Como lidar com o teletrabalho sem ser vencido pelo stress

O stress é um problema frequente no teletrabalho, devido ao sedentarismo, para o qual também contribuem horas extra de trabalho e pouco tempo ou nenhum ao ar livre devido à falta de exercício físico e a alimentação desregrada. Mas há solução.

Como lidar com o teletrabalho sem ser vencido pelo stress

Com o isolamento obrigatório provocado pela pandemia da covid-19, há já mais de dois anos, vários trabalhadores foram forçados ao teletrabalho, ao fim dos contactos com os colegas – por tempo indefinido – e, muitos, não ficaram sozinhos no lar doce lar. Estavam acompanhados de pais, filhos, mulheres, maridos e animais de estimação.

Hoje, o teletrabalho tornou-se comum, com muitas empresas a perceberem que a redução de custos poderia baixar sem perderem por parte dos funcionários produtividade. Maria Ramos, especialista de numa multinacional na área tecnológica, tem a sensação de estar “trabalhar muito mais” desde que foi para casa, pois não consegue desligar a ficha. “Por vezes, já depois das 23h00, volto a ligar-me com a desculpa de que vou adiantar coisas para o dia seguinte.” O caso de Maria Ramos não é único e são muitos os testemunhos que revelam a dificuldade em ser a super-mãe, a super-dona de casa e a trabalhadora exemplar.

“Parece que andamos sempre numa roda, tipo ratinho”, desabafa a economista. A família ficou por inteiro confinada a um espaço e em determinadas situações sobrepunham-se tarefas profissionais com pessoais. É verdade que o teletrabalho traz vantagens, nomeadamente a gestão de tempo ou o economizar no transporte ou na alimentação. No entanto, em doses grandiosas, pode aumentar o nível do stress e prejudicar a saúde. Júlia Machado, psicóloga clínica do Hospital Lusíadas Porto, explica quais os perigos desta ansiedade do home office para o corpo e para a mente e de que forma podemos evitar ataques de nervos por passarmos a vida em casa.

O teletrabalho, segundo relatório da ONU, pode prejudicar a saúde. De que forma?

Diversos estudos apontam que pessoas que ficam constantemente conectadas ao trabalho por meio de dispositivos móveis estão sujeitas a efeitos negativos sobre a saúde e o bem-estar, pelos factos de não fazerem pausas e de estarem horas seguidas dependentes da tecnologia. Isto leva as pessoas afetadas a registarem maior prevalência em quadros depressivos, ansiedade elevada, problemas de isolamento e problemas ao nível das estruturas cerebrais, nomeadamente promovendo disfunções cognitivas e emocionais.

Facto esse que também é originado, segundo vários estudiosos, pela razão de que o teletrabalho poder criar uma sobreposição entre emprego e vida privada e levar a uma intensificação do trabalho. Podemos ainda citar que há o risco do isolamento social decorrente da perda com o contacto direto com os colegas de trabalho, o que pode afetar os relacionamentos sociais e, por consequência, a socialização, fator importante na vida do ser humano.

Além da parte psicológica, de que forma a física é afetada?

A forma física é afetada pelo facto de ser uma atividade sedentária. O sedentarismo é extremamente prejudicial por contribuir para vários problemas de saúde, exemplo da hipertensão arterial, da diabetes, dos stress, das dores musculares e da obesidade. Podem ainda ocorrer problemas ergonómicos devido à má postura do trabalhador, durante longos períodos em frente ao computador. Isto pode agravar e acelerar o processo de lesões por esforços repetitivos.

O teletrabalho é muito solitário. Neste contexto social a situação agrava-se…

Investigadores referem que a falta de flexibilidade devido aos horários dos demais familiares, o stress gerado pela localização de trabalho remunerado e o facto de ter a família no mesmo espaço contribuem para a sobrecarga de trabalho e para o conflito entre os papéis de cada indivíduo.

Por que razão muitos trabalhadores apresentam altos níveis de stress?

O stress é um problema bastante frequente no teletrabalho devido ao sedentarismo, para o qual também contribuem horas extra de trabalho, pouco tempo ou nenhum ao ar livre devido ao isolamento, falta de exercício físico e uma alimentação desregrada. Os teletrabalhadores não devem tornar-se workaholics, mas este ponto exige autodisciplina.

