Cecília Guimarães, a atriz que deu vida aos grandes dramaturgos

A atriz Cecília Guimarães, que morreu hoje, aos 93 anos, somou uma carreira de sete décadas, que atravessou as principais dramaturgias e as grandes personagens de dramaturgos como Tennessee Williams, Shakespeare, Edward Albee, Romeu Correia, Lorca e Tchékhov.

Cecília Guimarães, a atriz que deu vida aos grandes dramaturgos

A atriz Cecília Guimarães, que morreu hoje, aos 93 anos, somou uma carreira de sete décadas, que atravessou as principais dramaturgias e as grandes personagens de dramaturgos como Tennessee Williams, Shakespeare, Edward Albee, Romeu Correia, Lorca e Tchékhov.

Cecília Guimarães estreou-se como profissional no teatro, em 1953, na companhia Alves da Cunha, com a peça “Duas causas”, de Ramada Curto, dois anos depois de ter subido ao palco pela primeira vez, no antigo Grupo de Teatro Experimental – Teatro da Rua da Fé, para fazer “A qualquer hora o diabo vem”, de Pedro Bom.

A última personagem interpretou-a no cinema. Foi Glicínia, no filme “Olgha Drummod”, de 2018, de Diogo Infante, ao lado de Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho e Lourdes Norberto.

Nascida em Lisboa, em 28 de maio de 1927, Cecília Guimarães fez o curso do Conservatório Nacional, entrou em mais de seis dezenas de peças de teatro, participou em cerca de uma centena de produções de cinema e televisão, e trabalhou com perto de duas dezenas de companhias, dos Artistas Unidos, ao antigo Teatro Estúdio de Lisboa, dirigido por Luzia Maria Martins, e à Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, com a qual somou 21 espetáculos, entre 1951 e 1974.

A base de dados do Centro de Estudos de Teatro, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa identifica-a em quatro espetáculos no Teatro D’Arte de Lisboa, entre 1955 e 1956, em 12 do Teatro Experimental de Cascais, entre 1970 e 1986, em sete espetáculos da Companhia de Teatro de Almada, e em muitos mais de outras companhias, como a Cooperativa Portuguesa de Teatro, o Teatro da Cornucópia, o Teatro Experimental de Lisboa, e o antigo Teatro-Estúdio do Salitre, na capital.

No Teatro Experimental do Porto, dirigida por António Pedro, fez parte do elenco de estreia de “O Crime da Aldeia Velha”, de Bernardo Santareno, em 1959.

Em 1962, ingressou na Companhia Amélia Rey-Colaço — Robles Monteiro, no elenco de “Oito Mulheres”, de Robert Thomas. Aqui fez também a peça emblemática “As Árvores Morrem de Pé”, de Alejandro Casona, protagonizada por Palmira Bastos, com cenários de Lucien Donnat.

Pirandello, Kataev, Somerset Maugham, Max Frisch, Dürrenmatt, Tennessee Williams, Shakespeare, Edward Albee, Valle-Inclán, Romeu Correia, Sauvageon e De Filippo foram alguns dos dramaturgos que interpretou com esta companhia, juntando a Graham Greene, Priestley e Cortez, entre outros, que trazia já do seu percurso anterior.

Com o Teatro Experimental de Cascais fez textos de escritores como Witold Gombrowicz, no Teatro da Cornucópia, entrou em “Terror e Miséria no III Reich”, de Bertolt Brecht e, na Companhia de Teatro de Almada, onde foi distinguida com o Prémio Garrett de interpretação, deu vida a autores como Marguerite Duras, Peter Schaeffer, Gil Vicente.

Na década de 1990, regressou ao Teatro Experimental do Porto, para interpretar Jean-Pierre Sarrazac e ao D. Maria II, para fazer “Três Mulheres Altas”, de Edward Albee.

No Teatro Maria Matos, participou em “Infidelidades”, de Maria do Céu Ricardo, e, no Teatro Nacional de São Carlos, nos anos de 1970, participou em duas produções operáticas das “Guerras do Alecrim e Manjerona”, de António José da Silva.

Nos Artistas Unidos, interpretou “Terrorismo”, dos irmãos Presniakov, numa encenação de Jorge Silva Melo, em 2004, e “A paixão do jardineiro”, de Jean-Pierre Sarrazac, em 2010.

No cinema, trabalhou com realizadores como António Lopes Ribeiro, João Mendes, Manoel de Oliveira, Georges Sluitzer, Alain Tanner, Solveig Nordlund, entrou em filmes como “As Horas de Maria” (1979), “O Lugar do Morto” (1984), “A Filha” (2003), “Axilas” (2016 e “A Canção de Lisboa” (2016).

Do trabalho para o grande ecrã, destacam-se ainda filmes como “Francisca” e “O Princípio da Incerteza”, de Manoel de Oliveira.

Foi uma das atrizes pioneiras na televisão, onde trabalhou desde o início, em 1957, até às novelas mais recentes.

Aqui, os seus desempenhos foram do drama, como na adaptação de “Harpa de Ervas”, de Truman Capote, à comédia mais recente, como “Milionários à Força”, e à telenovela, como “A Única Mulher”, de 2015, a última no seu percurso.

“A Mala de Cartão” (1988), “A Morgadinha dos Canaviais” (1990), “Cluedo” (1995), “Filhos do Vento” (1997), “Casa da Saudade” (2000), “Estação da Minha Vida” (2001) e “Hotel Cinco Estrelas” (2013) foram algumas das produções televisivas que contaram com Cecília Guimarães.

Em 1970, fez parte da delegação portuguesa na Exposição Japonesa Universal e Internacional de Osaka.

Vencedora do Prémio Garrett, pelo seu desempenho em “Felicidade e erva-doce”, de Peter Schaeffer, pela Companhia de Teatro de Almada, em 1990, foi também distinguida, no início da carreira, pelo desempenho no filme de António Lopes Ribeiro, “O primo Basílio”.

 

 

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