Slávia do Big Brother: «Tentei sempre por o tópico do racismo em cima da mesa»

Slávia, a última concorrente expulsa do Big Brother, diz que nunca sentiu discriminação/racismo dentro da casa. Mas sentiu-se esquecida em certas situações.

Slávia do Big Brother: «Tentei sempre por o tópico do racismo em cima da mesa»

Slávia, a concorrente expulsa da casa do Big Brother este domingo, 14 de junho, entrou no programa da TVI para representar as «mulheres negras e crespas». Para lhes dar voz e reeducar as pessoas sobre a sua cultura.

A empresária define-se como uma mulher causas e a representatividade é uma delas.

Confessa que durante o programa nunca se sentiu discriminada ou vítima de racismo. Mas diz que se sentiu esquecida por causa do episódio da ‘maquilhagem’.

Logo no primeiro dia que os concorrentes entraram dentro da casa, as mulheres foram presenteadas com vários produtos de maquilhagem. No entanto, eram todos indicados para peles brancas. Slávia, mulher negra, teve de reclamar e apontar o erro à produção, que se tinha esquecido dela.

«Senti a nível comportamental um tratamento igualitário dentro da casa. Mas se me perguntarem o que senti quando cheguei e não encontrei make up para mim… isso foi um fator que me fez sentir esquecida. Não pus logo a questão da discriminação em cima da mesa, porque houve oportunidade de falarmos e ‘retratamento’ (colocaram depois a maquilhagem indicada para mim)», começa por dizer em entrevista à NOVA GENTE.

«Dei a volta à questão, meio a brincar com a situação. Sempre que for possível falar com seriedade, falamos. Mas sempre que for possível educar, ou reeducar, através de uma conversa mais sã e a brincar e a falar com calma, assim o faremos», explica.
Apesar de ter sido expulsa a meio do reality show, Slávia acredita que conseguiu passar a sua mensagem.

«Acho que defendi uma causa logo ao entrar, a representatividade», diz.

«O facto de estar lá dentro como uma mulher com as caraterísticas que tenho, negra e crespa. Só o facto de ter entrado mostra a representatividade, que é um valor muito importante para mim. E essa representatividade pode, muitas vezes, começar com coisas pequenas como a entrada num reality show, mas que a nível social podem ter impacto. E espero que isso aconteça, não só comigo, mas através de mim», afirma.

Sobre a morte de George Floyd, o negro assassinado por um polícia – e a revolta que isso causou no mundo inteiro -, a ex-concorrente de BB tem pena de não ter sido informada para poder ser mais uma voz ativa e pública na luta contra o racismo.

«Tenho pena que esse assunto não me tenha chegado lá dentro da casa (como outros chegaram) para que possamos ter conversado sobre isso. Tentei sempre por este tópico do racismo em cima da mesa quando fazia sentido», refere.

Slávia confessa que nem sempre foi a voz mais ativa na luta pela igualdade racial e que se arrepende disso. No entanto, está a fazer o seu caminho e espera ajudar outras pessoas negras a orgulharem-se da sua raça.

«Para uma negra, és bastante bonita»

«Sinto que pequei durante muito tempo por não me ter manifestado tanto ou de uma forma tão alta. Agora estou a fazer a caminhada do meu jeito. E uma das formas que encontrei de o fazer foi a decisão de me tornar crespa e de aceitar a minha identificação e etnicidade através do cabelo. E a agraciá-lo e mostrar que é possível ter-se um cabelo crespo e bonito», explica.

«Outras mulheres e jovens podem identificar-se e rever-se a nível de padrões de beleza. É importante enaltecer as características da raça para que a aceitação seja feita de uma forma muito mais consciente e sem apelarmos ao outro lado, que é o que normalmente vem ao de cima, que é o lado da violência», diz.

Tal «como todas as pessoas negras», Slávia também foi alvo de racismo. Mas de forma «camuflada e inteligente».

«Disseram-me coisas do género, “para uma negra, és bastante bonita”. Situações como, falarem comigo ao telefone e depois quando me vêm não estão à espera de eu ser negra. Quando era adolescente, também, tive situações gratuitas com os clichés do costume do “volta para a tua terra”. Mas sempre soube lidar relativamente bem com isso e foi o que fez, de certa forma, a minha carapaça para os dias de hoje», assume.

Texto: Inês Neves e Ricardina Batista; Fotos: Paula Alveno

 

 

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