Salvador Sobral pede para ninguém comprar o livro “Salvador Sobral Coração de Herói”

Salvador Sobral pede em vídeo para não comprarem o livro “Salvador Sobral Coração de Herói”. “Nem falaram comigo”, queixa-se o vencedor do Festival Eurovisão com o tema “Amar Pelos Dois”.

Salvador Sobral Coração de Herói é o título do livro de Maria Milene Tavares, consultora de comunicação. Salvador Sobral insurge-se contra o livro, critica o “trocadilho entre o título” da obra e a sua condição clínica difícil, uma doença de coração que pode mesmo levá-lo a ter de transplantar o órgão vital, e até questiona a legalidade da obra não autorizada.

O livro está à venda nas principais livrarias do Pais pelo valor aproximado de 14 euros

Em vídeo, o vencedor do Festival Eurovisão deste ano, com Amar Pelos Dois, da autoria da irmã, a também cantora Luísa Sobral, apela a que ninguém compre o livro, da forma irónica a que nos vem habituando.

“Se quiserem, podem comprar o livro” Salvador Sobral Coração de Herói. Mas eu não vou comprá-lo”, garante

O livro fará “uma abordagem pessoal de Salvador”, sobre “a essência do ser humano que é, e que transporta para o seu lado profissional”, considera a autora. A consultora de comunicação, de 42 anos, “não falou com Salvador. “Parece que podem escrever um livro sobre mim, só por se figura pública, mas ninguém falou sequer comigo”, acusa.

Os primeiros capítulos de Salvador Sobral Coração de Herói serão “uma espécie de pré-fama-Eurovisão”: o “sangue azul”, o “beto que saiu da caixa”, a “fuga para Espanha”, “as noites loucas de Maiorca”, o “dinheiro fácil”, o “consumo de cogumelos”, os “estudos de música em Barcelona”, a “descoberta de Chet Baker” e “o primeiro disco”, segundo Maria Milene Tavares.

Do livro, à venda por perto de 14 euros, publicamos este excerto, a que tivemos acesso. Trata-se do sexto capítulo, que transcrevemos aqui na íntegra

livro salvador sobral coração de herói
De acordo com a autora, a obra abordará o “sangue azul”, o “beto que saiu da caixa”, a “fuga para Espanha”, “as noites loucas de Maiorca”, o “dinheiro fácil”, o “consumo de cogumelos”…

“Salvador em Todo o Lado: os dias caóticos depois do festival, o súbito interesse das rádios, elogios vindos de um génio, as primeiras polémicas e um fenómeno a galgar fronteiras

E, de repente, tudo mudou na vida de Salvador Sobral.

Dos pacatos concertos em bares para as capas das revistas cor-de-rosa, do obscuro mundo do jazz para as playlists de todas as rádios, do reconquistado anonimato para entrevistas em vários canais de televisão, Portugal inteiro queria saber mais sobre Salvador Sobral, o rapaz com voz de anjo que recebia elogios de todos os lados.

Em entrevista à RTP, o cantor disse que foram dias caóticos, tanto exterior, como interiormente. O jovem que tinha fugido da fama perguntava -se o que estava ali a fazer, no meio de um furacão mediático, a responder a entrevistas de rádios que antes nem queriam falar com ele, o que resultou num sentimento agridoce.

A semana após a vitória no festival foi bastante estranha e irreal. Mas daqui também resultaram situações claramente positivas. O disco que Salvador tinha lançado no ano anterior sem deixar marcas foi redescoberto pelo público e atingiu o top de vendas.

Os convites para concertos aumentaram exponencialmente, com muito mais datas do que aquelas que estavam inicialmente previstas e as salas esgotadas, como contou na altura à Notícias Magazine: “Vou ter mais oito ou dez datas do que teria: Pombal, Sesimbra, Seixal, Faro, Castro Verde, Cartaxo, Ílhavo, CCB, Casa da Música, Convento de São Francisco em Coimbra. E outros. Vou aproveitar.”

Salvador nunca se coibiu de dizer tudo o que pensa. Num estilo descontraído e desconcertante, surpreendeu tudo e todos. Com a sua personalidade genuína, a sua crença de que o que importa é a música e não o embrulho, expôs a superficialidade do mundo de estrelas instantâneas que desaparecem numa questão de meses. Salvador Sobral é um músico a sério que leva a música a sério. A vitória ocorreu num dia especial para os crentes católicos, o 13 de maio, mas Salvador não precisou de um milagre. Um milagre, e uma grande injustiça, teria sido se ele não ganhasse. Só que desta vez, no final, as lágrimas portuguesas foram todas de alegria. As lágrimas de um povo que, devagar, está a aprender a amar-se a si mesmo. Como escreveu Miguel Esteves Cardoso: «Viva Salvador Sobral! Que nunca mais pare quieto.»

