Governo timorense considera investimento na Timor Telecom “interesse nacional”

O Governo timorense disse hoje ser do interesse nacional preservar a relevância da Timor Telecom e a sua posição competitiva, dada a viabilidade comercial e financeira e o valor estratégico da empresa da qual se vai tornar acionista maioritário.

Governo timorense considera investimento na Timor Telecom

“Por um lado, por motivos comerciais e financeiros, uma vez que continua a ser uma empresa viável. Por outro, porque a Timor Telecom assume de facto um valor estratégico, como uma das maiores e mais importantes empresas de Timor-Leste, como a principal fornecedora nacional de serviços de telecomunicações, em especial ao próprio Estado, e como relevante instrumento de coesão social e territorial”, disse Rui Gomes, ministro das Finanças.

O governante falava em Díli na assinatura de um acordo de compra da participação da brasileira Oi na Timor Telecom, operação avaliada em 21,1 milhões de dólares e que torna o Estado o acionista maioritário da empresa.

“Com o contrato que iremos assinar em seguida, o Estado passa a ser o maior acionista da Timor Telecom, aumentando a sua participação de 20,59% para 77,65% do capital social. Essa vertente do negócio, à qual é atribuído o valor de 5,44 milhões de dólares, permite ao Estado assumir o controlo da empresa, aumentando a sua capacidade para influenciar as opções estratégicas, considerando também as expectativas legítimas dos acionistas privados minoritários”, afirmou.

A operação, explicou, leva o Estado a assumir também a posição de credor da Timor Telecom, “adquirindo os créditos do grupo empresarial que atualmente detém a maioria do capital social da empresa”.

“Essa vertente do negócio, à qual é atribuído o valor de 15,67 milhões de dólares, dá ao Estado a possibilidade de assegurar que, no médio e longo prazo, o peso da dívida não asfixia a atividade da Timor Telecom”, explicou.

“Considerando que os capitais próprios da empresa ascendem atualmente a cerca de 8,15 milhões de dólares, e que o valor da referida dívida ascende a cerca de 19,86 milhões de dólares, esta transação, com o valor global de 21,11 milhões de dólares, para além de uma opção política e estratégica, observa estritos critérios de racionalidade financeira”, sublinhou.

O negócio, que o Governo timorense se propôs concretizar em 2016, tem ainda que passar pelo visto da Câmara de Contas, com o valor previsto para o acordo a ficar numa conta escrow, no Banco Nacional de Comércio de Timor-Leste (BNCTL).

“Chegados até aqui, hoje Timor-Leste pode dizer com orgulho que a Timor Telecom regressa a casa”, afirmou.

Intervindo na mesma ocasião, Luiz Rosa, membro do Conselho de Administração da Timor Telecom e diretor executivo de Fusões e Aquisições e Negócios Internacionais da Oi, disse que a história da empresa de telecomunicações timorenses “se mistura” com a história recente do país.

Rosa explicou que desde a sua criação, em 2002, a Timor Telecom investiu mais de 180 milhões de dólares, dando só ao Estado dividendos de 16 milhões de dólares.

“Apesar de ter como competidores grupos com 300 vezes a dimensão da TT, a empresa conseguiu sobreviver a imensas pressões e mantém uma quota de 47% do mercado”, disse.

“O maior legado, porém, é o capital humano. Iniciada com um elevado número de estrangeiros, a TT é hoje operada por equipa 100% timorense num total de mais de 390 colaboradores”, disse.

Rui Gomes destacou a importância que o Governo confere ao setor das telecomunicações, “um dos mais significativos agentes da coesão social e territorial”, representando uma “oportunidade económica para Timor-Leste”, com “capacidade transformadora para o país e para a sociedade”.

“Isso passa por serviços públicos acessíveis remotamente, passa por um acesso à informação mais simples, mais rápido e de maior qualidade, e passa também pela realização de investimentos em infraestruturas e pela modernização da rede de telecomunicações”, disse.

“Para isso, Timor-Leste tem de facto que saber fixar a Timor Telecom como um operador de referência, que seja um verdadeiro centro de decisão nacional, isto é, uma empresa que retém e desenvolve capacidades técnicas, gera empregos qualificados, toma decisões comerciais e financeiras com impacto local, e corresponde de forma próxima e concreta às necessidades do país, embora sem perder de vista a sua natureza lucrativa”, considerou.

Rui Gomes disse que “a participação pública minoritária na Timor Telecom, conjugada com uma elevada concentração do capital social remanescente, tem-se traduzido numa reduzida capacidade do acionista Estado para assegurar a sua visão para a empresa”.

Algo “compreensível”, vincou, por que “nem sempre os interesses comerciais e financeiros dos acionistas privados estão alinhados com o interesse dos consumidores, com o bem comum, e com o desígnio nacional”.

O governante disse que a liberalização do mercado das telecomunicações, em 2012, representou um “desafio” grande para a TT, criando várias dificuldades à empresas.

“A dificuldade da sustentabilidade financeira num mercado de pequena dimensão e a dificuldade de competir com operadores de telecomunicações com uma escala muito superior, e com uma participação maioritária de outros Estados”, afirmou.

“Perante essas dificuldades a Timor Telecom perdeu quota de mercado e solidez financeira, mas não perdeu relevância social”, afirmou.

 

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Lusa/Fim

 

By Impala News / Lusa

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