De Quintana a Fehér, recorde as mortes mais dramáticas no desporto

A morte de Alfredo Quintana, guarda-redes de andebol do FC Porto e da Seleção, vítima de paragem cardiorrespiratória adensa o rol de desportistas que perderam a vida enquanto faziam o que mais gostavam.

A morte de Alfredo Quintana, guarda-redes de andebol do FC Porto de 32 anos, vítima de paragem cardiorrespiratória adensa o rol de desportistas que perderam a vida enquanto faziam o que mais gostavam. Já este ano, mais precisamente no dia 03 de janeiro, Alex Apolinário, de 24 anos, caiu inanimado no relvado quando estavam disputados 27 minutos do encontro frente ao União de Almeirim. O jogador do Alverca foi de imediato transportado para o Hospital de Vila Franca de Xira e, apesar de estar a recuperar de forma “surpreendente”, a verdade é que o estado clínico sofreu um revés e acabou por morrer, quatro dias depois.

Tragédia italiana

Davide Astori, capitão da Fiorentina, foi encontrado morto no quarto de hotel onde a equipa viola estava hospedada. A autópsia revelou que a morte do atleta de 31 anos se deveu a “causas naturais, na sequência de paragem cardiorrespiratória”. Os colegas estranharam que Davide não tivesse descido para tomar o pequeno-almoço e, após várias chamadas, os companheiros e a equipa técnica perceberam que algo não estava bem. Astori foi encontrado morto pelo massagista e os relatos dão conta de que o corredor do hotel se encheu de colegas em choque, a chorar a morte do atleta. O trágico episódio teve lugar a 04 de março de 2018.

Em abril de 2012, Piermario Morosini, médio dos italianos do Livorno, tombou no chão meia hora após o apito inicial da partida contra o Pescara, a contar para a Serie B. Nas imagens televisivas vê-se o jogador de 25 anos a “lutar” contra a situação. Antes do colapso final, Morosini – desorientado – levantou-se por duas vezes, tento voltado a desfalecer em ambas as vezes. À terceira tentativa ficou estatelado no chão, para desespero de todos. Viria a falecer no hospital, duas horas depois. Poderá ver o momento aqui.

De acordo com a ESPN, os três médicos que o socorreram foram acusados por homicídio involuntário e condenados a penas suspensas entre os oito e os 12 meses. Em causa está a não utilização de desfibrilhador, apesar de existirem dois no estádio e um terceiro na ambulância que transportou o atleta para o hospital.

Nuestros hermanos em choque

Os contornos associados à morte de Daniel Jarque, figura histórica do Espanyol, são em tudo semelhantes à de Davide Astori. Corria o dia 08 de agosto de 2009, quando o capitão foi encontrado inconsciente no quarto de hotel – os catalães estava a realizar um estágio de pré-temporada em Itália — tendo sido encaminhado para o hospital. Apesar de todos os esforços, os médicos não foram capazes de reanimá-lo. Jarque terá sofrido uma paragem cardíaca quando estava a falar ao telemóvel com a mulher, grávida de sete meses.

Antonio Puerta, natural de Sevilha e fervoroso adepto do clube, desmaiou ao minuto 29 da primeira jornada da Liga Espanhola, contra o Getafe. O defesa de apenas 22 anos estava a marcar Pablo Hernández e, quando a bola saiu pela linha de fundo, ajoelhou-se e caiu inanimado. Palop e Dragutinovic rapidamente se aperceberam da situação e colocaram-lhe a mão na boca, o impedir de trincar a própria língua. A equipa médica apressou-se a chegar ao local para prestar auxílio ao jogador sevilhano e, poucos minutos depois, Antonio Puerta levantou-se e abandonou o relvado pelo próprio pé, chegando mesmo a trocar palavras com os médicos. O pior parecia já ter passado.

A verdade é a 28 de agosto de 2007, após três dias de hospitalização, e mais oito (!) paragens cardiorrespiratórias, chegou a confirmação de que o prodígio espanhol perdera a luta. A notícia abalou o mundo do futebol e uniu a cidade de Sevilha. Béticos e Sevilhistas choraram juntos a partida de um dos “filhos”. Puerta deixou a namorada grávida de 8 meses.

