como identidade de género, masturbação e homossexualidade.

Outra das conclusões destacada por Duarte Vilar é a diferença entre rapazes e raparigas. À semelhança daquilo que os investigadores tinham constatado no estudo realizado em 2008, elas voltam a ter níveis de conhecimento sobre sexualidade superiores e isso reflete-se noutros aspetos. Por exemplo, as raparigas conversam mais sobre sexualidade e mais facilmente procuram ajuda para tirar dúvidas ou resolver algum problema, seja com amigos, pais ou profissionais de saúde.

“Estes temas são muito voltados para o feminino, são frequentemente dados por mulheres a raparigas e também há um mito de que os rapazes sabem mais sobre estas questões do que as raparigas”, explicou o investigador, defendendo uma espécie de “discriminação positiva dos rapazes”. Entre as possíveis explicações, Duarte Vilar aponta ainda que “continua a haver muito a ideia de que o homem não deve pedir ajuda, que isso é uma fraqueza da sua masculinidade”.

Ainda assim, o investigador acrescenta que seja entre rapazes e raparigas, a maioria dos jovens não pede ajuda, nem fala com alguém quando tem dúvidas ou problemas (61,9% dos rapazes e 41,2% das raparigas). Quando o fazem, recorrem sobretudo aos amigos e às mães.

Sobre as fontes a que os jovens recorrem sobre questões relacionadas com a sexualidade, o investigador destaca ainda que, ao contrário do que seria expectável, praticamente são as mesmas que aquelas utilizadas pelos jovens de 2008, e se as redes sociais e a internet são hoje utilizadas para muita coisa, não é para procurar informação sobre estes temas.

Outra das tendências que se mantém uma década depois é, por outro lado, a correlação positiva verificada nos rapazes entre maiores níveis de conhecimento e idades mais tardias de início das relações sexuais. “Vai um bocado contra aquele mito de que se falam de sexo nas escolas, mas depressa começam. Não é assim”, concluiu Duarte Vilar. O estudo mostrou que aumentou, de forma ligeira, a idade média da primeira relação sexual para os 15 anos e 5 meses.

O “Jovens e educação sexual: conhecimentos, fontes e recursos”, que está hoje a ser apresentado, foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), a Associação para o Planeamento da Família (APF) e o CLISSIS — Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social e Investigação Social.

Foto: Reproductive Health Supplies Coalition on Unsplash

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