Mulher relata parto aterrorizador: «Cortaram-me toda. Perderam o controlo da situação»

Henrique nasceu dia 14 de março. Pouco passava da meia-noite. Porém, não teve direito ao colinho da mãe. Várias complicações no parto deixaram-no com graves lesões e o internamento foi inevitável. Ana Pais garante que foi vítima de negligência médica e exige justiça.

Mulher relata parto aterrorizador: «Cortaram-me toda. Perderam o controlo da situação»

Henrique nasceu dia 14 de março. Pouco passava da meia-noite. Porém, não teve direito ao colinho da mãe. Várias complicações no parto deixaram-no com graves lesões e o internamento foi inevitável. Ana Pais garante que foi vítima de negligência médica e exige justiça.

Ana Pais nunca pensou que aquele que deveria ser o dia mais feliz da sua vida se transformasse num pesadelo. A jovem, de 25 anos, foi mãe de um menino às 38 semanas no Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada. Henrique nasceu com 4,255 quilos e 54 centímetros. Esteve internado um mês e meio.

Foi considerado um bebé demasiado grande para nascer de parto normal. No entanto, a equipa médica alega que não se apercebeu do tamanho da criança, nem das consequências que viria a ter um parto nas circunstâncias que foi.

Vamos começar do início. Ana foi acompanhada, desde as 17 semanas de gestação, no HGO, onde verificaram que as suas plaquetas estavam demasiado baixas (trombocitopénia). Na madrugada de 11 de março, três dias antes de ser mãe, dirigiu-se às urgências daquele hospital com a bolsa rota. Eram quatro da manhã e as fortes dores das contrações não passavam despercebidas a ninguém que por ela passava. Na triagem, a enfermeira de serviço mediu-lhe a tensão e colocou-a a fazer o CTG. «Tinha muitas contrações, mas ela dizia que ainda faltava para o bebé nascer», recorda.

Na hora de ser examinada por um médico, cujo nome prefere não revelar, percebeu-se que já tinha um dedo e meio de dilatação, mas que «ainda estava muito longe de o bebé nascer». «Fizeram-me uma ecografia. Disseram-me que ainda tinha muito líquido e que o bebé era bastante grande e gordo… algo que sempre me disseram em todas as ecografias que fiz no decorrer das consultas de gravidez no HGO», conta aquela que ficou internada com bolsa rota, sem monitorização até à manhã seguinte.

Por volta das 10:00, o CTG indicava fortes contrações. Foi-lhe feito o toque. Continuava com um dedo e meio de dilatação. Voltaram a dizer-lhe que o nascimento estava longe. «Decidiram dar-me dois comprimidos para induzir o parto, seria uma ajuda… Aceitei e assinei o termo de responsabilidade, pois a primeira gravidez foi parto induzido às 42 semanas na Maternidade Alfredo da Costa e correu super bem», revela, recordando o decorrer daquele «dia desconfortável cheio de dores, toques maldosos e contrações». «Perguntei a uma enfermeira por que razão não estava a ser monitorizada. Garantiu-me que não era necessário e eu confiei nas palavras dela… mesmo sabendo que tinha a bolsa rota há mais de 24 horas e que corria riscos.»

«Deixei de sentir o meu bebé a mexer»

Nessa noite, Ana, já desesperada, implora por ajuda. «Disse a uma enfermeira que já não aguentava tantas dores e que tinham de fazer alguma coisa, porque já estava há muito tempo com a bolsa rota… e deixei de sentir o meu bebé a mexer. Disse-me que todo aquele procedimento pertencia ao protocolo do hospital e que não poderia fazer nada. Pediu-me para ir descansar… Fiquei a olhar para ela e virei-lhe as costas!»

Ao ver o seu estado, a enfermeira decidiu encaminhar Ana para o bloco de partos, porque lá saberiam o que fazer. «Toda encurvada, cheia de dores, arrumei as minhas coisas e fui. Quando lá cheguei, ouvi as médicas e enfermeiras a comentarem entre si não perceberem o motivo de eu ali estar, se ainda só tinha um dedo e meio de dilatação… Disse bem alto que estava com a bolsa rota desde as três da manhã de dia 11! Pouco depois chega a anestesista que recusa dar-me epidural devido ao meu problema da trombocitopénia (plaquetas baixas no sangue), mas que havia outra solução medicamentosa. Explicou-me que, ao levar epidural, corria uma percentagem elevadíssima de ficar sem me mexer da anca para baixo. Colocaram-me a oxigénio, monitorizaram-me e deram-me imensas “drogas” para atenuar as dores. Fiquei completamente desnorteada», recorda.

Com febre de quase 40 graus, muitos suores frios e dores, Ana temeu o pior naquele momento. «Nunca me disseram o que se passava. Nunca me perguntaram como queria o parto. Nunca foram atenciosos. Continuava com dores fortes. Vieram colher sangue para hemograma para ver se as plaquetas tinham subido. Fizeram-me o toque e continuava sem dilatação. O meu marido e sogra foram visitar-me ao quarto e estavam muito indignados com a situação. Quando perguntámos pela cesariana, disseram-nos que não podiam avançar devido às baixas plaquetas.»

No entanto, Ana sabe que não é bem assim. «Ao longo da gravidez eu tinha, de facto, as plaquetas baixas do valor de referência. No entanto, quando já estava na sala de partos, mas sem dilatação há dois dias, repeti a análise das plaquetas e estavam “boas” para levar epidural, mas não quiseram fazer cesariana porque o parto normal estava no protocolo…», explica.

Horas depois foi verificado que Ana já estava com quatro dedos de dilatação. «Mas ainda falta para o bebé nascer…», diziam-lhe. Quando atingiu os 10 dedos de dilatação fizeram-lhe o parto normal. «Já não aguentava. Sentia-me cansada, exausta com tantas dores…», desabafa aquela que acabou por levar epidural, apesar do problema da trombocitopénia. «Questionei, mas ignoraram-me. Fizeram-me assinar o termo de responsabilidade só depois da injeção.»

Fraca, ansiosa e exausta, Ana não percebia por que razão não avançaram para cesariana. «Afinal também não podia levar epidural por causa das plaquetas baixas e depois acabei por levar… Ninguém me ajudou! Só pedia para terminar o meu sofrimento!»

O marido, João, de 27 anos, esteve com a mulher na hora do parto difícil. Foram momentos de grande tensão e sofrimento. «Fazia força, mas o bebé não saía. Acabou por nascer… mas cortaram-me TODA. Só tremia de frio a escaldar em febre. Perderam o controlo da situação e começaram a gritar para chamar a obstetra e a pediatra.»

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