Da Roménia à China

Patrick Ekeng, cuja morte voltou a ser notícia, sentiu-se mal e acabou por desfalecer em campo. Estavam decorridos 70 minutos da partida entre o Dínamo de Bucareste – equipa que representava – e o Viitorul Constanta, do campeonato romeno. O fatal incidente ocorreu a 06 de maio de 2016 e o óbito do camaronês foi dado nesse mesmo dia, poucas horas depois. Tinha 26 anos.

Phil O’Donnell acabara de marcar um dos golos mais importantes da carreira e da história do “seu” Motherwell – final da Taça da Escócia vs Dundee United – e, quando se preparava para festejar com os colegas, ajoelhou-se agarrado à zona do coração, em claras dificuldades. Pediu de imediato a substituição mas, ainda antes de chegar ao banco, acabou por colapsar. Os médicos do clube tentaram de tudo para o trazer de volta à vida, mas foram incapazes. Foi então levado para o hospital, onde as piores notícias se confirmaram. Mais tarde, a autópsia revelou que a morte se deveu a uma falha no ventrículo esquerdo.

Cheick Tioté morreu enquanto treinava na China, com a camisola do Beijing Enterprise. O médio, que se notabilizou ao serviço Newcastle, sentiu-se mal e perdeu a consciência. Foi encaminhado para o hospital mas acabou por não resistir. Perdeu a vida a 05 de junho de 2017, a poucos dias de completar 31 anos.

O último sorriso de Miki Fehér

Hugo Cunha sentiu-se mal enquanto jogava uma “futebolada” com amigos, em Montemor-o Novo. O médio do União de Leiria caiu inanimado no relvado e, apesar de socorrido pelos bombeiros, chegou já sem vida ao centro de saúde local. Tinha 28 anos. Um ano antes, a 25 de janeiro de 2004, tinha acontecido aquela que, muito provavelmente é a maior tragédia da história do futebol português. Numa chuvosa noite em Guimarães, corria o minuto 90+2 quando todos assistimos ao último sorriso de Miklos Fehér. Olegário Benquerença mostrou-lhe o cartão amarelo por ter retardado o lançamento da equipa adversária e, instantes depois, o avançado baixou-se e caiu desamparado no relvado, para desespero de todos à sua volta.

Sokota foi o primeiro a assisti-lo, tendo-lhe colocado os dedos na boca para impedir que sufocasse. As equipas médicas iniciaram de imediato as manobras de reanimação, numa altura em que todos os presentes já se tinham apercebido da seriedade da situação. Poucas horas depois e já no hospital, foi declarado o óbito. Aos 24 anos, Miki morreu vítima de uma cardiomiopatia hipertrófica. Em sua memória, o Benfica retirou a camisola 29. Para além disso, o clube encarnado instituiu o prémio Miklos Fehér que, todos os anos distingue professores e alunos da antiga escola do jogador, em Gyor, na Hungria, trazendo-os a Lisboa.

As primeiras mortes súbitas de que há memória

O colapso de Marc-Vivien Foé foi o despertar do mundo para a morte súbita no desporto. As imagens mostram o avançado caído em pleno jogo da Taça das Confederações. Djemba-Djemba, colega de seleção, recordou as palavras de Foé antes da partida decisiva frente à Colômbia. “Nunca esquecerei o que nos disse no autocarro. ‘Se algum de nós tiver de morrer hoje, então morreremos hoje. Não podemos perder este jogo. Prometi à minha mulher e aos meus filhos que vamos à final. Temos de ganhar a Taça das Confederações'”, recorda. O fatídico incidente ocorreu aos 27 minutos do segundo tempo. Depois de várias tentativas de reanimação, e apesar de ter chegado ao posto médico com vida, acabou por morrer poucas horas depois. Tal como Miki, foi também vítima de cardiomiopatia hipertrófica.

Fernando Neves, mais conhecido como Pavão, morreu ao minuto 13 da jornada 13 da época 1973/74 em pleno relvado das Antas. O capitão do dragões foi o primeiro caso de que há memória no futebol português. No jogo entre FC Porto e Vitória de Setúbal, Fernando Pascoal das Neves, caiu inanimado após fazer um passe para Oliveira. Foi já no final da partida, através da instalação sonora do estádio que os adeptos portistas souberam da trágica morte do seu capitão. Pavão tinha 26 anos e vários internacionalizações pela seleção portuguesa. A morte de David “Soldier” Wilson, a 27 de outubro de 1906, é a primeira de que há registo na história do futebol.

Texto: Tomás Cascão

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