Amiga de Amélia Fialho: «Via-lhe nódoas negras e ela chorosa dizia que tinha sido a filha»

Iuri Mata não prestou declarações e o advogado deste alega que o genro de Amélia Fialho está sob o efeito de medicação, não tendo sido possível retirar-lha a tempo do julgamento.

Diana Fialho, de 24 anos, e Iuri Mata, de 27, estiveram esta manhã na sala de audiências do Tribunal de Almada.O julgamento foi interrompido para almoço e retomou sessão às 16h.

Os dois arguidos estão acusados de um crime de homicídio qualificado e um crime de profanação do cadáver de Amélia Fialho, de 59 anos. Iuri Mata não prestou declarações, por estar sob efeito de medicação, que não foi possível retirar a tempo do julgamento, afirma o advogado do marido de Diana Fialho. Diana Fialho também não prestou declarações.

No intervalo do julgamento, Diana Fialho falou com a irmã, que também assistiu à audiência. «Eu não fiz nada», disse a arguida a chorar, segundo o Observador.

No início do julgamento, a irmã de Diana Fialho foi autora de uma cena de choro descontrolada tendo até sido chamada à atenção pelo presidente do coletivo de juízes. Diana, pelo contrário, mostrou-se calma e até sorridente.

O julgamento de Diana Fialho e Iuri Mata continua na próxima terça-feira, dia 9 de julho.

Primo de Amélia quer que Diana fique sem o apelido

João Carraça, primo da professora de físico-química, foi a primeira testemunha a ser ouvida. Quer reclamar a herança e pede que Diana perca o apelido Fialho, ficando com o ‘Rodrigues’, o seu nome até ser adotada pela professora do Montijo. Este primo, contudo, admite um relacionamento pontual com Amélia e diz que nem sequer conhecia os arguidos. A tia Laura Fialho e o primo de Amélia Fialho constituíram-se assistentes no processo, pedindo aos alegados homicidas uma indemnização de 100 mil euros.

«Na varanda, havia roupa e sapatos com um cheiro a lixívia»

O segundo testemunho cabe a Fátima Mira, inspetora da Polícia Judiciária, do departamento de investigação criminal de Setúbal. Foi esta quem esteve no local onde o corpo foi carbonizado e na casa onde viviam a vítima e os arguidos.

«Após três horas no local do cadáver refiro que olhando para o pé, a única parte do corpo que não ardeu, pareceu-me ser uma mulher pelas unhas do pé pintadas», descreve Fátima .

«Na varanda, havia roupa e sapatos com um cheiro a lixívia», disse, acrescentando que eram peças de Iuri e Diana. Já no interior da casa, «notava-se um cheiro muito ativo a incenso». Foi ainda encontrado sangue «no teto, no corrimão, numa máquina de costura» e ainda em «papéis manuscritos assinados pela Diana».

Fátima Mira explica que os óculos da professora, a carteira – que não tinha os documentos – e a arma do crime, foram atirados ao Rio Tejo. O ex-casal parou na ponte Vasco da Gama e foi dali que atiraram os pertences. Ainda segundo a inspetora, foi Iuri quem, durante a reconstituição, lhe mostrou todos os locais. O genro da vítima ter-se-à dito «arrependido». Os documentos foram encontrados numa segunda busca, envoltos em papel higiénico, atrás de um autoclismo. 

O martelo usado no crime nunca foi encontrado, assim como o telemóvel.

Terceira testemunha fala em queixas anteriores

Vítor Paiva, coordenador do departamento de investigação criminal da PJ de Setúbal, é a terceira pessoa a prestar declarações. Tal como Fátima Mira, reitera que após descobrirem o corpo, quando foram a casa da vítima, se depararam com sangue que podia ser visto a olho nu, tanto na casa em si como nas roupas do ex-casal. «Houve um processo anterior, uma queixa apresentada pela mãe», explicou Vítor Paiva.

«Para uma mãe desaparecida, não estava muito afetada»

A mãe da inquilina de Amélia Fialho foi outra das testemunhas. Disse que Diana, depois do desaparecimento da mãe, se deslocou ao prédio com o então marido e pediram a renda adiantada. «Para uma mãe desaparecida, não estava muito afetada», afirma.