É difícil que o trabalho não interfira na vida privada?

De facto, é muito difícil não interferir, dado que, nestas circunstâncias de isolamento, o espaço é partilhado por todos. É muito importante comunicar à família estas novas condições de trabalho e ter alguma disciplina. Caso contrário, há maior desorganização, o trabalho sobrepõe-se e a produtividade diminui. Vários estudos apontam a importância de horários definidos para o sucesso desta modalidade de trabalho.

Algo que se complica com filhos pequenos em casa…

É quando devem ser estabelecidas regras e possíveis mudanças na organização familiar. Em geral, não é bom ter crianças pequenas, ou idosos que requeiram muita atenção, quando se está em teletrabalho. Com crianças em idade escolar, deve trabalhar-se durante o período em que haja um segundo adulto em casa, pois o teIetrabalho não substitui as creches. Neste sentido, é preciso estabelecer o horário sem que os filhos mais pequenos sejam prejudicados. Principalmente a nível emocional, já que muitos pais ficam sem tempo para lhes dar atenção, focando-se apenas nas tarefas básicas: alimentação, adormecer ou dar banho.

Quais as rotinas de que alguém em teletrabalho não deve abdicar?

Quem está em teletrabalho não deve abdicar do autocuidado. É importante fazer pausas (30 minutos é o ideal) e ter rotinas e disciplina na alimentação. Muitas pessoas passam horas seguidas em frente ao computador e não almoçam ou não fazem pausas para lanchar. Situação que vai prejudicar bastante a saúde física e a mental, dado que estão a dispensar energia sem repô-la.

Existem princípios-base para crises de emergência psicológica?

Sim, existem algumas recomendações realizadas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) para facilitar o ajustamento a estas novas rotinas, para as quais a maior parte da população não estava preparada.

Recomendações sugeridas pela OPP

1. Reconhecer as dificuldades de adaptação ao regime de teletrabalho é importante para que se dê tempo para uma nova adaptação e que é natural respeitar esse tempo;
2. Saber que é natural sentir-se stressado, cansado, frustrado e sobrecarregado. Mas é necessário aprender a confiar nas nossas capacidades para lidar e ultrapassar esses sentimentos, lembrando-nos que já ultrapassamos algumas situações do passado;
3. Definir um espaço de trabalho. Escolher um espaço em casa para trabalhar – pode ser um escritório (se tiver essa possibilidade) ou uma secretária numa divisão da casa que lhe permita estar o mais separado possível de ruídos ou atividades domésticas;
4. Aceitar e compreender que a produtividade em regime de teletrabalho não é igual à produtividade em regime presencial. Ser mais flexível e aceitar que o trabalho será mais centrado em objetivos do que em horas efetivas de trabalho;
5. Respeitar as regras da ergonomia. Manter o monitor a uma distância entre 45 a 70 centímetros e à altura dos seus olhos. Descansar a vista e fazer algumas pausas. Manter as costas direitas e pés no chão para que a postura seja a mais correta e confortável possível;
6. Estabelecer limites e cumprir objetivos. Os estudos indicam que os trabalhadores tendem a trabalhar mais horas quando trabalham remotamente;
7. Respeitar os momentos de pausa e a necessidade de autocuidado. Num momento como este, com todas as notícias sobre a pandemia, as exigências do trabalho e da dinâmica familiar, pode ser difícil descansar, mas é fundamental. Fazer pausas ao longo do dia e momentos para relaxar, livres de informação, para que possa recarregar baterias (ex. ver a sua série favorita, exercício físico e meditação, etc);
8. Reorganizar as suas tarefas (autodisciplina, horários etc.);
9. Valorizar o nosso trabalho e o da equipa;
10. Não se isolar, reforçar o contacto com colegas (combinar um almoço à distância, um café, etc).
11. Prática de exercício físico, alimentação saudável e reforçar o sistema imunitário com alimentos ou suplementos adequados, bem como práticas de mindfulness apontam que são muito importantes para a diminuição do stress e reforço do sistema imunitário.

Texto: Carla S. Rodrigues

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