Obesidade foi relegada para segundo plano por ser considerada uma doença benigna

A pandemia teve impacto no tratamento da obesidade que, por ser considerada uma doença benigna, foi relegada para segundo plano, com impacto nas consultas, exames e cirurgias, segundo o vice-presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade.

Obesidade foi relegada para segundo plano por ser considerada uma doença benigna

A pandemia teve impacto no tratamento da obesidade que, por ser considerada uma doença benigna, foi relegada para segundo plano, com impacto nas consultas, exames e cirurgias, segundo o vice-presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade. Apesar da obesidade estar na origem de doenças cardiovasculares, diabetes e cancro, o cirurgião António Albuquerque disse que o seu tratamento teve “um problema acrescido” na pandemia por ser considerada uma “doença benigna”.

Por esta razão, explicou, “acabou por ser relegada para segundo plano no que diz respeito ao tratamento da obesidade, nomeadamente no tratamento cirúrgico” que foi considerado não urgente. “Vários hospitais do país viram a sua atividade suspensa em relação a estas cirurgias”, disse António Albuquerque que falava à Lusa a propósito do ‘webinar’ “Obesidade — A pandemia esquecida”, que se realiza hoje e assinala o Dia Mundial da Obesidade, a 04 de março.

Segundo o cirurgião, não há dados oficiais sobre quantas cirurgias ficaram por fazer, mas sublinhou que o acesso a consultas, exames e cirurgias “sofreram com a gestão da pandemia e com a organização dos serviços”. “Houve dificuldades de acesso à realização da cirurgia de obesidade porque os blocos operatórios estiveram vocacionados para o tratamento de situações oncológicas, que é compreensível, mas feitas as contas, no final destes dois anos de pandemia houve um avolumar das listas de espera, adiantou.

Questionado se os hospitais já conseguiram recuperar as cirurgias que ficaram por fazer, o cirurgião do Hospital Curry Cabral, que integra o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC), disse que as “realidades são distintas” consoante os Centros de Responsabilidade Integrado de Obesidade (CRIO), unidades com autonomia funcional que estabelecem um compromisso de desempenho assistencial e económico-financeiro negociado para um período de três anos.

Os CRI mais antigos, como o do Centro Hospitalar e Universitário de S. João, já conseguiram recuperar. “Como no Curry Cabral só somos Centro de Responsabilidade desde junho do ano passado fomos ainda muito apanhados por estas decisões que são muito transversais ao serviço e ainda não conseguimos fazer a recuperação de listas de espera, nomeadamente em regime de SIGIC que faz com que estes doentes possam ser operados em regime adicional”, explicou.

No final de 2020, o hospital ainda tentou começar a recuperar algumas cirurgias, mas o evoluir da pandemia obrigou a parar. “Estivemos até março sem operar e quando retomámos foi apenas com atividade programada normal”, disse, sustentando: “Somos a unidade em Lisboa que mais doentes operávamos e vamos continuar a operar, mas sofremos bastante com a pandemia”.

Apontou como positivo o facto de terem conseguido manter alguma atividade em cirurgia robótica da obesidade: “Temos neste momento 70 cirurgias’ by-pass’ realizadas via robótica, mas se não estivéssemos parados durante seis meses provavelmente essas 70 seriam 210”.

No CRIO do Hospital S. João, as cirurgias estiveram paradas cerca de seis semanas, disse à Lusa o diretor do centro, Eduardo Lima da Costa. “Naquele pico da pandemia quando fomos todos obrigados a parar também o Hospital São João teve que reduzir a sua produção cirúrgica e uma das que parou foi a cirurgia bariátrica que, entretanto, fomos recuperando”, disse o cirurgião.

Eduardo Lima da Costa explicou o valor que estava contratualizado foi ultrapassado no final de 2021, com 600 cirurgias realizadas, um número que pretendem aumentar para 740 este ano e para 814 em 2023. “Nesse aspeto conseguimos recuperar e a pandemia não foi um obstáculo”, disse, salientando que a situação até acabou por ajudar, porque deu “algumas tréguas” em termos de referenciação. “Na fase mais crítica da pandemia e durante quase todo o ano passado, tivemos uma referenciação dos cuidados de saúde primários muito inferior, o que nos permitiu arrumar a casa e gerir, mantendo a produção cirúrgica e deixar as coisas bastante equilibradas”, salientou.

Desde o início deste ano, a situação inverteu-se: “Quase todas as áreas do Hospital São João sofreu um acréscimo de consultas nesta fase de estabilização da pandemia e a obesidade foi a área que mais impacto teve nesse crescimento”.

 

 

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