 

Arguidos requerem instrução

Os arguidos requereram a abertura de instrução, mas, em 10 de maio, o juiz de instrução criminal (JIC) Carlos Delca, do Tribunal de Instrução Criminal do Barreiro, decidiu levá-los a julgamento nos exatos termos da acusação do MP.

O juiz sublinhou que existem “indícios mais do que suficientes” para os levar a julgamento, tais como o cadáver encontrado, as imagens de Diana Fialho e Iúri Mata a comprar gasolina e um isqueiro, as roupas do arguido, o sangue encontrado na casa onde residiam e o relatório policial do ADN da vítima nas roupas dos arguidos.

Segundo o despacho de acusação do MP, os arguidos “gizaram um plano” que consistia em matar Amélia Fialho, mãe adotiva da arguida, pois a relação entre ambas “era marcada por discussões e desacatos constantes, por causa da relação amorosa entre os arguidos”.

O MP conta que foi no seguimento do plano que ambos os arguidos tinham criado, que, em 1 de setembro de 2018, ao jantar, o casal colocou na bebida da vítima “fármacos que a puseram a dormir” e, de seguida, desferiu “vários golpes utilizando um martelo”, que causaram a morte da professora.

Após o homicídio, relata a acusação, os arguidos embrulharam o corpo da mãe adotiva de Diana Fialho, colocaram-no na bagageira de um carro e deslocaram-se até um terreno agrícola, no qual, com recurso a gasolina, “atearam fogo ao cadáver”.

Foi em 7 de setembro de 2018 que a filha adotiva e o genro da vítima foram detidos e presentes a tribunal, o qual decretou a medida de coação de prisão preventiva. A arguida está no Estabelecimento Prisional de Tires, enquanto o homem no do Montijo.

A vítima, de 59 anos e professora de Físico-Química na Escola Secundária Jorge Peixinho, no Montijo, foi encontrada morta em 05 de setembro de 2018, em Pegões, no concelho do Montijo, distrito de Setúbal.

«Ela manipulou a mãe ao ponto de a pôr contra mim».

A professora de físico-química na escola Jorge Peixinho e amiga de Amélia Fialho, Maria Filipa Sousa, foi professora de Diana no 11.º ano. «Como aluna era razoável de notas. Notava que tinha alguma ambição que não conseguia alcançar. Ela não teve uma nota ao agrado dela e eu dava-me muito bem com a Amélia. Ela manipulou a mãe ao ponto de a pôr contra mim. A Amélia achava que eu lhe tinha dado a nota de forma errada, para prejudicar a Diana», disse.

A professora diz que achou estranho quando viu o apelo nas redes sociais após o desaparecimento de Amélia e percebeu que Diana falava da mãe já no passado. «Às vezes via-lhe nódoas negras e ela chorosa dizia que tinha sido a filha», conta.

«Notava nos últimos meses antes da morte a Amélia já não era a mesma, mais triste, mais fechada. A alegria dela tinha desaparecido. Uma vez também me chamou à noite para ajudar num episódio em casa, com a filha. Tinha havido uma grande discussão e tinha sido agredida fisicamente pela Diana», continua a explicar. Segundo a professora, Amélia dizia: «Se algum dia me acontecer alguma coisa pensem logo que os autores podem ser eles».

«Quando estava sentida dizia que ia mudar o testamento e isso assustava a Diana. No inicio quando se juntaram faziam tudo certinho. Ajudavam a Amélia e aí ela mudou o testamento deixando tudo a Diana. Nos últimos dias antes da morte, insatisfeita, ameaçou mudar o testamento», alega Maria Sousa. A amiga de Amélia revela ainda que a professora terá dito: «Eu quero adotar uma criança porque eu quero muito ser mãe para ter alguém a quem deixar os meus bens».

Diana acena com a cabeça na negativa quando Maria Sousa afirma que Amélia sustentava o casal.

Julgamento recomeçou com mais de duas horas de atraso

Diana Fialho e Iuri estão muito próximos no recomeço do julgamento. Maria da Conceição Carraça, prima de Amélia começa a ser ouvida. A prima de Amélia diz que a professora lhe chegou a contar que Diana a agredia e que era um pouco rebelde.

Helena Maria é a segunda testemunha. É ex-mulher do assistente, primo de Amélia Fialho. Diz que os primos tinham uma relação normal e que se encontravam nas épocas festivas.

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