Aproveitar era a palavra certa. E babar -se um bocadinho, com boas razões para isso, quando o genial Miguel Esteves Cardoso lhe dedicou uma crónica superelogiosa no Público. O escritor foi dos primeiros a dar voz ao sentimento de espanto perante a atuação de Salvador.

O talento de Salvador não era novidade para MEC, que escreveu entusiasticamente dois dias após o triunfo no festival: “A voz dele é límpida e aérea. Tem uma musicalidade irrequieta que se atreve a cantar por cima do canto. Canta como se toda a música dependesse dele. Cada canção é um tudo ou nada. […] Salvador Sobral é esse artista desde que o ouvi cantar pela primeira vez. Fez -me logo lembrar, pela sensibilidade e pela abertura musical, o jovem Frank Sinatra quando tinha a mesma idade.”

Salvador estava a aprender a lidar com o reconhecimento e quando leu a crónica nem queria acreditar: “Como é que é possível o Miguel Esteves Cardoso escrever sobre mim. […] Tenho quase vergonha de ler essas palavras tão bonitas sobre mim. […] É uma sensação estranha mas agradável», disse à RTP.

Nas muitas entrevistas que deu, Salvador falou sempre sem filtros, sem calculismos ou hipocrisia.

Na entrevista à Notícias Magazine, dada em conjunto com Lena D’Água à jornalista Alexandra Tavares-Teles, falou sem preconceitos sobre bissexualidade: “Sabem, tenho alguma curiosidade pela bissexualidade. É uma forma de amor que nem sequer olha a sexos. É o máximo do amor. Nunca consegui amar um homem.”

Falou também sobre o consumo de drogas no passado. Esta candura e à –vontade eram desarmantes e, ao mesmo tempo, perigosos, como Salvador já estava a perceber: “As pessoas têm de mim uma ideia errada.”

E embarcou igualmente em jogos de fama cujos resultados avaliados a posteriori poderiam ser nefastos. Numa participação no programa da RTP 5 para a Meia-Noite, aceitou o desafio de uma rubrica intitulada “Pressão no Ar”, em que o convidado tem de responder às perguntas com a primeira coisa que lhe vier à cabeça.

Questionado sobre o seu palavrão preferido respondeu em italiano com um “porca puttana!” e desafiado a dizer com que músico português nunca trabalharia nem sequer hesitou: Toy.

Começaram a surgir as polémicas e as pseudopolémicas tão comuns no mundo do entretenimento e essenciais para o espetáculo da vida real que tanto cativa o público.

Criou-se uma linha a separar os que viam em Salvador um rapaz simples e genuíno e os que viam na sua pose e no seu discurso alguma coisa de artificial, criada para despertar a simpatia e o carinho do público.

Mas Salvador nunca se conteve no que tinha para dizer, mesmo que isso fosse considerado inconveniente e inde[pendentemente das circunstâncias.

 

Uma "jornalista espanhola que o entrevistou ficou deliciada com este “ser original, tão angélico quanto irónico. Um desses músicos que fazem falta no mundo previsível da atual música popular”, e rematava em grande: “Salvador, qué buen nombre tienes.”
“Uma jornalista espanhola ficou deliciada com este ser original, tão angélico quanto irónico: ‘Salvador, qué buen nombre tienes’.”

Ao jornal espanhol El País, contou um episódio divertidíssimo que revela o Salvador traquinas e de coração na boca que seduz os seus fãs pela autenticidade: “Um dia estávamos a tocar uma balada, “Nem Eu” [do músico brasileiro Dorival Caymmi], e no fim fez -se essa pausa preciosa antes dos aplausos, esse momento que eu adoro, e as pessoas desataram logo a aplaudir como loucas. Eu disse, bem, fez -se um silêncio incrível, ainda bem que ninguém se peidou. Alguns riram-se, mas as pessoas não sabiam como reagir. Sou muito inconveniente, sempre fui, e também inoportuno. Não penso no que digo. Mas esse também é o espírito do jazz, o improviso, aquilo que te sai.”

A jornalista espanhola que o entrevistou ficou deliciada com este “ser original, tão angélico quanto irónico. Um desses músicos que fazem falta no mundo previsível da atual música popular”, e rematava em grande: “Salvador, qué buen nombre tienes.”

Só que agora Salvador já não estava a falar para meia dúzia de melómanos ou curiosos. As suas declarações, mesmo as aparentemente mais inofensivas, passaram a ter um alcance brutal. É fácil dizer tudo o que se pensa quando sabemos que ninguém nos está a ouvir. A questão, para Salvador, era ser autêntico e dizer o que lhe passava pela cabeça, mas sabia que a partir daquele momento qualquer coisa que dissesse passava a ser amplificada e mesmo distorcida.

