Covid-19: Confinamento travou crescimento exponencial da variante do Reino Unido
As medidas de confinamento travaram o crescimento exponencial em Portugal da variante do vírus SARS-CoV-2 identificada no Reino Unido, disse o investigador João Paulo Gomes, do INSA.
As medidas de confinamento travaram o crescimento exponencial em Portugal da variante do vírus SARS-CoV-2 identificada no Reino Unido, disse hoje o investigador João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
“Em janeiro fizemos uma projeção a três semanas que indicava que na semana seis — a semana passada — cerca de 65% dos novos casos fossem provocados por esta variante. Tal não aconteceu graças ao confinamento. Os dados indicam que temos cerca de 48% dos novos casos provocados por esta variante e sem uma tendência crescente”, afirmou o especialista do INSA, notando que no Reino Unido já se estima uma prevalência desta variante superior a 90%.
Numa intervenção proferida na reunião que junta epidemiologistas e especialistas em saúde pública e a classe política na sede do Infarmed, em Lisboa, João Paulo Gomes destacou ainda que esta variante já foi identificada em 80 países, incluindo todos os estados-membros da União Europeia, enquanto as variantes identificadas na África do Sul e no Brasil foram apenas identificadas em 40 e 17 países, respetivamente.
A partir de dados do laboratório Unilabs, que já detetou 52.862 casos com esta variante reportada no Reino Unido, o INSA estimou que entre 01 de dezembro de 2020 e 21 de fevereiro de 2021 o total de casos de covid-19 associados a esta variante tenha ascendido a quase 150 mil.
No entanto, o investigador do INSA alertou que com o futuro desconfinamento será expectável uma recuperação do ritmo de crescimento de infeções por esta variante, por ser mais transmissível. João Paulo Gomes observou que o ‘planalto’ de valores encontrado nas últimas semanas se deve à limitação dos contactos sociais por força do confinamento.
“Bloqueando os processos de transmissão secundária, uma variante mais transmissível terá perdido essa vantagem face às outras e isso pode explicar a ausência de crescimento. Quando desconfinarmos, ela vai continuar cá e o normal é que possamos assistir a um novo crescimento exponencial. Há que estabelecer um equilíbrio entre o desconfinamento e a imunidade de grupo tão desejada, que será atingida com o processo de vacinação massiva, mas também pelos milhares de portugueses que já foram infetados”, referiu.
Sete casos da variante do Brasil em Portugal
Em relação às outras variantes, nomeadamente as variantes conhecidas como sul-africana e brasileira, o perito do INSA referiu que se mantêm os quatro casos em Portugal associados à mutação detetada na África do Sul e que foi anunciada no domingo a deteção de sete casos da variante do Brasil, habitualmente reportada à região de Manaus.
“Trata-se de casos recentes e esta informação foi passada imediatamente às autoridades de saúde. Apesar de se tratar de sete casos, não estamos a falar de sete introduções distintas; é uma única introdução, referimo-nos a dois ‘clusters’ familiares ligados entre si – uma mesma cadeia de transmissão. E isso é uma boa notícia”, salientou.
João Paulo Gomes revelou ainda que o INSA está a avançar com um novo rastreio massivo de sequenciação e que está a ser reforçada a capacidade instalada a este nível, com a extensão ao consórcio Genome PT. Paralelamente, indicou uma “modificação da estratégia”, que passa pelo envio semanal e não mensal de amostras de casos positivos, que serão sujeitos a uma nova testagem com sondas para mutações específicas.
Em Portugal, morreram 16.023 pessoas dos 798.074 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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