Hospitais estão a despedir enfermeiras em plena crise de Covid-19

Duas enfermeiras foram despedidas. Uma das profissionais estava em plena baixa por ter contraído infeção respiratória em serviço e outra por recusar-se a trabalhar sem material de proteção.

Hospitais estão a despedir enfermeiras em plena crise de Covid-19

Uma enfermeira do Hospital São João recebeu carta de despedimento em plena crise epidémica e quando ainda se encontrava com baixa médica. A profissional, que não quer identificar-se por temer represálias, explica ao Portal de Notícias da Impala que a justificação na carta recebida referia «inadaptação» em período experimental. Contudo, a enfermeira recusa a justificação, pois, segundo conta, foi «pressionada a interromper a baixa» e «ameaçada com despedimento caso não acatasse as ordens» da superior hierárquica.

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Enfermeira afirma ter cumprido sempre turnos e horas a mais, sem que o seu profissionalismo tenha alguma vez sido posto em causa

A enfermeira deveria regressar ao serviço «na próxima semana» ao São João, hospital onde se encontra a maioria dos pacientes internados com Covid-19. O Portal de Notícias contactou a direção do Hospital São João, que referiu que o despedimento se prendeu com «avaliação negativa da profissional em causa». Tese refutada pela enfermeira, que afirma ter feito «sempre turnos e horas a mais», sem que o seu «profissionalismo tenha alguma vez sido posto em causa».

Medicina Interna do Hospital São João é um dos que regista maior taxa de absentismo

Segundo apurámos, o serviço de Medicina Interna do Hospital São João é um dos que regista maior taxa de absentismo. «Os jovens internos e os enfermeiros não querem trabalhar na Medicina Interna. É um dos serviços mais problemáticos a nível de ambiente de trabalho e também um dos mais pesados. Há, por isso, muito absentismo», confirma uma médica daquela unidade hospitalar que também não quis identificar-se.

Dispensada por recusar-se a trabalhar sem material de proteção

Ana Rita Cavaco, Bastonária da Ordem do Enfermeiros, afirma-nos que uma outra enfermeira foi despedida por ter-se recusado a trabalhar sem material de proteção. «É uma profissional de um hospital do Norte do país, mas não do São João», situa. Para a responsável, estes dois casos são «um completo absurdo». «Não é sensato despedir enfermeiros nesta altura. É desnecessário e um completo absurdo», reforça. Contundo, a Ordem dos Enfermeiros não consegue impedir esses despedimentos, embora esteja a reportá-los ao Ministério da Saúde.

Ordem dos Enfermeiros pediu reforço

No passado dia 16 de março, a Ordem dos Enfermeiros pediu reforço de profissionais. Em comunicado, lançou um apelo «a todos os enfermeiros que tenham experiência em cuidados intensivos que se encontrem em unidades de cuidados de saúde primários e que possam, temporariamente, em regime de mobilidade, reforçar as unidades de cuidados intensivos, bem como a todos os enfermeiros que se encontrem desempregados e que possam, de imediato, reforçar as unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI)».

Ana Rita Cavaco diz que a Ordem «tem recebido muitas disponibilidades de enfermeiros» e que está a reencaminhã-las para o Ministério da Saúde. Quanto à falta de material de proteção, «o cenário mantém-se». «Do que sabemos, os enfermeiros não estão a trabalhar sem proteção, mas a usar a mesma máscara durante vários turnos. As máscaras têm duração limitada e não podem ser usadas depois de um contacto com um caso positivo para Covid-19», conclui.

Texto: Cynthia Valente | WiN Porto; com Luís Martins | WiN Lisboa

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