Quando finalmente tinha encontrado a sua personalidade e já sabia quem era de um ponto de vista pessoal e musical, Salvador teve de se confrontar novamente com a pressão desmedida da comunicação social e das redes sociais. Assediado pela imprensa e pelos comentadores das redes sociais, Salvador sabia que era fundamental lidar com alguns aspetos da exposição e ignorar outros, como os comentários maliciosos e azedos que pululam por toda a Internet. Disse que não estava nas redes sociais e que os perfis eram oficiais e geridos pela sua representante, que lhe passava apenas as mensagens positivas, resguardando-o das críticas mais destrutivas. Quando ia ao YouTube ver os vídeos, adotara como lema não ler os comentários.

Ainda assim, como não é possível viver numa bolha, algumas coisas negativas que diziam sobre ele, mesmo que filtradas, acabavam por lhe chegar, como confidenciou ao El País: “Hoje não me preocupa tanto o que dizem sobre mim porque tenho a certeza de quem sou. Claro que às vezes me afeta um bocado. Quando dizem coisas que não são verdade. Por exemplo, que o Salvador é um pedante, o que não está certo, não está… Isso tira-me quatro segundos de tranquilidade e depois esqueço. Por exemplo, no outro dia disse que a nossa canção – não sei porque é que o disse – era um bife tártaro no meio dos hambúrgueres. Então disseram logo que eu era prepotente. E eu disse que era um bife tártaro por dois motivos: por um lado, é uma canção crua; por outro, é um pouco mais sofisticada, e alguém com um pingo de sensibilidade tem necessariamente de o sentir. E então as pessoas diziam, ah, então se não sinto a tua canção sou insensível.”

Como se vê, mesmo relativamente afastado das redes sociais, Salvador corria o risco de se desgastar com todas estas polémicas e assuntos que, de tempos a tempos, ganham proporções inimagináveis e incendeiam a Internet.

“Salvador tinha de encontrar forma de manter a sanidade num ambiente que à sua volta era de loucos. Uma loucura que, apesar disso, gerava um tipo de abordagem na rua muito diferente das abordagens dos tempos do Ídolos”

Se a canção tinha conquistado muitos fãs, também havia um grupo de haters dedicados a denegrir Salvador e a sua música. Estes ataques incompreensíveis e cheios de azedume mereceram uma resposta do humorista Bruno Nogueira, que saiu em defesa de Salvador: “Chegado do estrangeiro, vejo as habituais “polémicas” e fogos florestais de Facebook e Internet em geral. Ao que me dão a perceber, houve zaragata cibernética por causa do Festival da Canção. Vista de longe, a equação é fácil de entender. O Salvador Sobral tem talento de sobra, carisma, e uma personalidade mais do que bem definida. Para seu grande azar, acresce ainda o facto de parecer ser um tipo culto e com bom gosto. É por isso bastante revelador e previsível que num mundo de fenómenos descartáveis esta mistura seja difícil de digerir. Mas, felizmente, isso passa ao lado de quem sabe para onde aponta. Caramba, como é difícil gostar do peixe que vive fora do cardume.”

Salvador tinha de encontrar forma de manter a sanidade num ambiente que à sua volta era de loucos. Uma loucura que, apesar disso, gerava um tipo de abordagem na rua muito diferente das abordagens dos tempos do Ídolos.

Agora as pessoas queriam agradecer -lhe pelas emoções que transmitia na canção, dar-lhe os parabéns pela interpretação e desejar -lhe boa sorte para o Festival da Eurovisão. Nada a ver com as perguntas intrusivas do passado. Salvador sentiu -se confortável com essa exposição mais diretamente relacionada com o seu trabalho enquanto artista e não por qualquer criação televisiva de um fenómeno efémero. O sucesso galgara fronteiras e não estava restrito ao nosso retângulo.

No estrangeiro, “Amar pelos Dois” conquistava fãs a um ritmo diário, com milhares de visualizações no YouTube, e já estava no 4.º lugar das casas de apostas para a Eurovisão.

Este sucesso repentino, depois de anos de estudo afincado e de trabalho na sombra, encontrou um Salvador muito mais maduro, que nunca perdeu o sentido da realidade.

Por exemplo, não lhe escapou a ironia de ser a televisão, da qual tinha fugido, a pôr os holofotes no seu trabalho discreto: “É paradoxal que eu, que fugi da fama, me veja agora imerso neste festival que é cume da música Popular”, disse ao jornal espanhol.

Ironias do destino à parte, para Salvador, o festival já tinha sido uma vitória. A generalidade do público tinha ficado a conhecê -lo, o interesse no seu trabalho aumentara e os convites também. O músico sempre se declarou grato ao festival e a tudo o que o evento lhe proporcionara. Só que ainda faltava uma parte fundamental do percurso: levar a canção, cada vez mais bem cotada, a Kiev. E uma grande sombra pairava sobre Salvador e todos os que o rodeavam. Estaria ele em condições físicas de aguentar as exigências da viagem e do festival?”

Texto: Luís Martins | WIN

 

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